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Síria e Iraque dizem que ataques dos EUA podem 'aprofundar turbulência regional' e impedir luta contra terrorismo

Agência O Globo - 03/02/2024
Síria e Iraque dizem que ataques dos EUA podem 'aprofundar turbulência regional' e impedir luta contra terrorismo
Síria e Iraque dizem que ataques dos EUA podem 'aprofundar turbulência regional' e impedir luta contra terrorismo - Foto: Reprodução

A Síria e o Iraque condenaram os ataques realizados pelos Estados Unidos contra grupos armados pró-Irã em seus países nesta sexta-feira. Ambos afirmaram que essas ofensivas apenas impedem a luta contra terroristas do Estado Islâmico (EI) e ameaçam arrastar a região para uma instabilidade ainda maior.

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Durante a noite, os EUA atingiram 85 alvos em sete locais nos dois países em retaliação a um ataque com drone que matou três soldados americanos na Jordânia no último domingo. Washington sugeriu que uma milícia iraquiana ligada ao Irã estava por trás desse caso, e alertou que os ataques não seriam os últimos.

“Os EUA não buscam conflitos no Oriente Médio, nem em qualquer outro lugar do mundo. Mas que todos aqueles que querem nos prejudicar saibam: se prejudicarem um americano, nós responderemos”, frisou o presidente Joe Biden em comunicado. “Nossa resposta começou hoje. Continuará no momento e nos lugares que escolhermos”.

Pelo menos 23 combatentes pró-Irã morreram no leste da Síria, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH). Seu balanço anterior era de 18 mortos. No Iraque, o governo relatou 16 mortos, incluindo civis. O governo iraquiano afirmou que deve convocar o enviado dos EUA em Bagdá para protestar contra os ataques.

— Esses ataques constituem uma violação da soberania iraquiana, minando os esforços do governo iraquiano — disse o general Yahya Rasool, porta-voz das Forças Armadas do Iraque, na sexta-feira à noite. Ele classificou os ataques dos EUA como “inaceitáveis” e “uma ameaça que arrastará o Iraque e a região para consequências imprevisíveis”.

'Agressão aérea'

O Ministério da Defesa sírio chamou a ofensiva de “uma agressão aérea flagrante”. Os ataques atingiram 26 locais ligados às milícias apoiadas pelo Irã, incluindo bases e silos de grãos. O Ministério das Relações Exteriores sírio condenou o que chamou de “agressão” dos EUA e afirmou que enfraquecerá os esforços sírios no combate ao terrorismo.

A pasta também disse que as áreas visadas eram lugares onde as forças armadas da Síria estavam lutando contra o grupo terrorista Estado Islâmico, que mantém uma presença subterrânea e realiza ataques dentro da Síria. Os Estados Unidos têm centenas de tropas em outras partes do país focadas em combater os remanescentes do EI.

As Forças Armadas da Síria disseram que “a ocupação de certas partes do território sírio pelas forças americanas não pode continuar”. Ao todo, cerca de 900 soldados americanos estão no país, enquanto outros 2,5 mil estão no Iraque. A iniciativa faz parte de uma coalizão internacional criada para combater o Estado Islâmico.

A derrota do grupo EI foi anunciada em 2019 na Síria e, em 2017 no Iraque, mas a coalizão se manteve para combater as células jihadistas que continuam lançando ataques. O Exército americanos entrou em ação pouco depois da chegada dos restos mortais dos três soldados mortos na Jordânia, um ato solene que contou com a presença do presidente Biden.

Autoridades dos EUA disseram estar confiantes de que os ataques atingiram “exatamente o que pretendiam atingir”. Os alvos estariam ligados a operações de comando e controle, centros de inteligência, instalações de armas e abrigos usados pela Força Quds — o braço estrangeiro da Guarda Revolucionária do Irã — e milícias afiliadas.

O ministro do Interior do Irã negou que locais da Guarda Revolucionária tenham sido atingidos em uma entrevista à al-Manar, uma emissora libanesa vinculada ao Hezbollah, apoiado pelo Irã.

Troca de acusações

John F. Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, disse que o Iraque foi notificado dos ataques, algo que o país nega. Os Estados Unidos indicaram quase uma semana antes dos ataques que pretendiam retaliar. No entanto, o Observatório Sírio relatou que houve confusão entre as milícias sobre o que poderia ser alvo.

Líderes dos grupos foram para as províncias de Damasco e Homs e disseram a outros afiliados para permanecerem em suas casas, relatou o Observatório. Nos dias após o presidente Biden dizer que havia decidido sobre uma resposta dos EUA ao ataque na Jordânia, Kirby disse que era muito possível que os Estados Unidos adotassem “uma abordagem escalonada” ao longo do tempo, em vez de uma única ação. (Com AFP)