Internacional

Escola israelense enfrenta o desafio de manter rotina leve para as crianças durante a guerra em Gaza

Alunos se dividem entre treinamento antimísseis e as brincadeiras infantis; docentes falam em 'preservar' rotina dos pequenos e evitar que sejam abalados pelos conflitos: 'precisamos ser fortes por eles'

Agência O Globo - 10/01/2024
Escola israelense enfrenta o desafio de manter rotina leve para as crianças durante a guerra em Gaza
israel - Foto: Reprodução

Às 08h55, os alunos do 5º ano do colégio da Academia de Música e Dança de Jerusalém saem com pressa da sala de aula para descer ao abrigo antimísseis — um exercício surpresa que se tornou semanal, desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, iniciada no dia 7 de outubro.

Cerca de trinta adolescentes descem dois andares para se reunir em uma sala reforçada, equipada com uma porta blindada. Após repetirem o mesmo processo em várias ocasiões, às vezes durante alertas reais de mísseis, as brincadeiras aumentaram.

No centro do refúgio, dois garotos iniciam uma melodia improvisada em um piano.

Três meses após o início da guerra, desencadeada por um ataque terrorista do Hamas contra Israel, a direção da instituição israelense, que conta com 350 alunos, tem como prioridade manter uma rotina normal.

'Como os outros'

"Preservar a rotina dos alunos" para proteger sua integridade física é o lema da diretora, Ilana Uritsky.

— É nossa ordem de mobilização. Precisamos ser fortes pelas crianças e suas famílias — defendeu.

Offira Gargi, professora principal da turma do 5º ano do ensino fundamental, explica que só aborda o conflito quando acontece algo muito importante:

— Queremos que continuem sendo crianças [...] como todos os outros.

A pequena Aluma Bartov, de 12 anos, confessa que não tem "paciência nem tempo para lidar com assuntos tristes que deprimem a todos".

— Quero me concentrar na minha vida, na música — disse.

Uma tranquilidade semelhante é perceptível em sua colega de classe, Peleh Nahum, que diz que os adultos "nos protegem" e que "se houver mísseis, vamos para o abrigo". A bolha protetora da escola, no entanto, está longe de ser indestrutível.

No saguão, em uma pequena mesa com uma toalha escura, a foto de um jovem atrás de uma vela mostra Elisaf Shoshan, de 23 anos, sargento da reserva e ex-pianista de jazz da escola, morto nos combates na Faixa de Gaza. À frente, vê-se a bandeira israelense sobre fotos de reféns mantidos na Faixa de Gaza.

O ataque do Hamas resultou na morte de cerca de 1,140 indivíduos, em sua maioria civis, de acordo com o levantamento da AFP com base no balanço israelense. Cerca de 250 pessoas foram sequestradas e mais de cem foram libertadas durante um cessar-fogo entre as partes do conflito, mediado pelos EUA, Egito e Catar, no final de novembro.

Após o ataque, Israel prometeu aniquilar o grupo palestino. Desde então, o Exército israelense tem perpetrado intensos bombardeios e incursões terrestres em retaliação na Faixa de Gaza, provocando 23.210 mortes, a maioria civis e em grande parte menores de idade e mulheres, de acordo com um balanço do Ministério da Saúde do enclave, governo pelo Hamas desde 2007.

Desde o início das hostilidades, mais de 500 membros das forças de segurança israelenses morreram, incluindo 176 soldados em combates em Gaza.

'Ficar ainda mais atento'

Ao medo "existencial" das primeiras semanas após o massacre de 7 de outubro, seguiu-se o "sentimento de culpa" em muitos alunos que procuraram o conselheiro psicológico da escola, Nahir Bar-Osher, para conversar.

A dúvida em saber "como seguir minha rotina diária quando as pessoas morrem, meus amigos são mortos, meus primos são mortos" nos afeta, acrescentou ele.

Cerca de 360.000 israelenses, de uma população de mais de nove milhões de habitantes, foram mobilizados como reservistas desde o início do conflito. Muitas famílias israelenses contam com pelo menos um soldado na guerra, fazendo parte do serviço militar — 32 meses para os homens, dois anos para as mulheres — ou como reservistas.

— Entendi aos poucos o que acontecia na vida de cada família e, por isso, devo estar presente, ouvir mais para ajudar mais do que em tempos normais — desabafa a professora Gargi.