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Como a Marinha do Brasil vai comandar força-tarefa contra piratas sem navios no Mar Vermelho? Entenda

Esta é a terceira vez que o Brasil vai comandar a CTF 151, responsável por supervisionar uma área de cerca de oito milhões de quilômetros quadrados em águas internacionais

Agência O Globo - 07/02/2024
Como a Marinha do Brasil vai comandar força-tarefa contra piratas sem navios no Mar Vermelho? Entenda

No fim de janeiro, a Marinha do Brasil assumiu o comando da Combined Task Force (CTF) 151 — Forças Marítimas Combinadas, em português — com a missão de coordenar forças navais multinacionais em operações de combate à pirataria em uma das principais rotas marítimas mundiais, que inclui o Golfo de Áden, a Bacia da Somália e o Mar da Arábia. Mas, com uma frota reduzida e dedicada ao Atlântico Sul, como afinal a Marinha vai atuar na guerra contra a milícia houthi na região do Iêmen?

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O mandato no comando do grupo, que inclui Bahrein, Brasil, Dinamarca, Japão, Jordânia, Kuwait, Paquistão, Filipinas, Nova Zelândia, República da Coreia, Cingapura, Tailândia, Turquia, Reino Unido e EUA, pode variar de três a seis meses. Quem estará à frente da força-tarefa é o contra-almirante brasileiro Antonio Braz de Souza.

Souza vai comandar uma equipe de 23 militares, de 10 diferentes nações, que exercem suas atribuições em uma Base da Marinha dos EUA, localizada em Bahrein. Para possíveis embates navais, a CFT 151 usa dois navios de países aliados, sendo um o Japão e outro da Coreia do Sul. A tropa também conta com helicópteros a bordo, em apoio direto à sua missão, além de uma avião, ambos do Japão, para missões de esclarecimento.

Não há navios brasileiros no grupo pois a frota naval está em período de transição. Ainda no final de 2023, a Marinha anunciou que vai desativar cerca de 43 embarcações que atingiram a sua vida útil até 2028. O número representa 40% de toda a frota da Força Naval, que já demandavam altas cifras para manutenção.

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Atualmente o Brasil conta com um navio-aeródromo multipropósito, seis fragatas de guerra, duas corvetas e quatro submarinos. Além disso, a Marinha do Brasil conta com outras embarcações de apoio para as operações.

Como funciona a CTF 151

Essa é a terceira vez que o Brasil vai comandar a CTF 151, mas a primeira em que estará supervisionando uma área de aproximadamente 3,2 milhões de milhas — cerca de oito milhões de quilômetros quadrados — de águas internacionais em momento de escalada de ataques.

O grupo multinacional é um dos cinco operacionais da força-tarefa internacional Combined Maritime Forces (CMF), que também atua no enfrentamento ao tráfico de pessoas e à pesca ilegal.

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A CTF 151 já foi liderada por 16 países e foi criada em janeiro de 2009 como resposta aos ataques de pirataria na Somália, "com um mandato específico baseado em missões de pirataria”.

Entre as missões no comando do grupo, o Brasil deverá manter uma vigilância proativa 24 horas por dia e denunciar atividades suspeitas às autoridades. Nos navios que operam no local, as forças costumam fazer a remoção de escadas de acesso; proteger os pontos de acesso mais baixos; utilizar iluminação de convés, redes, arame farpado, cercas elétricas, mangueiras de incêndio e equipamentos de vigilância e detecção dos piratas.

Entenda a crise no Mar Vermelho

Desde os primeiros dias da guerra entre Israel e Hamas em Gaza, os houthis, que controlam parte do Iêmen e são apoiados financeiramente e militarmente pelo Irã, têm realizado ataques contra embarcações comerciais que transitam pelo Mar Vermelho, uma das mais movimentadas rotas marítimas do planeta, por onde passam 12% das exportações globais.

Segundo o grupo, as ações são uma forma de apoiar a "resistência" em Gaza e têm como alvos navios de bandeira ou propriedade de empresas de Israel, ou que tenham como destino portos israelenses, mesmo que seja uma passagem rápida. Em novembro, um navio cargueiro chegou a ser capturado pela milícia em uma ação cinematográfica que contou com um helicóptero.

Com tantos riscos, seguradoras elevaram os preços cobrados das embarcações que tinham o Mar Vermelho em suas rotas, elevando com isso o valor do frete. Algumas gigantes do setor de transporte marítimo, como a dinamarquesa Maersk, chegaram a interromper suas operações por alguns dias depois de ataques ou tentativas de ataques, e não foram poucos os que tomaram uma decisão ainda mais drástica: contornar a África para ligar a Europa à Ásia e Oriente Médio.

Segundo a agência Reuters, o tráfego de cargueiros pelo Mar Vermelho foi o mais afetado pelos ataques, enquanto o número de embarcações de transporte de petróleo e gás, oriundas do Golfo Pérsico, praticamente não sofreu alterações. Os houthis afirmam que entram em contato com as tripulações assim que elas cruzam o Estreito de Bab el-Mandeb, que dá acesso ao Mar Vermelho, e concedem ou não autorização, dependendo da bandeira e destino. As principais empresas de navegação negam qualquer tipo de acordo do tipo com os rebeldes.