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Sucessão de Margrette: Plebeia, futura rainha da Dinamarca sonhava em ser veterinária, mas hoje é mais popular que marido-príncipe

Nascida na Austrália, Mary Donaldson, 51, teve origem 'comum'; compromisso com causas progressistas e sua diligência fazem dela uma das mais populares monarcas da família

Agência O Globo - 09/01/2024
Sucessão de Margrette: Plebeia, futura rainha da Dinamarca sonhava em ser veterinária, mas hoje é mais popular que marido-príncipe
Sucessão de Margrette: Plebeia, futura rainha da Dinamarca sonhava em ser veterinária, mas hoje é mais popular que marido-príncipe - Foto: Reprodução

Tudo começou como uma clássica história de amor. Era setembro de 2000, quando Mary Donaldson, então com 28 anos, conheceu Fred em um pub de Sydney, na Austrália. Ela não sabia, mas aquele por quem sentiu uma súbita conexão era, na verdade, Frederik, o Príncipe Herdeiro da Dinamarca. Os dois se apaixonaram, casaram-se e tiveram quatro filhos. Agora aos 51, Mary, que passou a ser chamada formalmente de Princesa Herdeira da Dinamarca, será a próxima rainha do país, em cerimônia marcada para ocorrer no próximo domingo.

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A ideia de que uma “plebeia” virou princesa conquistou o público ao redor do mundo. Mas foi por seu estilo pessoal e seu compromisso com causas progressistas — incluindo o combate às mudanças climáticas e a defesa da sustentabilidade, bem como os direitos das mulheres e crianças — que, passado pouco mais de duas décadas, sua popularidade ainda se mantém em cerca de 85% na Dinamarca, segundo pesquisa recente encomendada pela estação de rádio pública local, a DR.

Mary ascenderá ao trono porque a atual monarca, a rainha Margrethe II, anunciou sua abdicação em discurso de Ano Novo. Na ocasião, ela citou problemas de saúde e uma cirurgia nas costas, e mencionou que este seria “o momento certo”. Margrethe era popular entre os súditos, e seu governo alcançou uma taxa de aprovação de 72% — algo que, segundo analistas, Mary não deve ter dificuldade em manter. A situação, porém, é diferente para o futuro rei Frederik X, que virou notícia após ser flagrado com uma socialite mexicana numa noitada em Madrid.

Entre os dinamarqueses, Mary é aplaudida por sua diligência e profissionalismo. Sua popularidade supera muitos outros membros da monarquia. De acordo com Lars Hovbakke Sorensen, um especialista na família real dinamarquesa, “ela pareceu muito profissional desde o primeiro dia”, algo que a população local “valoriza muito”. Para ele, é possível dizer que ela “foi tão popular que foi necessário, nos últimos anos, diminuir seu papel”, de modo que “não corresse risco de ofuscar o príncipe herdeiro”.

‘Tesouro local’

A opinião sobre Mary não é muito diferente na Austrália, onde nasceu. Lá, a história improvável da princesa tem provocado manchetes animadas e extensa cobertura sobre a integrante da família real dinamarquesa, que há anos renunciou à sua cidadania australiana (e britânica, já que seus pais são escoceses). Hoje, ela mantém apenas o leve traço de seu sotaque original e fala dinamarquês fluentemente. Ainda assim, em seu país natal, ela é celebrada como um tesouro local.

Já no Reino Unido, o esforço da imprensa britânica é para redesenhá-la como “Mary, a rainha da Escócia”. A imprensa costuma citar as raízes escocesas da princesa — atitude que tem provocado comentários ácidos na Austrália. Na última semana, o jornal The Melbourne Age publicou que, “não satisfeitos com sua própria família real, os jornais britânicos tentam reivindicar a próxima rainha da Dinamarca, a Princesa Herdeira Mary, como uma deles”.

Embora o rei Charles III, chefe de Estado britânico, também seja o monarca australiano (o que significa que a família real britânica é tecnicamente australiana), a maioria da população local se sente ambivalente em relação a isso: apenas 35% dos australianos estão comprometidos em manter um monarca britânico em longo prazo, de acordo com uma pesquisa recente. Já para Mary, que é vista como acessível e pé no chão, essa tendência republicana não se aplica.

“A renúncia implacável de Mary ao drama, seu compromisso entusiasta com causas de interesse público e seu verdadeiramente raro apoio à comunidade LGBTQ+ na Dinamarca e além” apelam até para os antimonarquistas fervorosos, escreveu o comentarista australiano Van Badham em uma recente coluna do Guardian.

‘Um conto de fadas’

Quando Mary e Fred se encontraram, o príncipe visitava Sydney para os Jogos Olímpicos. Em entrevista concedida em 2003, a atual princesa afirmou que, “desde o primeiro momento” em que começaram a se falar, nunca pararam de conversar de verdade. Naquele encontro, ela deu a ele seu número, e ele ligou no dia seguinte. A relação, que começou secreta, culminou em seu casamento em 2004.

Filha de um professor de matemática e uma assistente executiva, Mary nasceu na Tasmânia, a ilha ao sul da Austrália. “Eu era uma garota de camiseta e shorts, conhecida por andar descalça”, ela disse ao Financial Times em uma entrevista recente. Ela frequentou escola pública, montava a cavalo e praticava esportes antes de estudar Direito e Comércio na faculdade. Depois, seguiu uma carreira na publicidade.

— Eu não me lembro de desejar um dia ser uma princesa — disse ela aos repórteres logo após o casal ficar noivo em 2003. — Eu queria ser veterinária — completou.