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Entenda o papel do Equador nas rotas do narcotráfico na América Latina; veja mapa

País que já foi um dos mais seguros da América do Sul hoje é responsável pelo escoamento de quase um terço da droga colombiana enviada para os EUA

Agência O Globo - 11/01/2024
Entenda o papel do Equador nas rotas do narcotráfico na América Latina; veja mapa
Equador põe Exército na rua - Foto: Reprodução

A fuga do chefe da maior quadrilha criminosa do Equador, e a subsequente onda de violência que tomou conta do país, colocaram a região em evidência nesta semana. Em 48 horas, o governo decretou estado de conflito armado interno, uma TV estatal e uma universidade foram invadidas por bandidos armados, ao menos sete policiais foram sequestrados e houve ataques com explosivos nas ruas. O cenário representa a primeira crise do presidente Daniel Noboa, de 36 anos, mas não é novidade: é resultado, entre outras razões, da reconfiguração das rotas de tráfico na América do Sul.

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Se há poucos anos o país era conhecido por ser um recanto de relativa paz entre os dois maiores produtores mundiais de cocaína (a Colômbia e o Peru), hoje quase um terço da droga colombiana sai da América do Sul em direção aos Estados Unidos por portos equatorianos. Segundo autoridades locais, as duas maiores facções criminosas do país, Los Choneros e Los Lobos, são apoiadas financeiramente e recebem armas dos dois principais cartéis mexicanos: o Cartel de Sinaloa e o Cartel Jalisco Nova Geração (CJNG).

Com isso, nos últimos cinco anos, os cartéis mexicanos assumiram um papel mais importante no negócio e subcontrataram grupos locais. Um ponto que favoreceu a nova configuração das rotas do tráfico transnacional é a dolarização da economia equatoriana, adotada em 2000, que, juntamente com os fracos controles financeiros, tornaram o país um local ideal para a lavagem de dinheiro do tráfico.

Além deles, que disputam o controle das rotas de cocaína no Equador, atuam no país um grupo dos Bálcãs que a polícia chama de “máfia albanesa”. No último ano, autoridades locais descobriram laboratórios de processamento da droga na região, indicando uma possível evolução das facções locais para os chamados “microcartéis”. O acordo de paz com as antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) acabou empurrando dissidentes do grupo guerrilheiro envolvidos com o narcotráfico para o país vizinho.

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Segundo Glaeldys González, especialista do International Crisis Group, oito organizações criminosas disputam hoje o controle de partes da cadeia de abastecimento e se enfrentam com frequência. A polícia, por sua vez, atribuiu 80% dos assassinatos de 2022 a confrontos entre grupos criminosos que competem pelo controle da distribuição e da exportação de drogas, principalmente cocaína.

— Todo o corredor de Guayaquil, onde fica o porto que é a principal porta de saída de drogas para a Europa e os EUA, converteu-se em uma espécie de campo de batalha desses grupos. Como se trata de um centro urbano e não uma zona rural, o impacto da violência tem sido ainda maior — afirmou a especialista em entrevista ao GLOBO. — O Equador passou a ter um importante papel na produção, refino e transporte de cocaína. A quantidade de drogas no país aumentou consideravelmente.

A crise começou durante a pandemia de Covid-19, quando as gangues criminosas equatorianas ganharam terreno com o aumento da penetração dos dois principais cartéis mexicanos. Seu objetivo é assumir o controle da área metropolitana de Guayaquil, a cidade mais populosa do país e um porto importante para as rotas internacionais de tráfico de drogas que começam nas selvas da Colômbia e na região andina e chegam aos Estados Unidos e à Europa.

As prisões são uma base crucial de operações para esse negócio, que não sobreviveria sem um coquetel de miséria, corrupção estrutural e rivalidade entre grupos concorrentes. Os motins têm se multiplicado no Equador desde que um massacre em 2021 deixou 79 prisioneiros decapitados na Penitenciária do Litoral. Esse foi o ponto de virada no país.

Mas a atrocidade do que acontece atrás das grades também se reflete nas ruas do país, onde milhões de pessoas são forçadas a conviver com a escalada da violência. Com as disputas entre as facções, as taxas de homicídio no Equador dispararam: passaram de 5,6 por 100 mil habitantes em 2017, para 25,32 por 100 mil habitantes no ano passado, a maior da história. Assim, o Equador ultrapassou o Brasil — que registrou uma taxa de homicídios de 19,5 por 100 mil habitantes em 2022 — e se tornou o terceiro país mais violento da América do Sul, atrás apenas da Venezuela e da Colômbia.

— A violência tem se refletido, principalmente, na ação de grupos criminosos, principalmente os que disputam o poder das organizações, que tentam se posicionar no território — disse, em dezembro do ano passado, o comandante geral da Polícia do Equador, Fausto Salinas. (Com El País)