Um avião retido desde quinta-feira (21) na França devido a suspeitas de tráfico de pessoas aterrissou em Bombaim, na Índia, na madrugada desta terça-feira (26). Autoridades informaram que a aeronave pousou com 276 dos seus 303 passageiros iniciais, todos de nacionalidade indiana.

O Airbus A340 que ia do Dubai com destino a Manágua tinha sido detido após uma denúncia anônima no aeroporto de Vatry, a leste de Paris), onde tinha feito escala para reabastecer combustível. Segundo a acusação, entre os passageiros estariam vítimas de tráfico de pessoas.

Não houve nenhuma declaração oficial do governo indiano sobre a chegada da aeronave ou quando ela poderá prosseguir. Após quatro dias de investigações e interrogatórios no aeroporto francês de Vatry, o avião foi autorizado a partir.

Do contingente inicial de passageiros, 25 pediram asilo na França e dois foram detidos para interrogatório, embora tenham sido libertados pouco depois, de acordo com fontes judiciais. Entre os requerentes de asilo estão cinco dos onze menores não acompanhados que viajavam no voo.

Uma fonte próxima à investigação indicou que provavelmente havia trabalhadores indianos no voo nos Emirados Árabes Unidos que buscavam chegar à América Central para tentar seguir para os Estados Unidos ou Canadá.

Durante a investigação, os passageiros permaneceram em áreas disponibilizadas pelos serviços de proteção civil, com camas, casas de banho e chuveiros individuais.

A advogada da companhia aérea, Liliana Bakayoko, indicou que muitos passageiros recusaram embarcar para o novo destino. - Várias pessoas não querem ir para a Índia, estão muito insatisfeitas, querem ir para a Nicarágua-, destino que alguns afirmaram ser para fins turísticos.

Situação surpreendente

- Não sabemos se se trata de um caso de tráfico de seres humanos, de contrabando de migrantes ou de nenhuma das duas coisas (...). Mas mesmo assim, ele ficou detido num aeroporto durante três noites e três dias. 303 pessoas fazendo uma escala, homens, mulheres e crianças. É algo surpreendente -, a coordenadora do Coletivo Secours Catholique-Caritas contra o Tráfico de Pessoas, Geneviève Colas, à AFP.

Se foram vítimas de tráfico, não é normal obrigá-los a partir para outro país -”, acrescentou. O sistema judicial descartou indiciar as duas pessoas que interrogava desde segunda-feira como alegadamente envolvidas numa rede de tráfico de seres humanos. Elas foram libertadas e ordenadas a abandonar o território francês.

A advogada de um deles, Salomé Cohen, comemorou a decisão e considerou que a juíza que a emitiu procedeu a “uma leitura extremamente precisa que soube distanciar-se da cobertura mediática deste processo”.

Embate diplomático

A retenção do avião ocorreu numa altura em que os Estados Unidos alertaram que a Nicarágua permite a operação de voos para facilitar a passagem de migrantes irregulares.

“O que o governo [da Nicarágua] fez foi facilitar o negócio de uma rede de serviços aéreos internacionais para que as pessoas possam chegar mais rapidamente à fronteira com o México e os Estados Unidos através do território da Nicarágua como uma ponte de transição”, disse o analista Manuel Orozco. , do think tank Diálogo Interamericano, à AFP.

Para o [presidente] Daniel Ortega, disse o analista, “os Estados Unidos são um inimigo que deve ser atingido tanto quanto possível” e a migração “é um mecanismo de política externa e ao mesmo tempo uma oportunidade económica”.