Internacional

Primeira-ministra da França renuncia e aumenta rumores sobre possível remodelação política no governo Macron

Élisabeth Borne, de 62 anos, tornou-se primeira-ministra em maio de 2022, após presidente francês se reeleger para um segundo mandato; a premier foi a segunda mulher a chefiar o governo francês nesse cargo

Agência O Globo - 08/01/2024
Primeira-ministra da França renuncia e aumenta rumores sobre possível remodelação política no governo Macron
A primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne

A primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, apresentou sua demissão ao presidente Emmanuel Macron, informou o gabinete do presidente, nesta segunda-feira. A renúncia ocorre em meio a rumores de uma tão esperada remodelação profunda do governo, em uma tentativa de conferir oxigênio ao segundo mandato do dirigente centrista. O sucessor de Borne ainda não foi nomeado, embora o ministro da Educação, Gabriel Attal, de 34 anos, apareça como o favorito. Até lá, Borne e seus ministros seguem governando o país.

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"Senhora primeira-ministra, querida Élisabeth Borne, o seu trabalho a serviço da nossa nação foi exemplar todos os dias (...) Obrigado de todo o coração", escreveu Macron na rede social X (antigo Twitter), após aceitar a sua demissão.

Com 62 anos, Borne, uma funcionária pública tecnocrata, tornou-se a segunda mulher a chefiar o governo francês como primeira-ministra em maio de 2022, depois de Macron se reeleger para um segundo mandato até 2027. O presidente têm enfrentado desafios crescentes, incluindo a perda da sua maioria absoluta na Assembleia Nacional.

Mas, os seus 20 meses como chefe de um governo sem maioria absoluta no Parlamento foram marcados por uma alta tensão política, como a reforma da Previdência imposta por decreto, em abril do ano passado, que meses antes provocou episódios de distúrbios urbanos, alguns violentos, em março. Ao menos 1,28 milhão de manifestantes, segundo as autoridades, tomaram as ruas contra a reforma que, entre outras mudanças, aumenta a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos.

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A aprovação da União Europeia, em dezembro, de uma ampla reforma migratória, que o governo endureceu para obter o apoio da direita, dividiu o partido no poder, especialmente quando a extrema direita comemorou a "vitória ideológica" da nova lei. A nova legislação provocou a demissão do ministro da Saúde, Aurélien Rousseau, e alimentou a ira entre os apoiantes de esquerda do presidente.

Em sua carta de demissão, à qual a AFP teve acesso, Borne, de 62 anos, considerou "mais necessário do que nunca seguir com as reformas". Seu sucessor ainda não foi nomeado, mas o ministro da Educação, Gabriel Attal, aparece como o favorito na linha de sucessão, após intensas manobras nos bastidores.

Se for nomeado, Attal, mais tecnocrático do que Borne e um dos ministros mais populares do governo, seria o quarto primeiro-ministro desde 2017 sob o comando de Macron, que é acusado pelos críticos de microgerenciar e centralizar o poder no Eliseu. O então ministro da Educação também seria o mais jovem chefe de governo da república francesa e o primeiro abertamente gay do país.

Além dele, os possíveis candidatos para suceder Borne incluem o ministro da Defesa Sebastien Lecornu, de 37 anos, e o ex-ministro da Agricultura Julien Denormandie, de 43 anos.

Mudança 'necessária'

De acordo com o sistema francês, o presidente define as políticas gerais e o primeiro-ministro é responsável pela gestão cotidiana do governo, o que significa que o último geralmente paga o preço quando uma administração entra em turbulência.

Por isso, a eleição do sucessor de Borne anuncia-se como crucial para tentar manter o frágil equilíbrio da aliança centrista de Macron, com deputados inclusive de centro-esquerda, em um contexto de opinião pública cada vez mais à direita.

Havia especulações de que a remodelação seria anunciada no final da semana passada. Mas, nenhuma notícia surgiu no fim de semana, com o presidente francês supostamente ponderando suas opções em reclusão em sua residência La Lanterne, nos terrenos do Palácio de Versalhes.

François Bayrou, líder do partido centrista MoDem, cujo apoio inicial a Macron foi fundamental para seu sucesso eleitoral inicial em 2017, disse à BFM TV que uma mudança na composição do governo era "necessária".

Embora Macron não possa concorrer novamente nas eleições presidenciais de 2027, o relançamento de seu governo é visto como importante para ajudar a evitar que a figura de proa da extrema direita, Marine Le Pen, se torne presidente.

As eleições para o Parlamento Europeu em junho de 2024 servirão de termômetro para a remodelação. O partido de extrema direita Reagrupamento Nacional, de Marine Le Pen, lidera as pesquisas com 27% dos votos, seguido pelo partido de Macron, Renascimento (19%), de acordo com uma pesquisa da Opinionway em meados de dezembro.

'Todas as opções em aberto'

Outros cargos importantes também estão sujeitos a incertezas. Entre eles está o ministro do Interior, Gerald Darmanin, 41 anos. O direitista liderou a reforma da imigração, mas acabou prejudicando-se após o texto ter sido inicialmente rejeitado pelo parlamento.

Antes, Darmanin era visto como candidato a um novo cargo, possivelmente como ministro das Relações Exteriores. Contudo, relatórios recentes indicam que ele pode permanecer em seu cargo.

O futuro da ministra das Relações Exteriores, Catherine Colonna, também tem sido objeto de especulação. O ministro das Finanças, Bruno Le Maire, o único ministro sênior a permanecer no cargo desde a eleição de Macron em 2017, provavelmente permanecerá em seu posto.

Macron aprecia "manter todas as opções em aberto até o último momento", disse uma fonte próxima ao Palácio do Eliseu, residência da Presidência. (Com AFP e Bloomberg)