Internacional

Catar anuncia que apresentará ao Hamas esboço de novo cessar-fogo para libertação de reféns

Proposta israelense prevê trégua escalonada e entrada de ajuda humanitária em Gaza; segundo primeiro-ministro catari tratativa 'poderia levar a um cessar-fogo permanente no futuro'

Agência O Globo - 29/01/2024
Catar anuncia que apresentará ao Hamas esboço de novo cessar-fogo para libertação de reféns
O primeiro-ministro do Catar, o xeque Mohamed bin Abdulrahman al-Thani - Foto: Reprodução

O primeiro-ministro do Catar, o xeque Mohamed bin Abdulrahman al-Thani, anunciou, nesta segunda-feira — após reuniões em Paris com funcionários americanos, egípcios e israelenses — que será transmitido ao grupo terrorista Hamas uma proposta israelense para a suspensão dos combates em Gaza e a libertação dos reféns israelenses detidos pelo grupo palestino durante o ataque terrorista em 7 de janeiro. Al-Thani também disse esperar que "nada prejudique" esses esforços, em referência ao ataque que matou três soldados americanos na Jordânia, no domingo.

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Durante um evento em Washington, o xeque disse à televisão NBC que "progressos significativos" foram feitos esta semana e que as partes "esperavam transmitir esta proposta ao Hamas e fazê-lo se envolver positiva e construtivamente no processo". Segundo o New York Times, o esboço israelense, que prevê uma trégua escalonada, deve ser apresentado ao grupo pelas autoridades do Catar e do Egito. O xeque acrescentou que o Hamas apresentou "uma demanda clara" de um "cessar-fogo permanente antes das negociações" e que a proposta atual "poderia levar a um cessar-fogo permanente no futuro".

O gabinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse em uma publicação no X (antigo Twitter) que houve "progresso significativo" e que "ajustes finais estão sendo feitos". As decisões, o gabinete pontuou, "também serão submetidas à discussão do governo em breve".

Já o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, disse que "ainda há muito trabalho" pela frente e que não há um "acordo iminente", mas destacou que as discussões do último fim de semana "caminham em uma boa direção", segundo o The Guardian.

Al-Thani confirmou que as reuniões que ocorreram no domingo, em Paris, com o diretor da Agência Central de Inteligência (CIA), William Burns, e com autoridades do Egito, Catar e Israel resultaram em um marco para uma trégua escalonada, na qual primeiro seriam libertadas as mulheres e as crianças reféns, e que também seria permitida a entrada de ajuda na Faixa de Gaza sitiada.

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No domingo, o New York Times divulgou um esboço desenvolvido por negociadores liderados pelos EUA, que fundia propostas apresentadas por Israel e pelo Hamas. Ele também abordava uma possível primeira trégua de 30 dias, que permitiria a libertação de mulheres e dos reféns mais idosos e feridos. Durante o período, as duas partes negociariam uma segunda fase, que também teria duração de 30 dias e permitiria a libertação dos homens e dos soldados. Ainda de acordo com o jornal, o acordo também incluiria a libertação de palestinos detidos em penitenciárias de Israel.

Um dirigente do Hamas, em entrevista à AFP, afirmou que o grupo quer negociar um "cessar-fogo completo" com Israel em Gaza. "Falamos antes de tudo de um cessar-fogo completo e total e não de uma trégua temporária", disse Taher al-Nunu, acrescentando que quando os combates cessarem, será possível "falar do restante dos detalhes", inclusive da libertação dos reféns. A agência francesa afirmou que não sabe se o representante palestino reagiu à proposta em questão.

Aumento da tensão regional

Ainda durante a entrevista coletiva, o premier do Catar disse esperar que o ataque com drone que matou três soldados americanos e deixou outras dezenas de militares feridos na Jordânia "não prejudique" os avanços mencionados. Os EUA prometeram dar uma "resposta consequente" e, ao lado do Reino Unido, acusaram o Irã de ter apoiado a agressão, o que foi rejeitado por Teerã.

"Estamos alertando desde o primeiro dia que essa guerra tem o potencial de se expandir e se espalhar pela região", disse al-Thani. "Espero que nada prejudique os esforços que estamos fazendo ou ponha em risco o processo, mas isso certamente terá um impacto."

Um novo acordo também poderia acalmar a situação volátil no Oriente Médio. Durante a pausa de sete dias em novembro, outras milícias apoiadas pelo Irã, como os Houthis e o Hezbollah, também refrearam os ataques de baixa intensidade que vinham montando contra alvos americanos, israelenses e outros.

O último acordo entre as partes, mediado pelos EUA, Egito e Catar, ocorreu em novembro. Nele, 110 reféns (todos mulheres e menores de idade) foram libertados em troca de 240 palestinos detidos em prisões israelenses. Contudo, cerca de 130 reféns ainda permaneçam cativos no enclave palestino, dos quais acredita-se que 28 estejam mortos. Os reféns estão em cativeiro desde 7 de outubro, quando homens armados do Hamas invadiram o sul de Israel e mataram cerca de 1.200 pessoas e capturaram outras 240, no pior ataque terrorista da História do país.

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Desde então, os mediadores apresentaram vários planos nas últimas semanas, até agora com poucos progressos evidentes. Diversos oficiais de segurança do país, tanto atuais quanto antigos, sugeriram que fazer um acordo com o Hamas seria a única maneira de trazer os reféns de volta com segurança para Israel. Segundo o site Axios, Israel fez uma proposta, por meio de negociadores cataris e egípcios, de uma trégua de até dois meses com parte de um acordo mais amplo que incluiria a libertação de todos ao reféns.

Netanyahu, no entanto, mostrava-se irredutível, rejeitando repetidamente a ideia de um cessar-fogo em Gaza e de um acordo com o Hamas. O governo catari chegou a acusá-lo de obstruir novas negociações de cessar-fogo e libertação de reféns com o Hamas para ganhos políticos pessoais. Apesar disso, no sábado, o premier israelense reafirmou o seu compromisso em garantir a libertação dos reféns remanescentes.

Potencial acordo

O impulso para um novo acordo surge num momento em que as famílias dos reféns e os seus apoiantes aumentam a pressão sobre o governo israelense para que dê prioridade à sua libertação em detrimento da continuação dos combates, e à medida que a escassez de alimentos e de água agrava a crise humanitária em Gaza, onde mais de 26 mil pessoas morreram desde o início do conflito, segundo o Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo Hamas desde 2007.

Está em curso um intenso debate em Israel sobre se o avanço da sua ofensiva militar está aproximando um acordo de reféns, ao pressionar a liderança do Hamas em Gaza, ou distanciando as perspectivas de uma tratativa, pondo em perigo os cativos.

Yoav Gallant, ministro da Defesa de Israel e membro do gabinete de guerra, disse às tropas de reserva que se encontrou no domingo: “Graças ao que vocês fizeram e continuam fazendo, atualmente estamos conduzindo um processo de negociação para a libertação de reféns”, acrescentando que Israel intensificaria a sua pressão militar.(Com AFP e New York Times)