Internacional
Sem responsabilidade coletiva, 'mundo viverá desafios ainda maiores', diz representante de ONG russa ganhadora do Nobel
Em série de cartas de vencedores do Nobel publicadas pelo GLOBO, Sergei Davidis, da organização Memorial, agraciada em 2022, alerta para riscos à segurança internacional em 2024
O ano de 2023 foi um ano que particularmente ressaltou a crise da segurança internacional e do sistema de direitos humanos. A principal lição do ano, me parece, é que o desprezo pelos direitos humanos e a vontade política insuficiente para, não apenas só com palavras, proteger esses direitos levou ao estouro de conflitos armados e às mortes de dezenas de milhares de pessoas em vários cantos do mundo.
Todos contamos demais com o sistema de tratados internacionais e organizações, na esperança de que eles pudessem, por si só, preservar os avanços obtidos, e contribuíssem para avançar com os progressos, mesmo que a um passo lento.
Infelizmente, o ano de 2023 (não apenas ele, mas foi um ano que nos mostrou isso de maneira vívida) tornou evidente que, sem os esforços enérgicos de todos os países do mundo, de toda a humanidade, não apenas avançar, mas mesmo preservar o frágil status quo é impossível.
Nós, defensores russos dos direitos humanos, desde 24 de fevereiro de 2022, somos testemunhas e participantes forçados de uma tragédia horrenda da guerra de larga escala contra a vizinha Ucrânia. As mortes diárias de dezenas e centenas de pessoas: ucranianos pacíficos, defensores heróicos da Ucrânia, mas também russos, em grande parte enganados e coagidos, continuaram em 2023. A condição para o início e a continuidade dessa guerra horrenda foi a crescente repressão em massa dentro da Rússia e nos territórios ocupados da Ucrânia.
Infelizmente, a comunidade internacional, nos muitos anos que levaram à grande guerra, reagiu de maneira frágil às graves violações dos direitos humanos na Rússia, e não tomou medidas necessárias para impedi-las. E em outras partes do mundo, a invasiva e sangrenta guerra do regime de [Vladimir] Putin contra a liberdade do povo ucraniano e contra a própria existência do Estado ucraniano foi paradoxalmente incompreendida como uma luta contra o imperialismo.
Mas ainda mais importante, os próprios russos não demonstraram a vontade e energia necessárias para parar a ditadura e proteger os direitos humanos. A situação em nosso país é mais clara e mais próxima de nós, mas o problema é universal e se manifestou em outros conflitos ao redor do mundo em 2023.
Não temos soluções prontas, mas se não assumirmos a responsabilidade pelo futuro, se nós fracassarmos na reconstrução do sistema de segurança internacional e de proteção dos direitos humanos, que são inseparáveis entre si, e se nós fracassarmos ao fazer com que esse sistema seja eficiente e eficaz, o mundo viverá desafios ainda maiores.
*integrante do Centro Memorial de Defesa dos Direitos Humanos, membro da grande família Memorial, da Rússia, ONG vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 2022.
Mais lidas
-
1ALIANÇA DE COBRA D'ÁGUA COM JACARÉ
Paulão do PT abandona bandeira do partido e faz aliança com GG, ex-preso pela PF: pragmatismo ou contradição política?
-
2VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Marido agride e humilha esposa deixando-a nua em plena rua em Palmeira dos Índios
-
3OBITUÁRIO
Cleodon Aguiar, filho do maestro Edinho, morre aos 56 anos em Palmeira dos Índios
-
4INDENIZAÇÃO
União é condenada a pagar R$ 1 mi a família de Genivaldo, morto na 'câmara de gás' da PRF
-
5ASSASSINATO
Discussão em um bar, acaba com jovem assassinado em Arapiraca