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Irã, Iêmen, Síria, Cisjordânia, Iraque e Líbano: Israel diz que guerra é travada em 6 frentes além de Gaza

O ministro da Defesa afirma que o Exército israelense responde às agressões de seis países desde o ataque terrorista de 7 de outubro e promete: 'quem atuar contra nós não terá imunidade'

Agência O Globo - 27/12/2023
Irã, Iêmen, Síria, Cisjordânia, Iraque e Líbano: Israel diz que guerra é travada em 6 frentes além de Gaza
Foto: Reprodução

Oitenta e dois dias após o início da Guerra Israel x Hamas na Faixa de Gaza, o conflito assume cada vez mais uma escala regional. O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, garantiu na terça-feira durante a Comissão de Defesa do Parlamento que o seu país luta em sete frentes e que, até agora, respondeu a ataques em seis delas.

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Além de Gaza, onde já morreram quase 21 mil pessoas, e da Cisjordânia — a qual Gallant referiu como “Judeia e Samaria” —, onde as incursões são quase diárias, as hostilidades estenderam-se, segundo o ministro, ao Irã, Iêmen , Síria, Líbano e Iraque.

— Digo isso aqui da forma mais explícita — alertou Gallant durante seu discurso. — Qualquer pessoa que atue contra nós como um alvo em potencial não terá imunidade.

Até segunda-feira, os combates de Israel para além das suas fronteiras e dos territórios ocupados limitavam-se a atores secundários aliados do Irã, como o Hezbollah no Líbano, cujos ataques no norte do país forçaram o deslocamento de dezenas de milhares de israelenses.

Mas há três dias, Teerã acusou as Forças Armadas de Israel de terem matado o general da Guarda Revolucionária Iraniana, Razi Mousavi, e três outros, ao lançar vários mísseis enquanto ele estava em Sayida Zeinab, um bairro a sul de Damasco, a capital da Síria. Israel, que não confirmou o seu envolvimento no ataque, acusou o general iraniano de traficar armas do Irã e de financiar a guerrilha xiita libanesa e outras organizações islâmicas na Síria.

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A televisão pública iraniana interrompeu a sua transmissão para dar a notícia. O presidente do país, Ebrahim Raisi, garantiu que o ataque foi “um sinal da frustração e fraqueza do regime sionista, pelo qual certamente pagará um preço”.

A Guarda Revolucionária Iraniana, por sua vez, emitiu uma declaração com tom semelhante. “Sem dúvida, o regime usurpador e selvagem sionista pagará por este crime”, dizia a nota, que previa “sofrimento” para Israel. Mousavi foi encarregado de coordenar a aliança militar entre a Síria e o Irã e foi um dos principais colaboradores de Qassim Suleimani, chefe das Forças Quds (unidade especial da Guarda Revolucionária), assassinado pelos EUA em um ataque com drones no dia 3 de janeiro de 2020 em Bagdá, capital do Iraque.

— Não vou comentar as ações que realizamos — disse o chefe do exército israelense, Herzi Halevi, quando questionado sobre o ataque, acrescentando: — Os militares estão trabalhando com outras organizações de segurança em todo o Oriente Médio, dentro e em torno das fronteiras estaduais.

Halevi garantiu que Israel agirá sempre que necessário “para deixar bem claro que estamos empenhados em defender o nosso país e dispostos a ir longe”.

Se a responsabilidade israelense pela morte do alto funcionário militar iraniano for confirmada, isso significaria uma escalada do conflito. Embora o regime de Teerã não tenha até agora tomado qualquer medida direta contra Israel e apenas tenha aumentado a sua retórica ameaçadora, ele intensificou consideravelmente a sua atividade contra o Estado judeu desde o dia 7 de outubro. Não apenas financiando e armando milícias xiitas no Líbano e na Síria, mas também rebeldes Houthis no Iêmen.

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) alertou que o arqui-inimigo de Israel triplicou nas últimas semanas a produção de urânio enriquecido para 60%, abaixo dos 90% necessários para fabricar armas atômicas, mas bem acima do máximo de 3,67% imposto pelo acordo de 2015 sobre o seu programa nuclear, que os Estados Unidos abandonaram unilateralmente três anos depois.

