Internacional

Equador vai afrouxar toque de recolher depois de queda no número diário de mortes

Entre as áreas que terão mudanças estão o porto de Guayaquil, centro estratégico de transporte de drogas para os Estados Unidos e a Europa, e a capital Quito

Agência O Globo - 24/01/2024
Equador vai afrouxar toque de recolher depois de queda no número diário de mortes
Equador - Foto: Reprodução

O Equador, em guerra contra o tráfico de drogas, reduziu nesta terça-feira o toque de recolher imposto há duas semanas no âmbito de um estado de exceção, sob o qual os militares são destacados para as ruas. Desde então, os homicídios diários foram reduzidos de 27 para 11. A restrição de trânsito a partir das 23h locais (20h em Brasília), que era de seis horas, será reduzida para cinco em zonas consideradas altamente perigosas em dez das 24 províncias do país.

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“As pessoas precisam trabalhar, o turismo também precisa dessas horas (…) é também um sinal para o mundo de que as coisas estão melhorando”, disse o presidente Daniel Noboa em entrevista ao portal La Posta publicada após sua viagem na manhã de terça-feira. para Madri.

Entre as áreas que terão mudanças estão o porto de Guayaquil (sudoeste), centro estratégico de transporte de drogas para os Estados Unidos e Europa, e Quito. Em outras áreas de risco nível médio, 14 das províncias, o recolher obrigatório será de três horas no início da manhã, enquanto a medida foi eliminada para setores de baixo conflito de 22 províncias.

A resolução de Noboa, que se deslocou a Espanha para uma feira de turismo e para cumprir uma agenda diplomática, foi divulgada depois de as autoridades anunciarem a diminuição dos crimes. Em consequência do estado de emergência, decretado em 8 de janeiro, verifica-se “uma tendência decrescente das mortes violentas, com uma média de 10,8 (crimes) por dia”, afirmou o comandante da polícia César Zapata, em conferência de imprensa. Ele acrescentou que entre 1º e 8 de janeiro a média de assassinatos foi de 27,6 por dia.

"Devolvemos a paz"

“As Forças Armadas fizeram um excelente trabalho e reduzimos o número de mortes violentas, que para mim é o indicador que mais importa, e restabelecemos a paz em determinadas áreas”, disse o presidente.

O Equador é um dos países mais violentos da região. Entre 2018 e 2023, os homicídios passaram de 6 para 46 por 100 mil habitantes, um recorde. Noboa mobilizou as forças militares e implementou um toque de recolher noturno de 60 dias após saber da fuga da prisão de Adolfo Macías, vulgo Fito, chefe da temida e principal gangue criminosa chamada Los Choneros.

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As máfias responderam com um ataque violento que incluiu o sequestro de mais de 200 policiais e guardas prisionais, ataques com explosivos e a tomada armada de uma emissora de televisão em Guayaquil. Neste contexto, o presidente declarou um “conflito armado interno” e ordenou aos soldados que “neutralizassem” cerca de vinte organizações antidrogas que chamou de “terroristas”.

O Equador depende dos Estados Unidos para combater gangues criminosas, que têm ligações com cartéis no México e na Colômbia e semeiam ansiedade no país. No meio da visita dos chefes militares e antidrogas dos EUA, um avião Antonov chegou ao país na segunda-feira com carga de ajuda militar, que não foi detalhada pelas autoridades nacionais. A embaixada dos Estados Unidos em Quito indicou na rede social

Mais perto de Fito

A chefe do Comando Sul dos EUA, Laura Richardson, reuniu-se a portas fechadas com Noboa na sede presidencial na segunda-feira.

“Estamos começando a ter cooperação em equipamentos, treinamento, inteligência, proteção de portos, fronteiras e também ajudar na identificação das fontes de financiamento desses grupos narcoterroristas”, afirmou o presidente.

A delegação norte-americana reuniu-se esta terça-feira com a procuradora-geral, Diana Salazar, para analisar “estratégias de cooperação bilateral” contra o crime organizado, informou o Ministério Público. Salazar promove uma investigação chamada Metástase, que revelou em dezembro uma rede de corrupção no Equador em que juízes, procuradores e polícias beneficiavam organizações criminosas em troca de dinheiro, ouro, prostitutas, apartamentos e luxos.

Como resultado da luta antidrogas em curso, o país apreendeu 35 toneladas de drogas, das quais 22 foram encontradas num único armazém no último domingo. Segundo o almirante Jaime Vela, chefe do comando conjunto das Forças Armadas, os militares assumiram o controlo das 10 prisões mais violentas do país. De lá retiraram armas, drogas, explosivos e até cabos de internet e televisão.

Após a expulsão da esposa e dos filhos de Fito da Argentina na última sexta-feira, Zapata especificou que não há mandado de prisão contra eles. A família de Macías “não está segura e não está sendo monitorada pela polícia”, disse ele.

Ao mesmo tempo, os uniformizados rastreiam o chefe fugitivo quando ele cumpria pena de 34 anos por homicídio, tráfico de drogas e crime organizado.

“Estamos nos aproximando e com certeza o alias Fito está sentindo isso”, alertou Vela.