Internacional

Preso no Brasil, suposto espião russo é indiciado pela PF por lavagem de dinheiro e associação criminosa

Sergey Cherkasov, que usava identidade de Victor Müller Ferreira, aguarda fim das investigações para ser extraditado

Agência O Globo - 15/01/2024
Preso no Brasil, suposto espião russo é indiciado pela PF por lavagem de dinheiro e associação criminosa


O suposto espião russo preso no Brasil Sergey Vladimirovich Cherkasov e o funcionário da diplomacia russa Ivan Chetverikov foram indiciados pela Polícia Federal (PF) por lavagem de dinheiro e associação criminosa.

As investigações apontam que o estrangeiro recebeu em sua conta depósitos mensais feitos em uma agência bancária do Rio de Janeiro pelo funcionário da Embaixada da Rússia. Cherkasov cumpre pena na Penitenciária Federal de Brasília por uso de documento falso.

A PF chegou à identidade de Sergey Chetverikov a partir das imagens de câmeras de segurança do banco. Aos investigadores, inicialmente, o suposto espião negou conhecer o diplomata e depois afirmou ter tido contato com ele no presídio, quando teria recebido “assistência consular”. As informações foram divulgadas pelo “Fantástico”, da TV Globo e confirmadas pelo GLOBO.

No mesmo depoimento, prestado no fim do ano passado, Sergey Cherkasov não soube informar a origem dos 62 depósitos bancários feitos na sua conta, entre 2021 e 2022. Já Ivan Chetverikov deixou o Brasil no segundo semestre de 2023 e não foi ouvido pelos policiais.

Procurados, a defesa de Cherkasov e a Embaixada da Rússia não retornaram os contatos.

Em julho passado, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), sediado em São Paulo, reduziu a pena imposta pela primeira instância ao suposto espião de 15 anos de prisão para 5 anos, 2 meses e 15 dias de prisão. 


No processo de execução da pena do russo, seu advogado anexou, no último dia 4, o pedido que fez à Justiça para reconhecimento do direito à para o regime aberto. De acordo com a petição assinada por Paulo Ferreira, seu cliente já cumpriu 1 ano, 9 meses e 11 dias de prisão, o que representa 16% do total da condenação, o que já lhe garantiria acesso ao benefício previsto na Lei de Execução Penal.

Cherkasov criou uma identidade brasileira falsa há mais de dez anos, em nome de Victor Müller Ferreira. Com esse documento, ele estudou na Irlanda e nos Estados Unidos e tentou entrar na Holanda para trabalhar no Tribunal Penal Internacional, em Haia, que julga crimes de guerra. Para a PF, o objetivo dele era obter informações sensíveis para a Rússia, que está em guerra com a Ucrânia.


A descoberta da farsa ocorreu na tentativa de entrar na Holanda, em abril de 2022. Enviado de volta ao aeroporto de Guarulhos, o estrangeiro foi preso e processado na Justiça Federal em São Paulo por uso de documento falso. Logo após sua condenação em primeira instância, em junho de 2022, a Rússia pediu a extradição do suposto espião.

As autoridades russas sustentaram que Cherkasov não era um espião, mas sim um traficante ligado a um grupo criminoso, liderado por um cidadão do Tadjiquistão, que fornecia heroína da região de Moscou para Lipetsk.

Relator do processo de extradição no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Edson Fachin concordou com o pedido da Rússia, mas condicionou a entrega do russo ao término da investigação ainda em curso no Brasil.