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EUA pressionam por cessar-fogo em Gaza com visita de diretor da CIA ao Egito e reunião de Biden com rei da Jordânia

Desembarque de William Burns no Cairo para nova rodada de negociações sobre acordo foi confirmada por fontes familiarizadas com o assunto; proposta foi descrita por premier de Israel como 'delirante'

Agência O Globo - 12/02/2024
EUA pressionam por cessar-fogo em Gaza com visita de diretor da CIA ao Egito e reunião de Biden com rei da Jordânia

O diretor da CIA, William Burns, é esperado no Cairo na terça-feira para uma nova rodada de negociações sobre um potencial acordo, que visa uma trégua nos combates entre Israel e Hamas e a libertação dos reféns em Gaza, disseram fontes familiarizadas com o caso. O tema também deve ser debatido durante a reunião entre o presidente Joe Biden e o rei Abdullah II, da Jordânia, durante sua visita a Washington nesta semana — intensificando a pressão americana por um cessar-fogo temporário. Nesta segunda-feira, logo após um bombardeio israelense ter matado dezenas de pessoas em Rafah e que possibilitou o resgate de dois reféns, o porta-voz do Departamento de Estado americano disse acreditar que um acordo é "possível".

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O esboço — discutido pela primeira vez em Paris entre autoridades israelenses, cataris, egípcias e americanas — foi organizado em etapas e suspenderia os combates por três meses, permitindo a troca de reféns e prisioneiros palestinos, bem como a entrada de ajuda humanitária em Gaza. Os mediadores pareciam satisfeitos e confiantes assim que a proposta foi entregue ao Hamas, que a princípio teria respondido de maneira "positiva". Contudo, ao ser encaminhada de volta para as autoridades israelenses a resposta foi interpretada ao contrário, já que as exigências do grupo foram consideradas inaceitáveis pelo país.

Burns voltaria à mesa de negociações poucos dias após o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ter descrito a contraproposta do Hamas como "delirante" e ordenado ao Exército uma ofensiva contra a cidade de Rafah, no sul de Gaza — ação criticada pelo presidente Joe Biden. Segundo a agência de notícias Axios, autoridades cataris e israelenses também devem participar da reunião, como os diretores do Mossad e do Shin Bet, além do primeiro-ministro do Catar, o xeque Mohammed bin Abdulrahman al-Thani. A agência pontuou ainda que uma delegação do Hamas manteve conversações com autoridades egípcias na quinta-feira sobre a proposta e possíveis formas de avançar.

A defesa de um novo acordo entre as partes por parte do governo americano foi abordada pelo porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller, em uma entrevista coletiva nesta segunda-feira. Aos repórteres, Miller disse reconhecer uma "série de itens realmente insustentáveis na proposta enviada pelo Hamas", mas admitiu crer que um acordo é "possível e vamos continuar buscando-o".

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— Acreditamos que os benefícios de uma pausa e de um acordo para os reféns são enormes, não apenas obviamente para os reféns que seriam deixados voltar para casa, mas também para o esforço humanitário em Gaza e para nossa capacidade de começar a buscar uma resolução real, duradoura e sustentável para esse conflito.

Visita do rei da Jordânia

Na primeira reunião entre os aliados desde o ataque na Jordânia que matou três militares americanos, o rei Abdullah II e o presidente Biden devem abordar "esforços para produzir um fim duradouro para a crise”, segundo a Casa Branca. Grande parte da população do reino é etnicamente palestina, o que coloca a Jordânia — um aliado próximo dos EUA que tem um tratado de paz com Israel — numa posição complicada enquanto enfrenta as consequências da guerra.

O Rei tem solicitado repetidamente um cessar-fogo imediato e a entrega de mais ajuda humanitária para Gaza. Ele liderou uma cúpula na Jordânia no mês passado sobre a situação no enclave e tem trabalhado em conjunto com outros líderes árabes para pressionar pelo fim dos combates.

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A Jordânia e Israel compartilham uma fronteira, além de manterem uma aliança regional crucial. O reino é o guardião do complexo de Aqsa em Jerusalém, local sagrado que é frequentemente uma fonte de disputas com os palestinos — ele inclusive inspirou o nome do ataque terrorista do Hamas, batizado de "Dilúvio de al-Aqsa".

Mas a relação entre os países ficaram mais tensas nos últimos anos. E desde que Israel lançou uma guerra de retaliação contra o Hamas, após o ataque em seu território — que deixou 1,2 mil pessoas mortas e fez 250 reféns, segundo as autoridades israelenses —, o rei Abdullah criticou repetidamente a forma como o país realizou seu ataque. Já são mais de 28 mil pessoas mortas em Gaza desde o início do conflito, segundo as autoridades sanitárias do enclave palestino, controlado pelo Hamas desde 2007.

Pressão americana

Os EUA têm feito críticas contundentes contra Israel desde meados de dezembro, quando Biden alertou Netanyahu de que o Estado judeu estava "perdendo apoio internacional" na guerra, e trabalhado publicamente e nos bastidores para tentar avançar com um acordo de cessar-fogo.

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No sábado, o presidente dos EUA ligou para o premier. Segundo um comunicado da Casa Branca, os líderes teriam discutido "esforços contínuos para garantir a libertação de todos os reféns restantes mantidos pelo Hamas", e que Biden teria pedido "medidas urgentes e específicas para aumentar o rendimento e a consistência da assistência humanitária aos civis palestinos inocentes".

Em paralelo, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, viajou pela quinta vez ao Oriente Médio, na semana passada. Ele visitou Israel, bem como o Egito e o Catar, o principal intermediário com o Hamas, que controla a Faixa de Gaza e mantém um escritório em Doha. Foi logo após uma conversa com o secretário de Estado americano que Netanyahu classificou a proposta como "delirante". Blinken disse que ainda acredita que pode haver consenso, e os funcionários do governo Biden disseram que as negociações continuarão nos próximos dias. (Com AFP e New York Times)