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Terremoto no Japão: tragédia completa uma semana com 126 mortos e pelo menos 200 desaparecidos

Um dia depois, país assistiu atônito o choque entre duas aeronaves no aeroporto de Haneda, em Tóquio; uma das aeronaves preparava-se para entregar mantimentos às regiões atingidas

Agência O Globo - 08/01/2024
Terremoto no Japão: tragédia completa uma semana com 126 mortos e pelo menos 200 desaparecidos
Japão

Dor e desespero marcaram o início de 2024 no Japão. Há sete dias, o país foi atingido por um dos maiores terremotos desde o grande tremor de 2011, que vitimou mais de 20 mil pessoas e provocou o desastre nuclear de Fukushima. Sem tempo para processar o desastre, os japoneses presenciaram um dia depois o choque entre duas aeronaves no aeroporto de Haneda, em Tóquio. Em uma semana, as tragédias somam mais de 130 mortos — ao menos 126 vítimas do sismo e 5 do desastre aéreo.

Contexto: Veja o momento do terremoto que gerou alerta de tsunami no Japão; vídeo

Entenda: Como o planejamento do Japão para terremotos e tsunamis ajuda a proteger o país

Era 16h10 (horário local) quando Ishikawa, no centro da ilha de Honshu, principal do país, foi atingida por um terremoto de magnitude 7,5, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS). O abalo foi sentido também em Tóquio e na região de Kanto. Um alerta de tsunami foi emitido em seguida pela Agência Meteorológica do Japão (JMA, em inglês), com ondas que poderiam chegar até cinco metros de altura, mas foi afastado horas depois.

O impacto do sismo provocou o deslocamento de mais de 97 mil pessoas, em nove províncias. O terremoto também atingiu a rede de água potável, causando desabastecimento em 115 mil residências. A Península de Noto, próxima ao epicentro do terremoto, foi a mais atingida.

Estradas, prédios e ruas foram danificadas. Residências desabaram, ao passo que as mais antigas, feitas de madeira, sofreram danos severos. Na cidade costeira de Wajima, ao menos 200 foram consumidas por um incêndio, que também atingiu um prédio comercial, causando seu desabamento.

Sem energia, quase 45 mil residências enfrentaram uma noite com temperaturas congelantes. O mesmo ocorreu na cidade de Suzu. Pelo menos mil casas foram destruídas, deixando entre 4 e 5 mil pessoas desabrigadas. Quase 33 mil residências também enfrentaram as baixas temperaturas sem energia. Os danos foram classificados pelo prefeito Masuhiro Izumiya como “catastróficos”.

Em Tóquio, um evento público de saudação de Ano Novo pelo Imperador Naruhito foi cancelado. Como medida de precaução, os voos foram suspensos e os serviços de trem de alta velocidade operaram por quase 24 horas sob restrições. Cerca de 1,4 mil pessoas ficaram presas nos vagões, incluindo o embaixador da Geórgia, Teimuraz Lezhava. No aeroporto de Noto, em Wajima, outras 500 pessoas ficaram presas devido ao bloqueio nas estradas de acesso e à pista cheia de fissuras.

Localizado no chamado “anel de fogo” do Pacífico, o Japão é um dos países com mais terremotos. O arquipélago aplica regulamentos de construção extremamente rigorosos, sob os quais os edifícios costumam resistir a fortes terremotos, e os residentes estão habituados a esse tipo de situação.

Pesadelo nuclear

Após o terremoto inicial, a JMA registrou mais 155 tremores secundários, a maioria com magnitude superior a 3,0. O desastre levou o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, a anunciar um gabinete de crise ainda na segunda-feira.

Passado o tremor, a preocupação de primeira hora foi com a segurança das centrais nucleares japonesas. A memória do tsunami de 2011 e de seus impactos sobre a central de Fukushima, onde ocorreu um dos maiores desastres nucleares de todos os tempos, ainda assombra o Japão.

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Para alívio da população, apenas pequenos danos foram relatados em algumas usinas nucleares ao longo da costa do Mar do Japão, incluindo vazamentos de água usada para resfriar o combustível nuclear e um corte parcial de energia em uma usina.

O chefe de Gabinete do governo, Hayashi Yoshimasa, disse que um transformador na usina nuclear de Shika, em Ishikawa, foi afetado, mas não causou impactos à instalação ou riscos à população.

‘Corrida contra o tempo'

Com o fim do risco causado pelo terremoto, as equipes de resgate lançaram-se às buscas daqueles sob os escombros. Pelo menos 200 pessoas estão desaparecidas. O Ministério da Defesa deslocou mil militares para as áreas atingidas e deixou 8,5 mil soldados em prontidão. As autoridades também usaram 20 aviões para avaliar os danos causados.

A missão foi classificada como “uma corrida contra o tempo” pelo premier japonês, dado o número de soterrados. Por toda a província de Ishikawa, na ilha principal de Honshu, sirenes soaram enquanto veículos de emergência tentavam percorrer estradas bloqueadas por pedras e árvores caídas.

O trabalho das equipes de resgate foi dificultado pelo mau tempo e os rastros de destruição deixados pelo sismo. Uma equipe de bombeiros precisou rastejar sob um prédio em busca de sobreviventes. Muitos locais permanecem inacessíveis devido às estradas inutilizáveis por grandes rachaduras, queda de árvores e pedras. Tempestades e o risco de deslizamento de terra também tornaram a missão dos agentes laboriosa.

No sábado, um salvamento trouxe esperança. Uma mulher com cerca de 90 anos foi resgata, após passar 120 horas em meio aos escombros. Também foi encontrada uma outra mulher, de 40 anos, que sofria com uma parada cardiopulmonar.

Acidente aéreo

Um dia após o terremoto, cinco pessoas morreram, após uma colisão entre o avião da Guarda Costeira japonesa com uma aeronave comercial da companhia aérea Japan Airlines (JAL), na pista do Aeroporto Internacional Haneda, em Tóquio. A aeronave da guarda preparava-se para voar até a província de Ishikawa para entregar suprimentos às regiões atingidas pelo terremoto.

As investigações apontam que o voo da Japan Airlines havia sido liberado para pousar na pista 34R em Haneda, enquanto a aeronave da guarda costeira foi instruída a "taxiar até o ponto de espera C5" — local onde as aeronaves aguardam permissão para entrar na pista para decolagem. O resultado das investigações contradizem a versão dada pelo piloto, o único sobrevivente, que disse ter sido autorizado a entrar na pista.

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A colisão provocou uma bola de fogo e uma espessa fumaça preta. Apesar disso, todos os 379 passageiros e tripulantes conseguiram escapar, no que foi classificada pelas autoridades e especialistas em uma “fuga perfeita”. Seguindo à risca o treinamento, a tripulação conseguiu que todos deixassem o avião em menos de dois minutos, mesmo com apenas três saídas de emergência disponíveis.

Foram 18 minutos até o avião ser totalmente esvaziado, e o piloto foi o último a sair. Pouco depois, o avião virou um inferno, e dezenas de caminhões de bombeiros foram mobilizados para tentar apagar as chamas, o que levou oito horas. Catorze pessoas sofreram ferimentos leves, e apenas uma precisou de maiores cuidados médicos. Na sexta-feira, os restos queimados do avião comercial começaram a ser removidos.

O aeroporto de Haneda, um dos maiores do mundo, retomou a normalidade de suas operações somente nesta segunda-feira. A pista onde ocorreu o acidente, uma das quatro do Haneda, esteve fechada, provocando o cancelamento de centenas de voos, em sua maioria domésticos.