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Escândalo da bolsa Dior da primeira-dama foi 'manobra política' para influenciar eleitores, diz presidente sul-coreano

O incidente lançou uma sombra sobre Yoon Suk-yeol, já que seu Partido do Poder Popular (PPP) conservador está tentando retomar o controle do Parlamento em uma eleição em abril

Agência O Globo - 08/02/2024
Escândalo da bolsa Dior da primeira-dama foi 'manobra política' para influenciar eleitores, diz presidente sul-coreano

O presidente sul-coreano Yoon Suk-yeol disse que o vazamento de imagens da primeira-dama recebendo uma bolsa da Dior de US$ 2,2 mil (cerca de R$ 10,9 mil) como presente foi uma "manobra política", tentando conter o escândalo que agitou os eleitores e irritou a oposição pouco antes das eleições legislativas de abril.

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— O vídeo [foi tornado público] numa altura em que as eleições gerais se aproximam, um ano depois do acontecimento, por isso podemos ver isto como uma manobra política — disse Yoon em entrevista realizada durante o fim de semana e transmitida nacionalmente na quarta-feira pela KBS, indicando que o incidente, descrito por ele como "lamentável", pode ter ocorrido para influenciar a opinião pública.

Até a entrevista, Yoon não havia falado publicamente sobre o vídeo que parece mostrar sua esposa, Kim Keon-hee, recebendo a bolsa de grife das mãos de um pastor coreano-americano chamado Choi Jae-young, em setembro de 2022. O vídeo foi gravado com uma câmera escondida em um relógio de pulso e divulgado no canal do YouTube de um grupo político liberal, o Voice of Seoul. A filmagem mostra Choi visitando Kim em seu escritório pessoal, fora do complexo presidencial, e entregando-lhe o presente.

Parlamentares da oposição afirmaram que a primeira-dama agiu de forma inadequada e pediram uma investigação. O fato de o presidente não ter se desculpado pelo escândalo também foi alvo de críticas.

— A atitude vergonhosa do presidente é inútil — disse o porta-voz do Partido Democrático da Coreia, Kwon Chil-seung. — É difícil dizer por quanto tempo continuaremos a observar a hipocrisia de um presidente que se recusa a admitir a culpa e a pedir desculpas ao povo.

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O incidente lançou uma sombra sobre o presidente, já que seu Partido do Poder Popular (PPP) conservador está tentando retomar o controle do Parlamento em uma eleição em abril, que promete ser uma disputa acirrada. Uma pesquisa realizada entre 21 e 22 de janeiro pelo canal de TV a cabo YTN mostrou que quase 70% dos entrevistados achavam que Yoon precisava abordar a questão.

— O fato de ela não ter sido capaz de rejeitá-lo friamente foi o problema, se é que podemos chamar isso de problema, e é um pouco lamentável — disse Yoon na entrevista à KBS. — Não posso deixar de lamentar isso.

Popularidade em queda

A taxa de apoio a Yoon caiu para o seu nível mais baixo desde abril na última pesquisa semanal de acompanhamento da Gallup Korea, em meio a questões persistentes sobre o incidente. A pesquisa, divulgada na sexta-feira passada, também mostrou que a taxa de apoio ao PPP de Yoon caiu para 34% de 36% na semana anterior, com a taxa para o principal partido da oposição, o Partido Democrático da Coreia, permanecendo inalterada em 35%.

O Partido Democrático está focado na primeira-dama e usou sua maioria no Parlamento para aprovar uma medida em dezembro pedindo uma investigação especial sobre alegações de manipulação de ações. Yoon, no entanto, vetou o projeto de lei e sua esposa negou qualquer irregularidade.

Os presidentes sul-coreanos servem um único mandato de cinco anos, e a eleição de abril determinará se Yoon poderá avançar com sua agenda ou se continuará enfrentando impasses pelos três anos restantes no cargo.

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Se o PPP assumir o controle do Parlamento da oposição, é provável que promova políticas econômicas que incluam contenção de gastos fiscais, restauração do uso de energia nuclear, enfrentamento de sindicatos trabalhistas poderosos, redução de regulamentações sobre negócios e redução de impostos sobre empresas e transações imobiliárias.

O Partido Democrático defende impostos mais altos para ajudar a distribuir mais riqueza nacional via estímulo fiscal. Também deseja reduzir o uso de energia nuclear e está buscando uma aproximação com a Coreia do Norte.

Mudança de paradigma

Durante quase dois anos, Kim desafiou a forma como a sociedade profundamente patriarcal sul-coreana vê o papel da cônjuge presidencial. Ao contrário das primeiras-damas anteriores, que normalmente permaneciam na sombra do marido, ela aproveitou a atenção da mídia e até pressionou publicamente o governo de Yoon a proibir a criação e o abate de cães para consumo humano. Ela falou sobre a devoção do marido por ela, dizendo em 2022 que ele havia prometido cozinhar para ela e "cumpriu essa promessa durante a última década".

Mas Kim também tem frequentemente gerado polêmica, às vezes de maneiras que, dizem os críticos, destacam sua influência indevida sobre o governo.

Em 2021, quando Yoon, um ex-promotor de justiça, fazia campanha para a Presidência, ela pediu desculpas por inflar seu currículo para promover seu negócio de exposições de arte. Depois, houve a divulgação de conversas com um repórter, que a gravou secretamente, em que sugeriu estar profundamente envolvida na campanha de seu marido. Ela chamou Yoon de "um tolo" que "não pode fazer nada sem mim". Ela também declarou que retaliaria contra a mídia hostil "se eu tomar o poder".

Kim também enfrentou acusações de que estava envolvida em um esquema de manipulação de preços de ações antes da eleição de Yoon. Em dezembro, o Parlamento controlado pela oposição aprovou um projeto de lei que teria indicado um procurador especial para investigar as alegações. Yoon, de 63 anos, que assim como Kim, de 51, negou as acusações e vetou o projeto. (Com Bloomberg e NYT.)