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Promotor morto ao investigar ataque a canal de TV do Equador dispensou escolta horas antes, diz MP

Família nega que César Suárez tenha aberto mão de guarda-costas; carro em que ele estava, em Guayaquil, foi alvo de 12 tiros

Agência O Globo - 18/01/2024
Promotor morto ao investigar ataque a canal de TV do Equador dispensou escolta horas antes, diz MP
Foto: Arquivo/Agência Brasil

O promotor antimáfia que foi morto a tiros, no Equador, nesta quarta-feira, havia dispensado sua escolta na manhã do ataque, afirmou o Ministério Público do país. O carro em que César Suárez estava, em Guayaquil, foi seguido por desconhecidos e atingido por ao menos 12 tiros, de acordo com a polícia local. Ele era responsável pelas investigações do ataque cometido por homens armados ao canal público de televisão TC, em 9 de janeiro.

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A escalada da violência, na semana passada, levou o presidente equatoriano, Daniel Noboa, a decretar estado de conflito armado interno, o que implica a suposição de que há uma guerra dentro do país.

O assassinato do promotor Carlos Suárez, encarregado de determinar qual grupo criminoso estava por trás do ataque, foi confirmado pela procuradora-geral Diana Salazar em vídeo postado no X (antigo Twitter). "Diante do assassinato do nosso colega César Suárez (...) serei enfática: grupos do crime organizado, criminosos e terroristas não impedirão nosso compromisso com a sociedade equatoriana", disse Salazar.

Em seguida, ela pediu às forças policiais que garantam a segurança dos funcionários e deixou claro que sua unidade está agora investigando o assassinato para que não fique impune.

"Rechaçamos toda a forma de violência como resposta ao conflito que vivemos" e "ratificamos o forte compromisso do governo nacional em apoiar as instâncias da administração da Justiça", disse o ministro da Defesa, Gian Carlo Loffredo, em um vídeo compartilhado nas redes sociais.

Segundo o El País, autoridades acreditam que o investigador foi executado pelos Los Tiguerones, uma importante gangue por trás de grande parte da extorsão que ocorre em Guayaquil, a cidade mais populosa do país e onde a violência que cerca o Equador há três anos é mais sentida.

De acordo com o jornal El Universo, Suárez saía do complexo da Polícia Judiciária, onde ficava o seu escritório, quando foi seguido por desconhecidos que o atacaram em seu carro ao chegar à rua principal de Los Ceibos, no norte da cidade. Imagens do veículo com vários buracos de bala na janela do motorista foram divulgadas pela mídia local.

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Ainda de acordo com o El Universo, Suárez, numa entrevista concedida na véspera, afirmou que não tinha qualquer proteção policial desde que deu início às investigações.

Crise de violência

A onda de violência iniciada há pouco mais de uma semana começou com a fuga, em 8 de janeiro, de dois dos mais importantes líderes criminosos do país, José Adolfo Macías Villamar, vulgo Fito, líder de Los Choneros, considerado o criminoso mais perigoso do Equador, e de Fabricio Colón Pico, membro do Los Lobos. Seguiu-se uma cadeia de ataques com os quais o crime organizado tentou subjugar as autoridades.

Em um dos eventos mais emblemáticos, homens encapuzados atacaram o canal público TC Televisión, ameaçando jornalistas com armas e explosivos durante uma transmissão ao vivo. O propósito dessa ação é um mistério. Dezena de agressores, jovens, renderam-se assim que a polícia chegou ao local, sem oferecer resistência.

Diante da crise desencadeada naquele momento, o presidente Noboa declarou um conflito armado interno, chamou as gangues criminosas de "terroristas" e mobilizou milhares de soldados. Em várias prisões, os reclusos detiveram mais de 100 agentes penitenciários até a sua libertação, no sábado.

O Equador foi durante muitos anos um país livre do tráfico de drogas, mas se transformou em um novo bastião do crime para os Estados Unidos e a Europa, com gangues lutando pelo controle do território e unidas em sua guerra contra o Estado, especialmente em Guayaquil.

Nos últimos cinco anos, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes passou de 6 para 46 em 2023 e a guerra interna atingiu o fundo do poço como aconteceu na Colômbia no século passado, mas com um ingrediente adicional: queimar prisões. (Com AFP e El País.)