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Eu e a Braskem
O Trapiche da Barra é um dos bairros mais antigos de Maceió. Começou com um porto na lagoa Mundaú que transportava mercadorias e passageiros aos povoados e pequenas cidades à margem da imensa lagoa. Aos poucos, o bairro foi se modernizando. A classe média e a alta descobriram a beleza, o clima de constante brisa e a excelente qualidade de vida. Um paraíso entre a lagoa e o mar.
Nos anos 70 o bairro do Trapiche da Barra tinha se transformado no futuro urbano de Maceió. No bairro construíram uma ótima infraestrutura: Escolas, Universidade, o “Campus Tamandaré”, Faculdade de Medicina, Hospital Carneiro, Hospital do Pronto Socorro, Ginásio Esportivo Completo, o Trapichão (Estádio Rei Pelé), Supermercados, Motonáutica Clube, comunidade das mulheres rendeiras, cemitério, praças, entre outros equipamentos urbanos e culturais. O Trapiche estava pronto para o futuro. Construíram belas casas, já se pensava na construção vertical entre edifícios e hotéis, competindo com a Pajuçara e Ponta Verde, quando estourou a bomba.
“No bairro do Trapiche da Barra será instalada uma fábrica de produtos químicos aproveitando as jazidas de Salmoura no sub solo da lagoa Mundaú nos bairros da região de Bebedouro”.
Para nós que já tínhamos comprado um terreno pensando em construir um edifício de seis andares, 18 apartamentos com vista para o mar e a lagoa, foi uma tristeza. Apenas alguns ecologistas, alguns estudantes fizeram manifestações contra a implantação da Fábrica Salgema (Braskem). Com a notícia, os imóveis da região foram desvalorizados estupidamente. Desistimos de construir o primeiro belo edifício do Trapiche. Acabaram com o futuro da região. O movimento ambientalista ainda era incipiente. No tempo da ditadura o Sistema Econômico era forte. Aliás, até hoje os Podres Poderes continuam musculosos.
Em 1976, quatro meses antes de iniciar o funcionamento da Fábrica Salgema (Braskem), houve uma reunião com os chefões da Fábrica, Polícia Militar, Bombeiros, autoridades e o pró reitor Radjalma Cavalcante do Campus Tamandaré que funcionava na antiga Escola de Aprendizes de Marinheiro, no final da restinga. Abriram a reunião, um Chefão dirigiu-se ao pró reitor Radjalma perguntando.
- Quantos alunos e funcionários tem o “Campus Tamandaré”, senhor Reitor?
- Cerca de 3.000 (três mil) entre funcionários e alunos. Respondeu Radjalma prontamente.
- Dentro de três meses a fábrica Salgema estará funcionando. E para maior segurança em um eventual vazamento de cloro ou outro produto, é necessário que a Universidade Federal de Alagoas adquira 3.000 (três mil) máscaras contra gases para os alunos e construa um galpão revestido de protetor contra gases tóxicos, que caiba 3.000 (três mil) pessoas. - Ordenou o Chefão como se o resto do mundo fosse à ele subordinado.
- A Universidade Federal de Alagoas não tem dotação para comprar as máscaras, nem de construir esse galpão. - Respondeu prontamente o Pró-Reitor Radjalma Cavalcante olhando nos olhos do Chefão.
- Isso é problema da Universidade.
Encerrou bruscamente a reunião e partiu sem conversa o Chefão.
A Fábrica Salgema (Braskem) iniciou sua produção de matérias cloradas expulsando 3.000 (três mil) estudantes universitários do Pontal da Barra no Trapiche, acabou com o “Campus Tamandaré”. Essa história, o brilhante professor Radjalma Cavalcante contava abertamente em qualquer lugar.
Alguns amigos ainda lembram com saudades do “Campus Tamandaré” onde estudavam cerca de 3.000 universitários. A UFAL teve que alugar urgente algumas casas até terminar a construção e inaugurar a Cidade Universitária no Tabuleiro. (Continua).
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