Internacional

Além da guerra, mulheres enfrentam outros estresse adicional em Gaza: a menstruação

Sem acesso a suprimentos e deslocadas, palestinas enfrentam falta d'água, risco de infecções e recorrem à fraldas — descartáveis e de pano — durante período menstrual

Agência O Globo - 13/12/2023
Além da guerra, mulheres enfrentam outros estresse adicional em Gaza: a menstruação
israel - Foto: AGENCIA BRASIL

Além da angústia da guerra entre Israel e o Hamas, que teve início no dia 7 de outubro, as mulheres na Faixa de Gaza sofrem o estresse adicional da menstruação. Em um cenário humanitário cada vez mais grave, elas são obrigadas a utilizar fraldas ou pedaços de pano, somadas às condições humilhantes Às quais são submetidas e o risco de infecções. O enclave palestino sofre uma escassez de alimentos, água e produtos sanitários, com o deslocamento de 80% de seus mais de 2 milhões de habitantes devido ao conflito.

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— Corto roupas dos meus filhos ou qualquer pedaço de pano que encontro e uso como absorvente — explica Hala Ataya, de 25 anos, à AFP, em Rafah, no sul de Gaza, para onde muitos fugiram. — Tomo banho a cada duas semanas.

Forçada a deixar sua casa no campo de refugiados em Jabaliya, no norte do enclave, a jovem está atualmente instalada em uma escola administrada pela Organização das Nações Unidas (ONU), onde compartilha chuveiro e banheiro — que cheira mal e está cheio de moscas — com centenas de pessoas. As ruas de Rafah, cidade na fronteira com o Egito, estão virando lixões a céu aberto.

'Voltamos à Idade da Pedra'

Rafah se transformou em um imenso campo de refugiados com a chegada de grande parte da população, impedida de sair do território. Gaza sofre com um severo bloqueio marítimo, aéreo e terrestre por parte de Israel desde 2007, quando o Hamas chegou ao poder.

— Voltamos à Idade da Pedra. Não há segurança, alimentos e água, não há higiene. Me sinto envergonhada e humilhada — assegura Samar Shalhoub, de 18 anos, deslocada da Cidade de Gaza, no norte.

A guerra foi desencadeada após o ataque sem precedentes de 7 de outubro por combatentes do Hamas, que mataram cerca de 1.200 pessoas em Israel, em sua maioria civis, segundo autoridades israelenses. A resposta do Exército israelense já matou cerca de 18.200 palestinos, em sua maioria crianças e mulheres, segundo os últimos números do Ministério da Saúde de Gaza.

Sem acesso a produtos de higiene, Shalhoub utiliza retalhos em seus períodos menstruais, o que tem causado "irritação e infecções de pele". Os pedidos por anticoncepcionais quadruplicaram por mulheres que buscam controlar seus períodos, afirma Marie-Aure Perreaut Revial, do Médicos Sem Fronteiras (MSF).

'Absolutamente nada'

A organização ActionAid adverte que há pouca água para lavar e que alguns abrigos têm apenas um chuveiro para cada 700 pessoas e um sanitário para cada 150.

— Não há absolutamente nada: privacidade, sabonetes, produtos menstruais — alerta a ONG.

Para Ahlam Abu Barika, em seu terceiro mês de deslocamento, a higiene pessoal é uma "batalha diária".

— As mulheres usam fraldas ou panos para embrulhar bebês. Não há água suficiente — lamenta Abu Barika, que já perdeu 15 quilos ao comer e beber menos para ceder aos seus cinco filhos e reduzir as idas ao banheiro.

A ONG Action Against Hunger afirma que muitas mulheres usam roupas sujas de sangue menstrual e utilizam "produtos para o período por mais tempo do que o previsto, o que aumenta o risco de infecção".

Em uma sala de aula onde os deslocados dormem, Umm Saif disse que suas cinco filhas usam fraldas durante seus períodos. Como os preços das fraldas descartáveis quase duplicaram desde o início da guerra, elas têm cortado cada uma em duas partes, mas uma filha ainda precisa de retalhos. Para a mais nova, a mãe substitui a fralda por um pedaço de pano.

— Começou a chorar, mas não posso fazer nada — explica, impotente, acrescentando: — Comprei uma pomada na farmácia para tratar as infecções após a menstruação.