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Bastão de comando dado a Milei na posse presidencial argentina é menor do que seria o do peronista Sergio Massa; entenda

Ourives Juan Carlos Pallarols confecciona há 40 anos este símbolo presidencial para os novos chefes de Estado do país

Agência O Globo - 10/12/2023
Bastão de comando dado a Milei na posse presidencial argentina é menor do que seria o do peronista Sergio Massa; entenda
Javier Milei - Foto: Reprodução

O bastão de comando dado ao novo presidente da Argentina, Javier Milei, neste domingo, durante a sua cerimônia de posse, em Buenos Aires, é menor do que seria o do peronista Sergio Massa, caso este tivesse derrotado o líder da ultradireita no segundo turno, disse Juan Carlos Pallarols, ourives que há 40 anos confecciona este símbolo presidencial para os novos chefes de Estado do país.

Uma tradição que data do século XIX, o bastão de comando dado a Milei foi totalmente confeccionado com materiais argentinos. Sua haste é de madeira urunday, espécie da província de Corrientes (Nordeste), caracterizada por sua rigidez e brilho natural.

— O urunday é uma madeira que fica sempre reta, não torce, brilha por si só, sem verniz, e é usada para trabalhar, não é decorativa. Está nos postes ou portões — explicou Pallarols à AFP.

A madeira representa as qualidades que o povo espera de seu presidente, acrescentou o ourives:

— Que seja muito trabalhador, mantenha-se sempre reto, brilhe por seu próprio trabalho e não se corrompa — disse Pallarols. — Espero que o inspire.

O mesmo bastão seria dado ao peronista Sergio Massa caso ele tivesse sido escolhido nas urnas pelo povo argentino como o novo presidente do país. Com uma única diferença: o tamanho.

A haste é a última peça a ser ajustada porque seu tamanho depende da altura de seu dono, disse Pallarols. Ela foi cortada após o segundo turno, realizado em 19 de novembro.

— Massa é maior — explicou o ourives.

Javier Milei mede 1,78 metros, enquanto Massa é dois centímetros mais alto, chegando a 1,80 metros.

O bastão, usado na posse de Milei neste domingo, percorreu o país durante o último ano e meio. Por tradição, milhões de argentinos participam de sua confecção, utilizando um cinzel (instrumento manual) em seu cabo de prata.

— Neste bastão, trabalharam mais de quatro milhões de pessoas — disse Pallarols.

Na Argentina, o bastão e a faixa presidenciais começaram a ser utilizados em 1814 com a criação do primeiro Poder Executivo, mas foi somente em 1868 que o presidente Domingo Faustino Sarmiento assumiu o cargo em uma cerimônia protocolar com a faixa e o bastão como símbolo de poder.

O primeiro bastão presidencial de Pallarols foi feito em 1973, quando trabalhava como ourives para uma tradicional joalheria de Buenos Aires.

A encomenda foi para o último mandato do três vezes presidente Juan Perón, que morreu em 1974. Sua viúva, a também presidente Estela Martínez, o colocou à venda anos depois e Pallarols o comprou. Ele o guarda em seu atelier entre dezenas de obras de arte, quadros, bustos, coroas de prata e relíquias.

O desenho é muito diferente do atual, com pendentes dourados, cabo em ouro, madeira lustrada de malaca e ornamentação "própria de um bastão europeu", afirma.

Posteriores modificações determinaram as características do atual bastão de comando. Seguindo estes parâmetros, Pallarols confeccionou os dos ex-presidentes Raúl Alfonsín, Carlos Menem, Fernando de la Rúa, Néstor Kirchner, Cristina Kirchner e Alberto Fernández.

Também fez um para o ex-presidente Mauricio Macri, que preferiu o de outro artista, algo que Pallarols lembra com mágoa.

O ourives se emociona quando recorda o bastão que confeccionou há 40 anos para Alfonsín no retorno à democracia.

— Passei muitos anos nos quais queria votar mas não podia. Essa emoção de lutar para fazer aquele bastão tenho hoje ao produzir este — afirmou o artista de 81 anos.

O trabalho é feito com materiais doados e é cobrado simbolicamente um peso (cerca de 0,014 real na cotação atual).

— O bastão não é do presidente, é um presente oferecido pelo povo ao votá-lo, mas que o transforma no primeiro presidente, o qual deve obedecer ao mando do povo — define.