Internacional

Aliado de Maduro libertado em troca de presos políticos com EUA afirma ter sido torturado na prisão

O empresário colombiano Alex Saab, libertado na semana passada, relatou em entrevista a um podcast detalhes sobre os mais de três anos em que esteve detido em Cabo Verde e nos Estados Unidos

Agência O Globo - 29/12/2023
Aliado de Maduro libertado em troca de presos políticos com EUA afirma ter sido torturado na prisão
Nicolás Maduro - Foto: Tv Brasil

O empresário colombiano Alex Saab, apontado como "laranja" do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse em entrevista a um podcast com o líder venezuelano nesta quinta-feira ter sofrido torturas e maus-tratos no período de mais de três anos em que esteve detido entre Cabo Verde e Estados Unidos.

— A tragédia começa na segunda noite [em Cabo Verde]: golpes, eu cheguei a ter quase todo o corpo roxo, cortaram meus braços (...) me jogavam álcool, água, colocavam a lâmpada no meu rosto — narrou Saab, libertado na semana passada em uma troca de presos políticos entre a Venezuela e os EUA. — Quebraram três dentes meus (...), me bateram muito forte.

O empresário foi preso em junho de 2020 em Cabo Verde e extraditado para os Estados Unidos em outubro de 2021 para ser julgado por acusações de lavagem de dinheiro. Ele era responsável pela importação de alimentos do programa governamental conhecido como CLAP, no qual se alegava existir uma rede de corrupção.

No entanto, o governo venezuelano sempre negou as acusações e, pelo contrário, classificava Saab como um "herói" que trazia alimentos para o país em meio às sanções dos Estados Unidos.

Saab sofreu "torturas" por vários meses, segundo suas declarações, por não contribuir com informações sobre as rotas dos navios que levariam medicamentos e alimentos para a Venezuela. Os maus-tratos acabaram em outubro de 2020, quando a direção da prisão foi destituída após a visita de um grupo de direitos humanos não identificado, confirmou o empresário.

Ele conta que passou meses em uma cela escura e que os oficiais da prisão pediam para ele utilizar um balde como banheiro. O que aconteceu na sequência foi uma "pressão psicológica", de acordo com Saab, que também denunciou ter recebido ameaças de morte.

Ele não detalhou sua prisão nos Estados Unidos após a extradição, mas afirmou que dois dias antes de sua libertação, ele foi trancado em uma cela de vidro de "3x3" metros sem receber alimentos ou água.

— [A cela] tem uma maca no meio, você se deita na maca, a temperatura é terrível, eu acho que -10 graus (Celsius), eu tremia, havia lâmpadas sobre o rosto — disse.

Com mediação do Catar, a libertação de Saab foi resultado de uma negociação "olho no olho" que aconteceu no país árabe, segundo o chefe da delegação do governo venezuelano nas conversas, Jorge Rodríguez.

Sua libertação ocorreu simultaneamente, também, às negociações entre a oposição e o governo venezuelano sobre as eleições no ano que vem, na qual os Estados Unidos são um fator chave.

Os contatos começaram em maio e, conforme Saab indicou, o acordo para a troca foi assinado cinco dias antes de sua libertação, em 20 de dezembro.