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Exército de Israel reconhece ter passado 'involuntariamente' sobre corpo de palestino na Cisjordânia

Imagens começaram a circular após corporação ter confirmado a morte de três homens durante uma incursão para encontrar um militante procurado, em Tulkarm; a ANP classificou o caso como 'crime brutal'

Agência O Globo - 11/01/2024
Exército de Israel reconhece ter passado 'involuntariamente' sobre corpo de palestino na Cisjordânia

O Exército israelense reconheceu na quarta-feira que um de seus veículos passou "involuntariamente por cima do corpo de um terrorista" durante confrontos no norte da Cisjordânia ocupada. O momento foi registrado por câmeras de segurança da cidade de Tulkarm e classificado pela Autoridade Nacional Palestina (ANP) como “crime brutal”. O caso está sob revisão.

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A gravação surgiu após o Exército ter informado que havia invadido a região, na noite de segunda-feira, atrás de um militante procurado e matado três homens, pelo menos um deles armado, durante um confronto, informou a Reuters. Os óbitos também foram confirmados pelo braço armado do Fatah, partido que comanda a ANP, as Brigadas al-Aqsa. Os jovens, segundo a agência turca Anadolu, teriam entre 22 e 24 anos.

As imagens, divulgadas pela agência britânica, mostram três homens atingidos por disparos efetuados por militares israelenses. Dois deles caem no chão e o terceiro corre por uma rua. O vídeo corta para o momento que um veículo passa por cima de um dos atingidos e para sobre as pernas do homem.

Depois, o veículo aparece dando ré pelo menos duas vezes sobre o palestino. No chão, há rastros de sangue próximo aos corpos. O carro, então, parece seguir adiante, e as imagens são cortadas para outros momentos. O jornal The Guardian destaca que, apesar da confirmação da morte dos homens, não é possível cravar se, no momento da ré, o homem baleado já estava morto.

A Reuters informou ainda que as Brigadas Tulkarm, um dos grupos armados ligados ao Fatah, reivindicou um dos palestinos mortos como um de seus membros. Já a al-Jazeera informou, na segunda-feira que o militante procurado acabou sendo baleado e preso pelos militares isralenses.

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Em um documento enviado à AFP, o Exército de Israel afirmou que esse veículo “[foi] mobilizado" no setor de Tulkarm, no norte, "para evacuar as forças que estavam presas em uma troca violenta de fogo (...) passou involuntariamente por cima do corpo de um terrorista". O texto também destaca que o vídeo "não mostra o incidente em sua totalidade". O caso está sob revisão, informou a Reuters.

'Cultura do ódio'

A gravação suscitou a condenação da Autoridade Nacional Palestina. O Ministério das Relações Exteriores palestino, em um comunicado citado pela Anadolu, classificou ainda na terça-feira o evento reflete uma “cultura do ódio e extremismo”.

"[O ato] expressa uma mentalidade racista fascista-colonial e uma decadência moral sem precedentes”, escreveu a pasta.

As forças israelenses costumam realizar incursões na Cisjordânia, território ocupado por Israel desde 1967. Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, iniciada em 7 de outubro, a violência na região disparou e chegou a níveis sem precedentes desde a Segunda Intifada (2000-2005).

O Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (Ocha) informou nesta quinta-feira que as mortes na região subiram para 331 desde o início do conflito — pelo menos 322 foram mortos por forças israelenses. O número sobe para 334 palestinos, segundo a ANP.

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Também nesta quinta-feira, a Corte Internacional de Justiça (CIJ), com sede em Haia, começou a ouvir a acusação movida pela África do Sul contra Israel por suposta violação da Convenção das Nações Unidas sobre Genocídio durante sua operação militar em Gaza, território palestino controlado pelo Hamas desde 2007.

O país africano argumentou que Israel age com "intenção genocida" no enclave palestino, citando como evidência declarações de autoridades israelenses como o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, que disse que Israel imporia um cerco completo ao território porque combatia "humanos animalescos".

Gaza contabiliza mais de 23 mil mortos desde o início da guerra, segundo o Ministério da Saúde. A maior parte das vítimas é composta por menores e mulheres.