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Motoristas paralisam capital da Bolívia em protesto contra bloqueios realizados por apoiadores de Evo Morales

Funcionários do setor rodoviário afirmam ser impedidos de trabalhar devido às manifestações dos cocaleiros contra os juízes que desqualificaram o ex-presidente como potencial candidato em 2025

Agência O Globo - 01/02/2024
Motoristas paralisam capital da Bolívia em protesto contra bloqueios realizados por apoiadores de Evo Morales

Motoristas do serviço público paralisaram, nesta quinta-feira, o centro de La Paz em protesto contra os bloqueios realizados desde 22 de janeiro pelos apoiadores do ex-presidente Evo Morales, que pedem a renúncia dos juízes que o desqualificaram como candidato para as eleições presidenciais de 2025. Os manifestantes estacionaram seus veículos no centro da capital boliviana, que tem 960 mil habitantes e é sede do governo e do Legislativo.

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A manifestação, segundo a imprensa local, começou ainda de madrugada. O serviço de transporte de passageiros de La Paz para os departamentos de Potosí, Santa Cruz e Cochabamba — onde os bloqueios estão concentrados — está interrompido há quase duas semanas, segundo o responsável pelo principal terminal de ônibus da cidade, Américo Gemio.

— Deixem-nos trabalhar, por favor, não atentem contra o transporte, porque estão nos bloqueando e está ficando insustentável —afirmou o motorista Rubén Flores à imprensa.

Os protestos dos apoiadores do ex-presidente também causaram escassez de frango, ovos e combustível, além de impedir o trânsito de ambulâncias. Longas filas também foram observadas nesta quinta-feira nos postos de gasolina da capital.

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— Estamos enfrentando filas nos postos de gasolina, lidando com um bloqueio que complica a logística [para a chegada dos caminhões-tanque] — disse o presidente da estatal YPFB, Armin Dorgathen, à imprensa, afirmando que mais de 200 caminhões estão parados.

A manifestação

Cocaleiros e outras organizações associadas a Morales saíram às ruas em apoio ao seu líder, exigindo a renúncia dos juízes constitucionais que decidiram contra Morales, no final de dezembro. Na decisão, o Tribunal Constitucional Plurinacional (TCP) fixou em dois mandatos — contínuos ou não — o tempo máximo em que o presidente e o vice-presidente poderão permanecer no cargo executivo. Morales já cumpriu três.

Os juízes do tribunal superior, a partir de uma decisão da Justiça, tiveram seus mandatos prorrogados na ausência de um acordo político para convocar eleições judiciais no ano passado. Assim, os camponeses pedem não apenas a renúncia, mas também novas eleições judiciais. Morales também acusa o governo de Luis Arce — seu antigo ministro da Economia e ex-aliado — de boicotar sua candidatura junto aos juízes e congressistas.

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"A única solução do problema é a imediata convocação das eleições judiciais e o fim das funções dos magistrados prorrogados, porque seus atos desde primeiro dia de 2024 são nulos em pleno direito", escreveu o ex-presidente da Bolívia no X (antigo Twitter), nesta quinta-feira.

Segundo o balanço do governo, divulgado pela imprensa local, quatro pessoas morreram ao ficarem presas nas manifestações, entre elas um bebê de nove meses com dengue que não pôde receber atendimento médico em Cochabamba, berço político de Morales e onde os bloqueios são mais intensos.

Além disso, 34 policiais e três civis ficaram feridos em confrontos nas estradas e 21 manifestantes foram presos com explosivos. Pelo menos 23 pontos seguem intransponíveis em diferentes estradas do país, segundo a Administração de Rodovias boliviana, citada pela imprensa local.

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Dias antes de bloquearem as estradas, centenas de apoiadores do ex-presidente foram reprimidos com bombas de gás lacrimogêneo em Sucre, capital administrativa da Bolívia, ao tentaram tomar um tribunal como forma de protesto. Desde terça-feira, um projeto de lei está em discussão para convocar eleições judiciais e tentar acabar com os bloqueios.

Evo Morales foi presidente da Bolívia por três mandatos consecutivos (entre 2006 e 2009, 2009 e 2014, e 2014 e 2019). Renunciou ao cargo em novembro de 2019, pressionado pelo que chamou de "tentativa de golpe de Estado". O ex-presidente precisou deixar o país para não ser preso pelo governo interino de Jeanine Áñez — que, por sua vez, acabou na prisão.

Retornou à Bolívia em novembro de 2020, após a vitória de seu ex-ministro da Economia e então aliado, o atual presidente Luis Arce, nas eleições daquele ano. Em setembro do ano passado, anunciou que iria se candidatar mais uma vez à Presidência.