Internacional
Ex-diretor denuncia existência de valas comuns em presídio na Colômbia
Presos também construiram túneis 'para enterrar pessoas' com permissão de funcionários
O tribunal que investiga os crimes do conflito interno na Colômbia anunciou, nesta quarta-feira, que vai buscar corpos supostamente enterrados por paramilitares de extrema direita em uma das principais prisões do país, após receber o testemunho macabro de um ex-diretor carcerário. O responsável pela prisão La Modelo de Bogotá entre 1999 e 2003, William Gacharná, confessou perante a Jurisdição Especial de Paz (JEP) a existência de túneis construídos por paramilitares para enterrar suas vítimas, segundo gravações divulgadas pela emissora W Radio.
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O presidente da JEP, Roberto Vidal, garantiu à essa emissora que a procura por essas supostas valas "começará imediatamente". Gacharná estava detido desde 2017 por acusações de formação de quadrilha e homicídio, mas foi colocado em liberdade em dezembro de 2023, após se comprometer a fornecer seu depoimento à JEP.
"Trata-se de um antigo funcionário que está revelando lugares e procedimentos pavorosos, a respeito de graves violações de direitos humanos e o desaparecimento de pessoas", acrescentou Vidal.
A JEP, o mecanismo de justiça de transição surgido do acordo de paz de 2016 com a antiga guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), está ouvindo Gacharná para esclarecer a relação entre agentes penitenciários e paramilitares das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC) presos em La Modelo.
Segundo Gacharná, os presos "construíram" túneis "precisamente para enterrar pessoas" com a permissão dos funcionários. Também disse que ouviu em La Modelo sobre métodos macabros para fazer desaparecer os corpos das vítimas.
"Falava-se que as pessoas desapareciam em ácido clorídrico [...], que eram cozidas nas panelas do rancho, em enormes panelas de pressão que serviam para preparar as refeições, até se desfazerem", disse o ex-diretor carcerário.
Por sua vez, o presidente Gustavo Petro reagiu alarmado. "Pavoroso. Os desaparecidos na prisão acabaram como carne moída no varejo", escreveu na rede social X, o antigo Twitter. As prisões foram um dos muitos cenários da guerra entre paramilitares e grupos guerrilheiros na Colômbia.
No fim da década de 1990, funcionava em La Modelo um esquema de corrupção, tráfico de armas e assassinatos com a cumplicidade da autoridade penitenciária, segundo o Ministério Público.
Em abril de 2000, 32 detentos morreram durante um enfrentamento armado no interior dessa prisão. Segundo a ONG Comitê de Solidariedade aos Presos Políticos, outros 17 detentos desapareceram após essa chacina.
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