Internacional

Familiares de israelenses cobram esforço pela liberação de reféns. 'Nosso coração pinga sangue', diz irmã de desaparecido

Líder do governo disse que presidente Lula deve se reunir com familiares de cidadão brasileiro-israelense desaparecido

Agência O Globo - 11/12/2023
Familiares de israelenses cobram esforço pela liberação de reféns. 'Nosso coração pinga sangue', diz irmã de desaparecido

Senadores e familiares de reféns mantidos pelo grupo terrorista Hamas apelaram para que as autoridades brasileiras reforcem a atuação pela liberação dos reféns. O Plenário do Senado foi palco de sessão de debates sobre o conflito entre Israel e Hamas nesta segunda-feira.

A sessão contou com a participação da irmã e filha de Michel Nisembaum, cidadão brasileiro-israelense mantido como refém pelo grupo terrorista Hamas.

— Nós estamos com uma dor na nossa alma, o nosso coração está pingando sangue. Eu não tenho palavras para explicar o que está passando com toda a nossa família. A nossa mãe, a todo tempo, chora e ninguém tem palavras para consolá-la. De uma família completa passamos a ser uma família, menos um — disse a irmã de Michel, Mary Shohat.

O pedido foi reforçado por uma das filhas de Michel, Hen Mahluf. No Plenário, ela clamou para que as autoridades brasileiras façam “tudo que podem” para ajudar a resgatar o seu pai. Nisenbaum tem dupla cidadania e é o único brasileiro que o governo trata como desaparecido no momento.

— Eu tenho que crer que ele vai voltar a estar comigo, porque eu preciso dele. Ele é meu pai. Tenho que dizer que eu o amo muito, algo que não consegui fazer nesta manhã. E a vocês eu peço: por favor, façam tudo que podem para nos ajudar.

O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA) disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve se reunir com os familiares de Nisembaum na tarde desta segunda-feira.

— Para tanto ser uma palavra de conforto, se é que é possível, como também para garantir que a diplomacia brasileira, e o próprio presidente, estão empenhados em achar um caminho da liberação de todos reféns. Evidentemente, sempre na cabeça da lista aquele que tem cidadania brasileira — afirmou Jaques Wagner.

Na saída da sessão, Mary Shohat, irmã de Michel, disse que o convite para uma reunião com o presidente Lula ainda não chegou na família.

— Por enquanto não chegou nada. Vamos ver mais tarde, ainda temos o dia todo por aqui — disse Shohat, que ainda completou — Se pudermos encontrar ele vai ser muito bom. Vamos pedir ajuda para ele também.

Lideranças judaicas e o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zohar Zonshine, também discursaram no Plenário do Senado. Zonshine relembrou o ataque cometido pelo Hamas no dia 7 de outubro e afirmou que Israel não age contra o povo palestino.

— Foram cometidas diversas atrocidades, como estupro de massa, decapitação de crianças e adultos e assassinatos de famílias inteiras. Israel está agindo contra o Hamas e não contra o povo palestino, que infelizmente encontra-se envolvido nesse conflito.

Segundo Zonshine, o objetivo de Israel é tomar controle da Faixa de Gaza, “principalmente para não pôr Israel e os israelenses em perigo.”

O presidente da sessão, senador Jorge Seif, Jorge Seif (PL-SC), destacou a importância de que a comunidade internacional atue por uma solução pacífica e definitiva para o conflito

Ao final da sessão, foram levantados cartazes com os rostos de reféns mantidos pelo grupo terrorista Hamas, apelando pelo resgate dos prisioneiros.

Desaparecimento

Mary Shohat, irmã de Michel, contou ao GLOBO detalhes sobre o desaparecimento do irmão. Sua sobrinha, filha de Michel, conversou com o pai pela última vez por volta das 7h daquele 7 de outubro, quando combatentes do Hamas iniciaram a incursão terrestre e aérea contra Israel que deixou ao todo 1.200 mortos e foi o estopim para a guerra. A ligação seguinte foi atendida por outra pessoa:

— Estavam gritando coisas em árabe. No fim, gritaram "Hamas, Hamas". Depois desligaram o telefone e, desde então, não soubemos de mais nada. Começamos a pensar que ele tinha virado refém ou foi morto. Não tem outra possibilidade — disse Mary.

Pouco mais de duas semanas depois, em 23 de outubro, a Interpol informou ao Itamaraty o desaparecimento do brasileiro. No dia seguinte, em um comunicado para a imprensa, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que a pasta, por meio da Embaixada do Brasil em Tel Aviv, seguia “em contato com as autoridades locais a respeito de brasileiro desaparecido desde 07/10”.

— O notebook dele foi localizado em Gaza, por geolocalização, por isso as autoridades israelenses acham que ele também está lá. Mas não temos 100% de certeza que ele está sequestrado. Dizer para a gente que o notebook está na Faixa de Gaza não significa que ele esteja na Faixa de Gaza também — diz Shohat, que trabalha como enfermeira em Israel, em uma cidade a 50 quilômetros de Gaza.

Além do notebook que foi localizado em Gaza, as forças israelenses conseguiram encontrar o carro de Michel incinerado, há cerca de duas semanas. No contato mais recente com a família, representantes do governo comunicaram que encontraram também o celular dele, que seria averiguado

— Eles dizem que por enquanto não têm nada [de informação adicional] e que precisamos aguardar com paciência — conta Mary, sobre o contato que tem com as forças de Israel responsáveis pela busca de desaparecidos e de reféns.