Internacional

Polícia e manifestantes entram em confronto após presidente adiar eleição no Senegal; opositora é presa

Presidente Macky Sall não anunciou nova data para realização do pleito, desencadeando onda de protestos e preocupação internacional

Agência O Globo - 04/02/2024
Polícia e manifestantes entram em confronto após presidente adiar eleição no Senegal; opositora é presa

Manifestantes e policiais entraram em confronto na capital do Senegal, Dacar, e até então uma importante figura da oposição foi presa neste domingo, um dia após o presidente Macky Sall anunciar o adiamento indefinido das eleições presidenciais. A votação estava marcada para 25 de fevereiro, mas Sall não anunciou uma nova data, desencadeando uma onda de críticas de líderes da oposição e preocupação internacional.

Em seu comunicado no sábado, Sall disse que estava intervindo devido a uma disputa entre a Assembleia Nacional e a Corte Constitucional sobre a rejeição de candidatos. Os parlamentares estão investigando dois juízes do Conselho Constitucional cuja integridade no processo eleitoral foi questionada.

Sall, por sua vez, prometeu garantir "uma eleição livre, transparente e inclusiva", mas não definiu uma nova data para a votação.

Centenas de homens e mulheres de todas as idades foram às ruas neste domingo, atendendo ao chamado de alguns candidatos da oposição. Agitando bandeiras senegalesas ou vestindo a camisa da seleção nacional de futebol, eles convergiram no início da tarde em uma rotatória em uma das principais vias da capital.

A polícia respondeu com gás lacrimogêneo e depois perseguiu os manifestantes em fuga pelas ruas adjacentes, enquanto alguns manifestantes responderam atirando pedras. Jovens gritando "Macky Sall, ditador!" montaram barricadas improvisadas e queimaram pneus nas ruas.

Diante dos confrontos, o governo suspendeu temporariamente o sinal de um canal de televisão privado por "incitação à violência" em sua cobertura dos protestos de rua, informou à AFP uma figura de destaque no Ministério das Comunicações.

Oposição se mobiliza

A ex-primeira-ministra Aminata Touré, agora uma figura proeminente da oposição, foi presa ao chegar a um protesto. Ela postou no X (anteriormente Twitter) que foi presa, e o deputado da oposição Guy Marius Sagna confirmou a informação à AFP. Touré serviu como primeira-ministra sob Sall antes de se juntar à oposição e se tornar uma de suas críticas mais presentes.

Denunciando a decisão de adiar a eleição, ela a descreveu como uma "regressão democrática sem precedentes" em um post no X no sábado, pedindo às pessoas que se mobilizassem para defender seus direitos.

Outros líderes da oposição e candidatos presidenciais também denunciaram a decisão de Sall. Habib Sy, um dos 20 candidatos, disse que os partidos de oposição se reuniram e concordaram em lançar suas campanhas eleitorais juntos.

Outra figura da oposição, o ex-prefeito de Dacar, Khalifa Sall, pediu que as forças pró-democracia se unissem. Sall, que não é parente do presidente, denunciou "um golpe constitucional" por um líder que "sonha com a eternidade".

— Todo o Senegal deve se levantar — disse ele a jornalistas.

De acordo com o código eleitoral do Senegal, devem passar pelo menos 80 dias entre a publicação do decreto que define a data e a eleição, então a votação agora só poderia ser realizada no final de abril.

Preocupação internacional

Os Estados Unidos, a União Europeia e a antiga metrópole colonial, a França, lideraram apelos para que a votação fosse reagendada para a data mais próxima possível. A UE pediu uma eleição rápida, transparente, inclusiva e credível, com a porta-voz Nabila Massrali observando que o atraso "abre um período de incerteza".

Já o Ministério das Relações Exteriores da França instou as autoridades a "acabar com a incerteza para que a votação possa ser realizada o mais rápido possível".

O Departamento de Estado dos EUA, um dos primeiros a reagir, pediu ao Senegal que estabelecesse uma data para uma eleição "oportuna, livre e justa".

Tradicionalmente, o Senegal é visto como um raro exemplo de estabilidade democrática na África Ocidental, atingida por uma série de golpes nos últimos anos no Mali, Níger e Burkina Faso. É a primeira vez que uma eleição presidencial senegalesa é adiada.

Havia 20 candidatos na disputa, embora dois importantes líderes da oposição já tivessem sido excluídos. Sall reiterou no sábado que não seria candidato.