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Míssil inteligente, submarino de energia nuclear: veja o arsenal utilizado por EUA e Reino Unido contra houthis no Iêmen

Rebeldes e aliados condenaram ação ofensiva liderada pelo Ocidente, prometeram continuar ações no Mar Vermelho e alertaram para um aumento da instabilidade na região

Agência O Globo - 12/01/2024
Míssil inteligente, submarino de energia nuclear: veja o arsenal utilizado por EUA e Reino Unido contra houthis no Iêmen
Estados Unidos - Foto: Reprodução

Estados Unidos e Reino Unido lançaram mísseis e bombas contra alvos no Iêmen, na madrugada desta sexta-feira (noite de quinta no Brasil), na esteira dos ataques de rebeldes houthis a navios comerciais no Mar Vermelho. O arsenal foi disparado por terra e mar. A liderança do grupo iemenita prometeu retaliação, enquanto seus aliados, como o governo do Irã e o grupo terrorista Hamas, condenaram a ofensiva e alertaram que o incidente teria consequências para a região.

Contexto: EUA e Reino Unido bombardeiam o Iêmen após semanas de ataques no Mar Vermelho

Entenda: Biden alerta que 'não hesitará' em agir contra houthis após ataques dos EUA e Reino Unido contra o Iêmen

A imprensa americana indica que os ataques foram realizados com caças e mísseis Tomahawk. O Reino Unido disse ter mobilizado quatro caças Typhoon FGR4 com bombas guiadas a laser. Confira abaixo as armas e os equipamentos militares utilizados pelo Ocidente nos bombardeios ao Iêmen.

Mísseis Tomahawk

Os mísseis de ataque terrestre Tomahawk (TLAM), produzidos pelos americanos, conseguem atingir até 1,6 mil quilômetros de distância e chegar à velocidade de 885 km/h, de acordo com a BBC. Com isso, é possível obter a distância máxima em até duas horas de operação.

Tais mísseis de cruzeiro podem ser lançados de navios ou submarinos. Difíceis de serem abatidos, os projéteis podem voar a baixas altitudes, além de emitirem pouco calor. Essas características dificultam, por exemplo, a detecção de exemplares por meio de infravermelho.

Esse tipo de projétil carrega menos explosivos que as bombas maiores, tipicamente lançadas de aviões tripulados. Equipado por um motor com combustível sólido, ele possui sistemas eletrônicos e programas de controle de voo, o que permite o chamado "voo inteligente". De forma tecnológica, o trajeto é guiado por GPS e conta com câmera infravermelho, responsáveis, dentre outras funções, pelos desvios de obstáculos naturais.

Os Tomahawks voam a velocidades subsônicas, por rotas "evasivas" ou não lineares, o que os permite "driblar" sistemas de defesa aérea, de acordo com um folheto informativo da Marinha dos EUA citado pela CNN.

"O míssil é capaz de pairar sobre uma área para responder a alvos emergentes ou, com sua câmera a bordo, fornecer informações sobre danos aos comandantes em guerra", diz o folheto.

Esse modelo de míssil foi amplamente usado, em especial, durante a década de 1990. Eles ganharam força nos combates da Guerra do Golfo, no Iraque, e na Bósnia. Com alta precisão e longo alcance, são utilizados pelos Estados Unidos há mais de 20 anos.

Submarino de mísseis guiados USS Florida

O submarino USS Florida é um dos quatro de mísseis guiados (SSGNs) que são movidos a energia nuclear na frota da Marinha americana. Um folheto informativo da Marinha aponta que os quatro, originalmente, eram da classe Ohio e transportavam ogivas nucleares.

No entanto, foram convertidos entre 2005 e 2007 e passaram à capacidade de transportar até 154 mísseis de cruzeiro Tomahawk — quatro vezes mais que outros submarinos mais recentes da frota. Com isso, fornecem "muito poder de fogo", e rapidamente.

Os SSGNs foram usados pela primeira vez em combate em 2011. Na ocasião, o USS Florida disparou quase 100 Tomahawks contra alvos na Líbia, na Operação Odyssey Dawn.

