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Sucessão de Magrette: Por ser mulher, rainha da Dinamarca só ascendeu ao trono após alteração na lei; conheça

Ela só pôde assumir o lugar após mudanças promovidas pelo pai, o então rei Frederik IX, que permitiram que herdeiras do sexo feminino ocupassem o posto

Agência O Globo - 14/01/2024
Sucessão de Magrette: Por ser mulher, rainha da Dinamarca só ascendeu ao trono após alteração na lei; conheça
popular rainha Margrette II - Foto: reprodução

Descendente de uma das mais antigas famílias reais do mundo, com cerca de um milênio de existência, a popular rainha Margrette II vai abdicar do trono da Dinamarca neste domingo, deixando o caminho para seu primogênito, príncipe Frederik, tornar-se o novo monarca. Com o sonho de ser artista, a rainha ascendeu ao trono de forma "inesperada", após mudanças na Constituição dinamarquesa promovidas pelo seu pai, o então rei Frederik IX, na década de 1950.

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Margrette anunciou a abdicação do trono em 31 de dezembro, devido, sobretudo, à saúde (ela passou por uma cirurgia nas costas em fevereiro passado, o que a manteve afastada por meses da vida pública), mas também pela a importância de "passar a responsabilidade" de chefe de Estado para a nova geração.

Conheça a rainha Margrette II:

Rainha 'inesperada'

Nascida Margrette Alexandrine Þórhildur Ingrid, em 16 de abril de 1940, em Copenhague, uma semana após a invasão nazista em seu país, a monarca é a primogênita do rei Frederik IX e da rainha Ingrid. A mais velha de três filhas — sendo elas a princesa Benedikte, 79 anos, e a princesa Anne-Marie, 77 anos, que posteriormente se tornaria a última rainha consorte da Grécia —, Margrette não havia sido criada para reinar. O motivo? Era mulher. E, até então, somente herdeiros homens poderiam assumir o trono na Dinamarca.

Sua ascensão, portanto, foi "inesperada". Porém, sem herdeiros homens, Frederik IX promoveria uma profunda mudança na lei dinamarquesa para dar o direito às suas filhas de entrar na linha de sucessão.

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Tal mudança não foi imediata, exigindo aprovação, em 1953, do "Ato de Sucessão" pelo Parlamento, o Folketing, e também do público dinamarquês, que apoiou a decisão de tornar Margrette a primeira herdeira real em um referendo no mesmo ano.

Foi somente duas décadas depois, em 14 de janeiro de 1972, que Margrette, enfim, foi coroada rainha. Com a morte do pai, ela se tornou a primeira soberana dinamarquesa a assumir o trono após a mudança na lei — e a segunda nos mil anos de monarquia no país, após sua antecessora distante Margrette I, que reinou entre 1387 e 1412 .

Em 2009, o Ato de Sucessão foi novamente modificado, desta vez para estabelecer igualdade na sucessão ao trono, sem a prerrogativa da preferência masculina que ainda existia. Desde então, o filho mais velho do soberano, independentemente do sexo, herda o trono, seguindo o princípio de primogenitura.

Paixão pelas Artes

Quando jovem, Margrette frequentou a Escola de Meninas de Copenhague e, mais tarde, continuou seus estudos na Universidade de Copenhague, onde se formou em arqueologia pré-histórica. A monarca também passou pelas universidades de Cambridge e London School of Economics, ambas no Reino Unido, e a Sorbonne, Paris.

Respeitada até hoje por seu envolvimento em várias atividades culturais, Margrette — carinhosamente conhecida por "Daisy", em referência ao seu nome, que se traduz como "Margarida" — sempre se interessou pela arte, tendo algumas de suas pinturas exibidas em museus na Dinamarca e no exterior.

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Além disso, a monarca é uma famosa ilustradora, tendo no currículo ilustrações da trilogia de "O Senhor dos Anéis", de J.R.R. Tolkien. Mais recentemente, ela atuou como designer de figurino e de produção para o filme de fantasia da Netflix, Ehrengard: A Arte da Sedução.

Casamento e polêmicas familiares

Margrette se casou com o diplomata francês Henri Marie Jean André de Laborde de Monpezat em 10 de junho de 1967, na Igreja de Holmen, na capital dinamarquesa. Com a união, o francês, da cidade de Talence, abriu mão de seu nome e se tornou Henrik, príncipe consorte.

Durante seus 50 anos de casamento, o príncipe consorte expressou publicamente suas frustrações. Entre as maiores queixas, estava a lamentação por não ser chamado de rei ou rei consorte, e de ter dependido financeiramente de sua esposa.

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Em 2017, aos 83 anos, Henrik anunciou que não desejava ser enterrado ao lado da monarca. "Se ela quiser me enterrar com ela, ela precisa me fazer um rei consorte", disse à revista dinamarquesa Se og Hør em 2017. Seis meses depois, morreu e foi cremado, com metade de suas cinzas espalhadas nas águas dinamarquesas e a outra enterrada em jardins privados.

O casal teve dois filhos: o príncipe Frederik, nascido em 1968, herdeiro do trono, e o príncipe Joachim, nascido em 1969.

Além das controvérsias com o marido, a rainha também esteve no centro de uma outra polêmica familiar recente. Logo após passar por uma cirurgia nas costas — razão principal pela qual decidiu abdicar do trono, segundo a própria —, em 2023, decidiu retirar o título real de quatro de seus netos. A justificativa era permitir que eles vivessem vidas mais "normais", mas a decisão provocou reações críticas dentro da família, inclusive de Joachim — pai das crianças e sexto na linha de sucessão. A reação negativa levou a rainha a pedir desculpas públicas, mas a decisão foi mantida.

Papel na política

Na Dinamarca, uma monarquia constitucional, o soberano, como chefe de Estado, não participa na política e não expressa opiniões políticas. Quem detém os poderes cotidianos da governança, nesse regime, é o primeiro-ministro — no caso da Dinamarca, o cargo é ocupado por Mette Frederiksen desde 2019.

Como chefe de Estado, a rainha participa na formação de um novo governo ao nomear formalmente o líder do partido que obtiver apoio do maior número de assentos no Folketing (o Parlamento dinamarquês). Da mesma forma, é também a rainha quem demite formalmente os ministros.

Além disso, a rainha também tem o papel de comandante em chefe das Forças Armadas do país, sendo também a autoridade suprema da Igreja Luterana da Dinamarca.