Internacional

Egito vai às urnas com o presidente Sisi como favorito, apesar da crise, em uma eleição ofuscada pela guerra em Gaza

Repressão aos dissidentes na última década deixou os oponentes mais conhecidos fora da disputa; resultados serão divulgados em 18 de dezembro

Agência O Globo - 10/12/2023
Egito vai às urnas com o presidente Sisi como favorito, apesar da crise, em uma eleição ofuscada pela guerra em Gaza

Os egípcios votam neste domingo em uma eleição presidencial ofuscada pela guerra na vizinha Gaza e com poucas dúvidas de que o atual presidente Abdel Fatah al-Sisi ganhará um terceiro mandato, apesar do descontentamento com uma crise econômica aguda. A repressão aos dissidentes na última década deixou os oponentes mais conhecidos fora da disputa, praticamente garantindo a reeleição de Sisi.

Com o país passando pela pior crise financeira de sua história recente e a inflação acima de 40% depois que uma série de desvalorizações da moeda tornou todos os produtos importados mais caros, a economia é a maior preocupação dos egípcios.

A moeda perdeu metade de seu valor desde março de 2022 e o Fundo Monetário Internacional (FMI) impôs uma forte redução nos subsídios em troca de um empréstimo para reanimar a economia.

Cerca de 67 milhões de pessoas estão aptas a votar neste domingo, segunda e terça-feira, das 9h às 21h (4h às 16h em Brasília), e os resultados serão divulgados em 18 de dezembro.

Neste domingo, quando as seções eleitorais abriram, eleitores de todas as idades, mas principalmente mulheres, chegaram à escola Abdeen, no centro histórico do Cairo, onde as forças de segurança mobilizaram um grande número de seguranças, observou um jornalista da AFP.

Em frente à escola, um DJ tocava músicas nacionalistas e havia cartazes com slogans como "Saiam e participem". O foco será o comparecimento, que tem sido baixo nas últimas eleições.

Ninguém conhece os outros candidatos

— Sejamos francos, essas eleições estão garantidas para Sisi, porque ninguém conhece os outros candidatos — disse à AFP um eleitor na faixa dos 50 anos, que falou sob condição de anonimato. — Sim, é verdade que há inflação e as coisas estão difíceis, mas precisamos de alguém capaz de lidar com o que está acontecendo na fronteira — acrescentou ela, referindo-se à fronteira do Egito com o território palestino de Gaza.

Fathi Ali, de 79 anos, disse que só espera que "o próximo presidente garanta a existência de um seguro de saúde".

Sisi, um marechal que chegou ao poder em 2013 após a destituição, em meio a protestos, do presidente democraticamente eleito Mohamed Mursi, foi então às urnas e venceu as eleições em 2014 e 2018.

Sob o governo de Sisi, milhares de pessoas foram presas. Embora um comitê de perdão presidencial tenha libertado cerca de 1.000 em um ano, grupos de direitos humanos afirmam que quatro vezes mais cidadãos foram detidos no mesmo período do que foram libertados.

A opinião pública deu pouca atenção à campanha eleitoral, que coincidiu com o conflito contínuo entre Israel e o Hamas em Gaza, que domina a cobertura da mídia desde 7 de outubro.

Na televisão, os apresentadores de programas de entrevistas, que estão ligados a agências de inteligência e são sempre pró-governo, tentaram distorcer as duas questões, repetindo discursos de Sisi, que se opõe à transferência da população de Gaza.

Uma votação 'sem credibilidade nem justiça

Os outros três concorrentes são relativamente desconhecidos: Farid Zahran, líder do Partido Social Democrata Egípcio, de esquerda, Abdel Sanad Yamama, do centenário partido Wafd, e Hazem Omar, do Partido Republicano do Povo.

O presidente nem mesmo compareceu a um debate entre os candidatos e, em vez disso, enviou um congressista. Enquanto isso, duas figuras proeminentes da oposição que tentaram participar foram marginalizadas pelo governo. Um deles está na prisão e o outro está aguardando julgamento.

Khaled Dawud, jornalista e ativista, criticou a atmosfera "sufocante" em que a eleição está ocorrendo, devido à supressão das liberdades, ao controle total da mídia e às ações dos serviços de segurança que impedem a oposição de estar nas ruas.

"A votação não será (...) nem confiável nem justa", escreveu ele no Facebook.

No entanto, ele disse que votaria em Zahran porque quer "enviar uma mensagem clara ao regime" de que deseja mudanças, já que "depois de dez anos, as condições de vida dos egípcios se deterioraram" e as políticas atuais significam que o país corre o risco de cair em uma moratória.