Rebeldes Houthis

Outra frente citada por Gallant é a do Iêmen. Desde o início do conflito, a milícia Houthi, também patrocinada pelo Irã, lançou vários ataques de drones contra o sul de Israel e, durante semanas, tem assediado navios que transitam no Mar Vermelho, o que forçou os Estados Unidos a organizarem uma força multinacional para enfrentá-los e facilitar o tráfego marítimo de e para o Canal de Suez.

Os dois últimos incidentes naquela zona foram registados na terça-feira. A Autoridade da Marinha Mercante do Reino Unido registou duas explosões e anunciou que dois drones foram avistados a cinco milhas náuticas de um navio que transitava ao largo da costa do porto iemenita de Hodeida. Outra embarcação foi atacada com mísseis na mesma área. Os projéteis, que caíram a meia milha e quatro milhas, não danificaram o cargueiro, segundo aquela mesma fonte, que confirmou não haver vítimas mortais em nenhuma das tripulações. No final da tarde, um porta-voz Houthi disse que lançou o ataque depois que sua tripulação ignorou três avisos da milícia.

Os Houthis também alegaram ter lançado vários ataques de drones contra a cidade israelense de Eliat, na costa do Mar Vermelho, no sul, e contra “outras áreas da Palestina ocupada”.

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Na frente libanesa, Israel atacou mais uma vez alvos do Hezbollah no sul do país, no enésimo conflito entre ambos os lados desde os ataques de 7 de Outubro. As Forças Armadas de Israel responderam assim ao lançamento de um míssil antitanque que atingiu diretamente a Igreja Ortodoxa de Santa Maria, na cidade israelita de Iqrit, na fronteira com o Líbano, segundo um porta-voz militar. Nove soldados israelenses ficaram feridos no ataque, um dos quais está em estado grave. Os foguetes do Hezbollah também atingiram uma cooperativa agrícola na cidade israelense de Dovev.

Em outro cenário de guerra elencados pelo ministro da Defesa israense, o iraquiano, foram os Estados Unidos que atuaram militarmente na segunda-feira, depois de a milícia pró-Irã Kataib Hezbollah ter atacado a base norte-americana em Erbil, lançando sobre ela um drone, deixando em estado crítico um soldado americano e ferindo outros dois. Não é o primeiro ataque a Erbil ou a outras instalações militares dos EUA no Iraque e na Síria desde 7 de Outubro.

“Esses ataques têm como objetivo responsabilizar os autores dos ataques e prejudicar sua capacidade de continuar com eles. Protegeremos sempre as nossas forças”, disse o general Michael Kurilla, chefe do Comando Central dos EUA, em um comunicado divulgado pela Reuters.

Nos territórios ocupados, outra frente nomeada por Gallant foi a Cisjordânia, onde ocorreram incursões e ataques israelenses desde o início do conflito e o apoio ao Hamas continua a aumentar, quase quadruplicando desde 7 de outubro. Na terça-feira, soldados israelenses mataram a tiro um homem de 31 anos e um menor de 17 anos no campo de refugiados de al-Fawwar, ao sul da cidade de Hebron.

Em Gaza, onde o número de mortos já chega a 21 mil, Israel continuou os seus ataques. Os médicos do hospital Nasser em Khan Younis afirmaram que 10 palestinos morreram em dois atentados na terça-feira.

— Na casa que foi bombardeada havia pessoas deslocadas e moradores, mais de 20 pessoas no total, crianças e mulheres — disse à Reuters um dos moradores da área atacada. — Conseguimos resgatar algumas crianças, mas o resto morreu.

A ONU continua apelando a Israel para parar de matar inocentes:

— Estamos muito preocupados com a continuação dos bombardeios no centro de Gaza, onde ocorreram mais de 100 mortes desde a véspera de Natal — disse um porta-voz do gabinete de Direitos Humanos da organização. — O exército israelense deve tomar todas as medidas possíveis para proteger os civis. Os avisos e ordens de deslocamento não os isentam do cumprimento das obrigações impostas pelo direito humanitário internacional.

Um porta-voz do Governo israelenses garantiu na terça-feira que os pedidos de visto dos funcionários da agência internacional serão analisados ​​“caso a caso”.