Por mais de uma década, José Adolfo Macías Villamar, o Fito, fez do Centro de Reabilitação Social Guayas número 4 (Regional) a sua fortaleza — e a sua habitação de luxo. O líder da maior e mais temida facção criminosa do Equador, a Los Choneros, vivia no complexo penitenciário de Guayaquil como um "preso VIP", até que desapareceu. A fuga desencadeou uma onda de violência no país e fez o presidente equatoriano, Daniel Noboa, decretar "conflito armado interno" em todo o território nacional.

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Fito cumpria uma pena de 34 anos por assassinato na Regional de Guayas. Mesmo no cárcere, ele gozava de regalias e luxos diversos, como grandes festas, refeições especiais, eventos de brigas de galo, além de ter habitação do tipo suíte e escolta particular, segundo o "La Hora" e o "El Universo". Buscas no local revelaram que o homem possuía equipamentos eletrônicos, armas, dinheiro, drogas, drones, equipamentos de academia e até garrafas de uísque.

Fito era famoso no país por desafiar as autoridades com frequência e quebrar as regras da prisão. Em outubro de 2021, por exemplo, a mulher do narcotraficante entrou na cadeia vestida com o uniforme de uma agente penitenciária e passou cinco dias por lá. Além disso, Fito comemorava seus aniversários em grandes festas na prisão, inclusive com convidados.

Em 12 de agosto do ano passado, agentes fizeram uma varredura na "fortaleza" do chefe dos Choneros. Dias antes, o candidato a presidente Fernando Villavicencio fora assassinado a tiros na saída de um comício em Quito. Ele havia denunciado ameaças de morte de gangues do país.

Lago artificial e 'granja' para rinha

Na operação na cadeia Regional, mais de quatro mil agentes uniformizados encontraram drogas como maconha e cocaína, 147 unidades de munição de diferentes calibres, 195 fogos de artifício e eletrodomésticos não autorizados (geladeiras, congeladores, ar condicionado, equipamentos de som e celulares, entre outros itens).

De acordo com o "La Hora", naquela ocasião, os policiais pintaram murais que tinham imagens de exaltação a Fito. Os agentes também acharam dezenas de patos num lago artificial e mais de 12 galos de briga. Perto da "granja", havia uma arena, com arquibancadas, grades e luzes para que o público acompanhasse as rinhas. A Polícia Nacional detalhou ter encontrado tartarugas e cachorros na cadeia.

Num dos principais desafios às forças de segurança enquanto esteve preso, em setembro de 2023, o criminoso lançou um videoclipe musical protagonizado por sua filha. A produção glorifica suas façanhas criminosas com diversos trechos gravados dentro da prisão da qual ele fugiu.

Na ocasião, uma equipe de produção entrou na cadeia com câmeras de alta definição e registrou imagens de Fito e colegas, além dos murais de exaltação ao narcochefe.

No videoclipe a dupla Mariachi Bravo aparece cantando junto com a filha do criminoso, conhecida como Rainha Michelle. “Ele é o chefe de todos os chefes – ele é Adolfo Macías Villamar”, diz a música. A filha também aparece cantando o trecho: “Tiro o chapéu para você, Fito, meu pai. Em suas veias corre bom sangue”.

O clipe foi gravado em um bar, um pasto com cavalos e a prisão onde cumpria uma pena de 34 anos por crime organizado, narcotráfico e homicídio.

O lançamento do clipe foi feito pouco tempo depois da transferência de Fito, por ordem judicial, da prisão de segurança máxima de La Roca para a prisão regional de Guayaquil, sede de sua organização criminosa. Na época, o governo do Equador afirmou em nota que os equipamentos usados no vídeo entraram ilegalmente no presídio.

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“Ele tem tanto amor por sua família. Tanto amor por seus amigos. Ele faria qualquer coisa por eles, daria sua vida e muito mais por aqueles que são leais”, continua a música.

Apesar das regalias, Fito já planejava fugir da cadeia havia dois anos, em meio à escalada de ameaças contra parentes seus, diz o "La Hora". Entre 2021 e 2022, filhos do narcotraficante foram sequestrados e sofreram atentados. Ele não conseguiu que a Justiça autorizasse a sua saída, por isso estruturou um plano de fuga.

As autoridades equatorianas investigam se pelo menos dois agentes penitenciários o ajudaram na empreitada. De acordo com fontes policias do "La Hora", a fuga não envolveu o uso da força. A cela de luxo de Fito não tinha túneis nem danos nas paredes.

Quem é Fito?

Fito cresceu em Manta, cidade costeira da província de Manabí, local estratégico para o tráfico de drogas. Aos 44 anos, o atual chefe da facção tem 14 processos judiciais por crimes como homicídio, roubo, crime organizado e posse de armas. Esta não é a primeira vez que ele escapa da cadeia. Em 2013, chegou a ficar dez meses foragido após fugir com outros 15 reclusos da prisão de segurança máxima La Roca. Nesse período, os criminosos foram os mais procurados do país.

Quando foram detidos novamente, os agentes apreenderam 3,4 kg de maconha, cerca de 1 kg de cocaína, 147 munições, 195 fogos de artifício e outros itens, como geladeiras, freezers, aparelhos de ar-condicionado, caixas de som e celulares, segundo boletim divulgado pela Presidência de Guillermo Lasso (2021-2023). O documento não detalhou as armas de alto calibre utilizadas pelos presos.

Em julho de 2023, logo após o massacre na Penitenciária do Litoral, onde foram assassinados 31 presos, Fito anunciou um acordo de paz com outras gangues para acabar com extorsões e sequestros. Em vídeo, o líder aparecia sentado e, atrás dele, havia cinco homens — quatro presos armados e um policial da inteligência penitenciária. Na época, o governo descreveu o caso como um “incidente” e “impertinência policial”, segundo o Comandante da Polícia Fausto Salinas.