Internacional
Eleições em três estados testam a democracia na Alemanha
Eleitores vão às urnas em 2024 num momento de fortalecimento de radicais de direita e polarização da sociedade
No livro “Como as democracias morrem”, os autores Steven Levitsky e Daniel Ziblatt defenderam a tese de que não são mais os golpes de Estado em um dia D que derrotam as democracias. Candidatos eleitos por vias democráticas implodem, pouco a pouco, os pilares do Estado Democrático de Direito. Foi assim em Hungria, Turquia e Egito, com uma tentativa no Brasil a partir de 2018. Na Alemanha, a vertiginosa ascensão do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que começa a colher resultados significativos nas urnas, deixa muitos apreensivos e já acende o sinal amarelo.
Pois, em 2024, haverá eleições em Turíngia, Saxônia e Saxônia-Anhalt, estados que são solo fértil para a AfD, em novo teste para a democracia na Alemanha, que nunca em sua recente História depois da reunificação, em 1990, teve a sociedade tão dividida e a classe política tão desacreditada.
O AfD foi fundado 2013, seu carro-chefe era o avesso à política da União Europeia e ao euro. Em dez anos de existência, o partido se radicalizou, dando uma considerável guinada à direita populista e extremista. Enquanto anos atrás, pleiteava a redução do número de imigrantes, hoje pede o fechamento das fronteiras alemãs, o que implicaria o fim do Acordo de Schengen de livre circulação entre os países-membros. Nos estados da Saxônia e da Turíngia, ambos no leste do país, a AfD é monitorada pelo Serviço Secreto.
20% nas pesquisas
O partido se apresenta cada vez mais forte nas eleições. Em âmbito federal, as pesquisas dão à AfD no mínimo 20%, tornando-a a segunda força política no país. Em outubro, nas eleições na Baviera e em Hesse, a AfD teve desempenhos históricos, chegando em segundo nos dois estados da antiga parte ocidental que, juntos, constituem cerca de 25% do eleitorado do país. No último dia 17, o partido conseguiu outro feito nas urnas: a vitória de Thomas Lochner em Pirna, de 40 mil habitantes, com 38,5% do votos, seu primeiro prefeito de uma cidade de maior porte.
Para Thomas Poguntke, codiretor do Instituto de Pesquisa de Partidos Políticos, a boa atuação nas urnas tem a ver com o péssimo desempenho do governo federal.
—Constatamos uma grande perda de aderência aos partidos políticos estabelecidos, dos quais os Verdes também fazem parte, somada a uma grande insatisfação com o desempenho do atual governo que cresce na população — disse ele ao GLOBO.
Aposta no medo
Em sua narrativa, o partido instiga, acima de tudo, o medo, aposta na divisão entre alemães e estrangeiros, entre pobres e ricos. Rotulado como “Partido de gente de mau humor” pelo chanceler Olaf Scholz e tido como fruto da antiga parte oriental da Alemanha, onde eleitores se sentem “esquecidos” ou mesmo “perdedores” da reunificação das duas Alemanhas, o partido vai correndo por fora.
—No mundo inteiro, partidos populistas se apropriam de um discurso vitimista, independentemente de se esse papel e justificável, e o agressor é a elite política dos partidos estabelecidos — disse o analista político Felix Neumann, da Fundação Konrad Adenauer, em Berlim. — Esse discurso do chanceler é um prato feito para o partido, do tipo “estamos sendo oprimidos, querem nos rotular de algo que não somos”.
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