Internacional
'Pessoas comuns podem mudar a História mais rápido do que uma intervenção da ONU', diz chefe de ONG vencedora do Nobel
Em série de cartas de agraciados pelo Nobel da Paz publicadas pelo GLOBO, Oleksandra Matviichuk, do Centro de Liberdades Civis, defende ainda responsabilização por guerras e invasões
Ainda estou determinando como os historiadores do futuro vão classificar esse período, mas nós vivemos em tempos bem turbulentos. A ordem mundial, centrada na Carta das Nações Unidas e na lei internacional, está entrando em colapso diante de nossos olhos. O sistema global já enfrentou problemas antes, mas agora está preso em movimentos ritualísticos. O Conselho de Segurança está paralisado. Entramos em um período de turbulência, e incêndios (guerras) vão surgir com mais frequência porque as redes globais estão com problemas e causando faíscas por toda parte.
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Passei muitos anos aplicando a lei para defender as pessoas e a dignidade humana como advogada de direitos humanos. Agora estou em uma situação na qual a lei não funciona. Forças russas invadiram a Ucrânia. Estão destruindo prédios residenciais, igrejas, museus, escolas e hospitais. Eles atiram contra corredores de evacuação. Eles torturam pessoas em campos de filtragem. Eles levaram crianças ucranianas para a Rússia de maneira forçada. Eles proíbem a língua e a cultura ucranianas. Eles sequestram, saqueiam, estupram e matam em territórios ocupados. E toda a arquitetura da ONU não consegue parar isso.
A principal questão de nosso tempo é como nós, no século XXI, vamos defender seres humanos, suas vidas, suas dignidades e liberdades? Podemos contar com a lei, ou apenas força bruta importa? É importante entender isso, não apenas as pessoas na Ucrânia, Síria, China, Nicarágua ou Sudão. A resposta para essa questão determinará nosso futuro comum.
O mal impune cresce. Se queremos paz, precisamos punir líderes autoritários que lançam guerras e ocupação. Um mecanismo é necessário para responsabilizar um Estado por atos de agressão, incluindo com reparações aos Estados vitimizados. Isso exige iniciar um novo tratado internacional, dentro do escopo da ONU, acompanhado por uma reforma do sistema. Caso contrário, nos veremos em um mundo que será perigoso para todos, sem exceção.
Mas olho para o futuro com otimismo. Sei com certeza que se não podemos contar com os mecanismos legais, podemos contar com as pessoas. Neste momento, em vários países muitas pessoas estão lutando pela liberdade e dignidade humana. Estamos acostumados a pensar em categorias de Estados e organizações internacionais. Mas as pessoas comuns podem ter mais impacto do que qualquer um poderia imaginar. Pessoas comuns podem mudar a História mais rápido do que uma intervenção da ONU.
*chefe da ONG Centro de Liberdades Civis, ganhadora do Nobel da Paz de 2022.
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