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Reitora de Harvard renuncia por acusações de plágio após polêmica sobre antissemitismo no campus

Harvard Corp., órgão que dirige a instituição de ensino americana, posicionou-se pela continuidade de Claudine Gay, apesar da pressão de alunos, ex-alunos e doadores por sua saída

Agência O Globo - 02/01/2024
Reitora de Harvard renuncia por acusações de plágio após polêmica sobre antissemitismo no campus

A reitora da Universidade Harvard, Claudine Gay, renunciou nesta terça-feira por acusações de plágio, mas denunciou ter sido vítima de ameaças e racismo. Ela vinha enfrentando críticas pela forma como casos de antissemitismo foram tratados no campus e por opiniões consideradas polêmicas — uma crise que afetou diversas universidades e escolas de ensino superior dos EUA, levando à demissão de gestores.

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Em meio à guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, as universidades americanas se tornaram palco de manifestações políticas. Protestos condenando a ofensiva de Israel contra o enclave palestino, contudo, acenderam rapidamente o debate sobre os limites da liberdade de expressão, levantaram questões sobre a independência das universidades e perturbaram as relações entre doadores, ex-alunos, professores e estudantes.

Casos de antissemitismo e crimes de ódio aumentaram nos EUA desde o ataque terrorista do Hamas, em 7 de outubro, que deixou cerca de 1.200 mortos em território israelenses. A contraofensiva de Israel, por sua vez, já deixou ao menos 18 mil mortos em Gaza. A questão mobiliza os ânimos de tal forma que, em determinados casos, críticas às políticas do governo de Israel são tomadas como manifestações de antissemitismo dentro dos campi .

Universidades de elite, principalmente, tornaram-se alvo do escrutínio público. Na semana passada, Gay e reitores de outras duas renomadas instituições de nível superior — a Universidade da Pensilvânia e o Massachusetts Institute of Technology (MIT), foram convocados a testemunhar em uma audiência do Congresso sobre antissemitismo nos campi. Em suas declarações de abertura, os reitores declararam estarrecimento diante do antissemitismo e disseram estar realizando ações contra o discurso de ódio contra judeus nos campi.

Os reitores foram bombardeados com perguntas, mas as criticas vieram principalmente ao responderem a uma da deputada republicana Elise Stefanik, de Nova York, envolvendo liberdade de expressão, sobre se a defesa de genocídio de judeus em suas instituições violaria seus códigos de conduta. Gay e a reitora da Universidade da Pensilvânia, Elizabeth Magill, disseram que "dependeria do contexto", em respostas que defensores da liberdade de expressão, como Will Creeley, diretor jurídico da Fundação pelos Direitos Individuais e Expressão, disseram estar legalmente corretas, mas que desencadearam uma avalanche de reprovações e pedidos para que perdessem seus cargos por serem consideradas "inaceitáveis" ou "bizarramente evasivas".

As crescentes críticas se inscreveram cada vez mais em uma batalha ideológica mais ampla sobre uma percebida inclinação esquerdista nas universidades de elite, com republicanos e alguns doadores vendo no debate uma chance de reformatar a educação superior no país.

— Precisamos de uma mudança cultural fundamental nos campi universitários — atacou o deputado republicano Kevin Kiley, da Califórnia, na sessão no Congresso com os três reitores.

Sob pressão cerrada, a reitora Magill, da Universidade da Pensilvânia, "apresentou voluntariamente sua renúncia", dias depois da audiência. Em entrevista posterior, Gay disse ter falhado em denunciar de forma apropriada as ameaças de violência a estudantes judeus.

Em Harvard, além da pressão política, alunos, ex-alunos e doadores se somaram aos esforços para tentar derrubar a reitora do cargo. Mais de mil estudantes e ex-alunos, incluindo doadores bilionários como Bill Ackman — que pediu a publicação de uma lista com os nomes de estudantes que tivessem tomado parte em um abaixo-assinado contra Israel para não contratá-los no futuro — exigiram que a escola substituísse Gay diante do aumento do antissemitismo no campus e das respostas apresentadas na sessão no Congresso.

Apesar disso, a primeira reitora negra da história de Harvard recebeu o apoio decisivo de 700 integrantes do corpo docente, que assinaram uma petição instando a liderança da escola a resistir às pressões políticas “em desacordo com o compromisso de Harvard com a liberdade acadêmica”.

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Nesta terça-feira, a Harvard Corp., órgão que dirige a universidade, pronunciou-se pela rede social X (antigo Twitter), em favor da reitora. “Neste momento tumultuado e difícil, apoiamos unanimemente a reitora Gay”, diz o comunicado.

A terceira reitora convocada ao Congresso, Sally Kornbluth, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), também permanece no cargo. Kornbluth recebeu "apoio inequívoco" do conselho escolar do MIT, na semana passada.

(Com Bloomberg)