De acordo com a CNN, o submarino é movido por um reator nuclear que fornece vapor para duas turbinas, responsáveis por fazer girar a hélice. A nave pode ficar submersa por "tempo indeterminado" — sua única limitação é a condicionada à necessidade de reabastecer suprimentos para a tripulação.

Desta vez, contra os alvos do Iêmen, navios de superfície dos EUA também lançaram Tomahawks contra os houthis, ao lado do USS Florida.

O Pentágono não especificou quais outras embarcações foram usadas nos bombardeios. No entanto, vários navios de guerra foram deslocados para a região do Mar Vermelho nas últimas semanas para defender navios internacionais. Pelo menos dois destróiers americanos entraram em combate nas águas ao redor do Iêmen: USS Mason e USS Carney.

'Eixo da Resistência' promete retaliação

Integrantes do chamado "eixo da resistência" — movimentos armados e regimes do Oriente Médio que se opõem à influência do Ocidente na região e ao Estado de Israel — prometeram retaliação.

Em um comunicado, o grupo prometeu "punir ou retaliar" os ataques, ao passo que porta-vozes houthis se revezaram em aparições públicas para condenar o ataque e prometer uma escalada após os bombardeios na madrugada desta sexta-feira (noite de quinta no Brasil).

— Não é uma opção para nós não responder a essas operações — afirmou Mohammed Abdul Salam, um dos porta-vozes do grupo, em entrevista a Al-Jazeera. — Agora, a resposta, sem dúvida, será mais ampla.

Em um discurso transmitido na TV estatal horas antes do ataque, o líder dos houthi, Abdel-Malik al-Houthi, afirmou que qualquer ação americana teria uma "resposta direta", maior do que ataques realizados anteriormente, com uso de drones e mísseis.

Washington e Londres lideraram o ataque contra posições houthis nas cidades Sanaa e Hodeidah, em resposta às agressões dos rebeldes contra navios comerciais no Mar Vermelho. Os houthis falam em 73 bombardeios, que mataram cinco pessoas e feriram outras seis. A ação foi apoiada por outros oito países, entre eles o Bahrein.

Em um comunicado conjunto assinado pelos países, o ataque foi descrito como uma "ação defensiva", para dissuadir o grupo rebelde a interromper os ataques a navios no Mar Vermelho — rota por onde passa cerca de 12% do comércio marítimo mundial. Em um discurso, o presidente americano, Joe Biden, descreveu o objetivo da missão como sendo "desanuviar as tensões e restaurar a estabilidade" na região.

A reação entre os aliados houthis e desafetos geopolíticos das potências ocidentais, no entanto, foi no sentido contrário, com condenações ao ataque e alertas de que qualquer ação agressiva acrescentaria uma nova camada de insegurança e instabilidade na região, já sob tensão em meio à guerra entre Israel e Hamas em Gaza.

O grupo terrorista palestino foi um dos que saiu em defesa dos houthis. Em um comunicado, o Hamas apontou que EUA e Reino Unido deveriam assumir a responsabilidade por eventuais desdobramentos indesejáveis da ofensiva.

"Condenamos veementemente a flagrante agressão anglo-americana no Iêmen. Nós os responsabilizamos pelas repercussões na segurança regional", dizia o comunicado.

O Irã se referiu ao ataque ocidental como "uma violação à soberania e à integridade territorial" do país árabe e como uma "flagrante violação da lei internacional". Teerã indicou, ainda, que os bombardeios no Iêmen configuram parte do apoio à ofensiva de Israel contra Gaza.

— Os ataques militares são realizados em linha com o total apoio dos EUA e do Reino Unido nos últimos cem dias aos crimes de guerra do regime sionista contra o povo palestino inocente, que está sob cerco total na Faixa de Gaza — disse Nasser Kana'ani, porta-voz da chancelaria iraniana, em pronunciamento repercutido pela agência Fars. — Enquanto o regime sionista continua com os seus crimes de guerra em Gaza e na Cisjordânia, os EUA e o Reino Unido estão tentando desviar a atenção global da agressão do regime contra o povo palestino, aumentando o seu apoio a ele.

O porta-voz acrescentou ainda que os ataques aumentam "a insegurança e a instabilidade" na região.