Internacional

O Natal ‘sombrio’ em Gaza enquanto Israel continua bombardeando a região

O conflito eclodiu há 80 dias, em 7 de outubro, depois que o Hamas lançou um ataque surpresa em Israel que deixou cerca de 1.140 mortos

Agência O Globo - 25/12/2023
O Natal ‘sombrio’ em Gaza enquanto Israel continua bombardeando a região

Israel continuou esta segunda-feira a bombardear Gaza e o movimento islâmico Hamas informou que os ataques deixaram muitos mortos, numa noite de Natal que para os cristãos palestinianos foi marcada por uma guerra sem sinais de fim.

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Em Belém, na Cisjordânia ocupada, onde segundo a tradição cristã Jesus nasceu, a prefeitura suspendeu a maior parte das festividades e as ruas, que costumam ficar lotadas nesta época, ficaram quase desertas.

O movimento islâmico palestino Hamas, que governa a Faixa de Gaza, afirmou na manhã de segunda-feira que um bombardeio israelense deixou pelo menos 18 mortos em Khan Yunis, no sul deste território sitiado.

Fadi Sayegh é um cristão palestino que passou a véspera de Natal no hospital Khan Younis para fazer diálise e disse que não vai comemorar o Natal este ano.

"Não há alegria. Não há árvore de Natal nem enfeites, não há jantar em família e nem celebração", lamentou. "Rezo para que esta guerra termine logo."

A freira Nabila Salah, da Igreja Católica de Gaza, também não teve ânimo para comemorar.

Neste mesmo mês, uma mãe e a sua filha, refugiadas numa igreja católica na cidade de Gaza, foram mortas a tiro por um soldado israelita, denunciou o Patriarcado Latino de Jerusalém.

“Como posso comemorar enquanto minha cidade está destruída, minha família desalojada e meus irmãos e irmãs de luto?” declarou a freira.

O conflito eclodiu há 80 dias, em 7 de outubro, depois que o Hamas lançou um ataque surpresa em Israel que deixou cerca de 1.140 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados israelenses.

Os comandos do movimento islâmico também sequestraram cerca de 240 pessoas e 129 permanecem cativas em Gaza, segundo as autoridades israelenses.

Em resposta, Israel prometeu “aniquilar” o Hamas e lançou uma ofensiva terrestre e aérea que deixou 20.424 mortos em Gaza, segundo o movimento islâmico que governa sozinho este território palestiniano desde 2007.

O Papa Francisco iniciou as celebrações da véspera de Natal no domingo criticando o “rugido das armas”.

“Nosso coração esta noite está em Belém, onde o Príncipe da Paz continua rejeitado pela lógica perdedora da guerra, com o rugido das armas que também hoje o impedem de encontrar uma pousada no mundo”, disse o pontífice argentino durante a missa em Basílica de São Pedro, Vaticano.

Atentados na véspera de Natal

O Ministério da Saúde do Hamas informou no domingo que pelo menos 70 pessoas foram mortas por um bombardeio israelense que atingiu o campo de refugiados de Al Maghazi, no centro da Faixa de Gaza. Os militares israelenses disseram à AFP que estão “investigando” este “incidente”.

O porta-voz da autoridade de saúde, Ashraf al-Qudra, disse que o número de mortos provavelmente aumentará porque havia muitas famílias na área no momento do bombardeio.

O Hamas disse que outras dez pessoas foram mortas no campo de Jabalia, no norte de Gaza.

A AFP não conseguiu verificar este relatório de forma independente.

A guerra causou uma devastação generalizada em vastas áreas de Gaza e os seus 2,4 milhões de habitantes sofrem com a escassez de água, alimentos, combustível e medicamentos devido ao cerco imposto por Israel dois dias após o ataque do Hamas. Desde então, a população depende desesperadamente do influxo de ajuda humanitária.

80% da população foi deslocada pela guerra, segundo a ONU, e muitos fugiram para o sul deste estreito território de 362 km2 e agora subsistem em tendas, expostos ao frio.

O chefe da agência da ONU para os refugiados (ACNUR), Filippo Grandi, afirmou que “a única saída é um cessar-fogo humanitário”.

O diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, lamentou “a destruição do sistema de saúde de Gaza”, que descreveu como “uma tragédia”.

"Não há outra opção"

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse no domingo que seu país paga “um preço alto pela guerra”, mas disse: “Não há escolha a não ser continuar lutando”.

“A guerra será longa”, alertou.

O exército israelita reportou esta segunda-feira a morte de mais dois soldados, elevando para 17 o número de vítimas sofridas desde sexta-feira. No total, 156 militares israelitas foram mortos desde o início da ofensiva terrestre de Israel na Faixa de Gaza, no final de Outubro

Dois palestinos detidos em Gaza por soldados israelenses relataram no domingo que sofreram tortura, acusação corroborada por um médico e negada pelo exército.

O médico Marwan al Hams, diretor do hospital Najar, em Rafah, sul de Gaza, disse que os homens apresentam hematomas e marcas de golpes.