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Muito além do alarido midiático
Em uma sociedade onde, como nos ensina Guy Debord, o espetáculo midiatizado é o seu coração pulsante, torna-se imprescindível que procuremos, de tempos em tempos, nos isolar da enxurrada de informações que batem, sem dó, nas encostas da nossa mente para desbarrancar as ladeiras da nossa alma.
Todos nós estamos expostos a isso, não tem lesco-lesco, não adianta negar.
Basta um clique e lá estamos nós, de peito aberto e com a alma desarmada, de frente para as correntezas das redes sociais, ou diante dos tsunamis televisivos.
Lá estamos nós, vidrados com as imagens aliciantes que estimulam o cultivo do amor desmedido pelo dinheiro, que fomentam o deslumbre pelos sucessos ocos e que provocam, sem sutileza alguma, o deleite pelos prazeres fugazes.
E, tudo isso, junto e misturado, acaba esvaziando a nossa vida e destruindo a nossa mirrada capacidade de discernimento, agrilhoado o nosso olhar ao frenesi de uma sucessão de imagens que espelham, em nossa alma, um turbilhão de desejos que não são nossos.
Desejos esses que, muitas vezes, acabam sendo adotados por nós, como um “norte” para a bússola quebrada da nossa vida exaurida de sentido e isso, meu caro Watson, é um trem pra lá de perigoso.
Por essas e outras, é tão importante darmos uma estancada nessa loucuragem toda que, de certa forma, todos nós aderimos, inicialmente, de forma voluntária, em nosso dia a dia.
Frear a nossa adesão a volúpia midiática, que se encontra no centro da vida moderna, é algo sumamente necessário para darmos uma trégua para nós mesmos e, podermos, como nos ensina Érico Veríssimo, parar para olhar os lírios do campo, as aves do céu e assim, aquietar nossas vistas e abrandar o nosso coração.
Enfim, pararmos um pouco com o desassossego midiático e vermos a vida sem câmeras, sem filtros, sem likes, sem parafernálias; somente a alegria simples, sem alarido; apenas os momentos pequeninos, sem pretensões megalômanas de querer parecer um grande e tedioso espetáculo para um público massificado.
Feliz 2024.
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