Internacional

Adversário de Putin, Alexei Navalny está desaparecido desde a semana passada, dizem aliados

Porta-voz diz que ele não está nas colônias penais para onde deveria ter sido levado; ativista está detido desde 2021 em condições apontadas como 'desumanas'

Agência O Globo - 11/12/2023
Adversário de Putin, Alexei Navalny está desaparecido desde a semana passada, dizem aliados
Alexei Navalny - Foto: Reprodução

O ativista político Alexei Navanly, visto como um dos principais, senão o principal, crítico do presidente Vladimir Putin na Rússia está desaparecido desde a semana passada, afirmaram aliados. Condenado a uma pena de 19 anos de prisão por "extremismo" em agosto, ele não recebeu visitas de advogados na semana passada, tampouco participou de audiência por videoconferência prevista para esta segunda-feira. O desaparecimento ocorre dias depois de Putin anunciar uma nova candidatura à Presidência na eleição do ano que vem.

"Hoje, assim como na sexta-feira, os advogados tentaram entrar em IK-6 e IK-7 — duas colônias [penais] na região de Vladimir, onde Alexei Navalny pode estar. Eles foram informados nas duas colônias que ele não está lá", escreveu no X (antigo Twitter), Kira Yarmysh, porta-voz de Navalny. "Nós ainda não sabemos onde ele está."

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Segundo Yarmysh, na sexta-feira os advogados do ativista tentaram visitá-lo na colônia penal nº6, onde deveria estar detido, mas o pedido foi negado. Nesta segunda-feira, veio uma resposta surpreendente: Navalny não constava mais da lista de prisioneiros. Em seguida, os advogados foram para a colônia penal nº7, para onde ele poderia ter sido eventualmente transferido, mas o ativista também não estava ali. Não houve qualquer manifestação das autoridades prisionais russas sobre o caso.

Mais cedo, outra informação havia provocado um alerta: ele não compareceu a uma audiência prevista para a manhã desta segunda-feira, a ser realizada por videoconferência. A explicação oficial foi a de que "problemas elétricos" tem impedido esses depoimentos à distância — na semana passada, uma outra audiência foi cancelada sob a mesma alegação.

"'Desde 7 de dezembro não conseguimos consertar a energia elétrica', afirmam representantes da colônia [penal]. Eles estão apenas zombando de mim. Este já é o sexto dia em que não sabemos onde Alexey está ou o que está acontecendo com ele", afirmou Yarmysh no X.

Alexei Navalny é o mais proeminente adversário de Vladimir Putin dentro da Rússia, e foi o único que conseguiu algum grau de mobilização popular contra o presidente em mais de duas décadas. Em 2020, o líder opositor foi envenenado durante um voo na Sibéria, e conseguiu uma transferência para a Alemanha para um tratamento médico que lhe salvou a vida. No exílio, elevou o tom dos ataques contra Putin e seu círculo político, contando com ampla presença nas redes sociais. O governo russo nega as acusações de que teria envenenado Navalny com uma substância conhecida como Novichok, que figura na lista de armas químicas e que foi desenvolvida na União Soviética.

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Contrariando os conselhos de aliados, Navalny retornou à Rússia em janeiro de 2021, onde foi prontamente detido, levado ao tribunal e condenado, em dois processos que se arrastaram por pouco mais de um ano, a 11 anos e meio de prisão.

Desde então, ele foi mantido em regime de segurança máxima, e não foram poucas as acusações de abusos, condições desumanas e de que problemas médicos crônicos teriam sido negligenciados pelas autoridades prisionais. Em cartas, tentou manter ativa a militância, apesar das detenções de pessoas próximas à sua Fundação Anticorrupção, organização classificada como extremista pelo Kremlin. Ele nega todas as acusações, e afirma que elas são uma forma de calar as vozes contra Putin.

Em agosto de 2023, Navalny sofreu um golpe contundente: um tribunal de Moscou o condenou a mais 19 anos em um caso de "extremismo", sendo que boa parte da pena deveria ser cumprida em "regime especial", onde as condições são mais estritas do que em prisões normais, e onde punições, como o envio à solitária, são constantes. Uma medida tratada com um misto de tristeza e ironia por Navalny, logo depois de descobrir que passaria um ano em uma dessas celas, no final de setembro.

"Um ano de EPCT [sigla em russo para quarto tipo cela única] é a punição mais severa possível em colônias de todos os tipos. Sinto-me como uma estrela do rock cansada e à beira da depressão. Que alcançou o topo das paradas e não há mais nada pelo que lutar", escreveu em uma mensagem publicada no Instagram.