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Exército diz que fronteira com Venezuela e Guiana tem movimentação normal e espera que novas viaturas cheguem em 20 dias

Preocupação aumentou depois do plebiscito que aprovou a anexação da região de Essequibo que hoje pertence à Guiana

Agência O Globo - 05/12/2023
Exército diz que fronteira com Venezuela e Guiana tem movimentação normal e espera que novas viaturas cheguem em 20 dias
exercito - Foto: Arquivo

O Exército afirmou que, atualmente, o movimento da fronteira do território brasileiro é normal em Roraima. Em meio à tensão na região por conta da disputa entre a Venezuela e Guiana pela região de Essequibo, o Centro de Comunicação Social do Exército divulgou nota informando que mantém, por meio do Sistema de Inteligência e de alertas, monitoramento e prontidão de seus efetivos para garantir a inviolabilidade da fronteira brasileira.

A Força vai enviar à região:

16 Guaicurus, viaturas blindadas multitarefa 4x4

6 Guaranis, viatura blindada de transporte de pessoal, anfíbia e com capacidade para transportar até 11 militares

6 Cascavel, blindado que possui como armamento principal um canhão 90 mm e como armamento secundário duas metralhadoras 7,62 mm, sendo uma antiaérea e outra coaxial ao canhão, possui ainda 6 lança-fumígenos

Os blindados levarão cerca de 20 dias para chegarem à Boa Vista.

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As viaturas Guaicurus, um veículo leve sobre rodas (VBMT-LSR) 4X4 LMV-BR foram incorporadas há pouco tempo ao Exército, e receberam esse nome em homenagem a uma tribo indígena guerreira, que habitava os sertões do Centro-Oeste brasileiro e que era famosa por utilizar cavalos para caçar e atacar seus inimigos.

O Exército antecipou o envio de 60 militares e blindados para reforçar a segurança em Pacaraima — cidade de Roraima próxima à tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana. Pacaraima é um ponto usual de entrada de venezuelanos que deixam seu país em busca de oportunidades ao Brasil.

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"O Exército monitora a região para, a qualquer sinal de aumento de tensão, rever a quantidade de militares no território", afirma a pasta.

"O reforço de efetivo já enviado ao local já estava previsto dentro do Planejamento Estratégico do Exército, que previa a evolução do atual Esquadrão de Cavalaria Mecanizado para um Regimento de Cavalaria Mecanizada, com foco em dar apoio a operações contra o garimpo. A mudança resulta em aumento do número de militares na área, além de viaturas blindadas, as quais serão deslocadas do Sul e do Centro-Oeste do país para Roraima", diz o texto.

Também de acordo com o Exército, a 1ª Brigada de Infantaria de Selva, em Roraima, intensificou sua ação de presença nesta faixa de fronteira com seu efetivo de quase dois mil militares.

Aumento de tropa recentemente

Recentemente, o Exército brasileiro aumentou para 130 o efetivo para patrulhamento na fronteira com a Venezuela. O Pelotão Especial de Fronteira de Pacaraima, em Roraima, que normalmente opera com 70 homens, ganhou o reforço de mais 60 militares na semana passada.

A ampliação do efetivo faz parte da ativação do 18º Regimento de Cavalaria Mecanizado (18° R C Mec) com sede em Boa Vista, Roraima, a partir da transformação do 12º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado (12° Esqd C Mec).

O coronel da reserva Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, mestre em Ciências Militares, explica que um regimento é composto por três esquadrões, o que significa que o Exército pretende triplicar a capacidade militar desse pelotão em Boa Vista.

— Os carros blindados que estão sendo enviados para lá fazem parte do equipamento deste regimento — disse Gomes Filho ao GLOBO. — Eles serão empregados em qualquer tipo de operação em que o regimento seja envolvido, desde uma operação de alta dificuldade, como uma guerra, até eventuais ações subsidiárias de combate a ilícitos transfronteiriços.

A crise entre Venezuela e Guiana também é acompanhada com atenção pelo Ministério das Relações Exteriores, segundo a embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina e Caribe no Itamaraty.

— Estamos falando em alto nível com os dois países e esperamos que a solução seja pacífica — afirmou a diplomata.

A crise

A Venezuela argumenta que o rio Essequibo é a fronteira natural, como foi em 1777, quando era a Capitania Geral do Império Espanhol. O país apela ao Acordo de Genebra, assinado em 1966, antes da independência da Guiana do Reino Unido. Esse documento anulou um laudo de 1899 que definia os limites defendidos pela Guiana e pedia à Corte Internacional de Justiça (CIJ), principal tribunal das Nações Unidas, que o ratificasse.

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Único país da América do Sul que tem o inglês como idioma oficial, a Guiana se tornou oficialmente parte do Império Britânico em 1814, após o território ter sido cedido pela Holanda, que estava no poder desde o século XVI, depois de ser tomado por tropas britânicas em 1796. Antes disso, a região já havia sido explorada pelos espanhóis no século XV, mas não chegou a ser colonizada, como a vizinha Venezuela. Mesmo independente, até hoje a nação integra a Comunidade Britânica, grupo composto por 53 países que fizeram parte do antigo Império.

Até 1831, o território guianês era dividido nas colônias de Essequibo, Demerara e Berbice, mas foi unificado sob domínio britânico, quando passou a se chamar Guiana Inglesa. A raiz do problema atual, inclusive, remonta a este período, época em que as fronteiras eram estabelecidas por meio de acordos entre potências europeias.

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De um lado, a Guiana se atém a um laudo arbitral de Paris de 1899, no qual foram estabelecidas as fronteiras atuais. Do outro, a Venezuela se apoia em sua interpretação do Acordo de Genebra, firmado em 1966 com o Reino Unido antes da independência guianesa, em que Londres e Caracas concordam em estabelecer uma comissão mista "com a tarefa de buscar uma solução satisfatória" para a questão, uma vez que o governo venezuelano na ocasião considerou o laudo arbitral de 1899 "nulo e vazio". No acordo, no entanto, Londres apenas reconhece esse posicionamento de Caracas, mas não respalda sua interpretação de que sentença de 1899 foi baseada em uma fraude. (Com Ansa)