Deitadas o dia todo sobre o feno, meio adormecidas e visivelmente relaxadas. A vida das únicas cinco vacas da Fazenda Dumble, localizada em Arram, próximo de Beverley, no norte da Inglaterra, causa inveja em muitos humanos — principalmente, quando sua única responsabilidade é receber carinho e atenção. Sem fazer esforço, esses animais oferecem “sessões de terapia” para visitantes ansiosos para aliviar o estresse do dia a dia, ao mesmo tempo que geram renda para seus tutores.

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— Algumas pessoas gostam do contato com cães, gatos ou cavalos. Outras preferem estar com as vacas — afirmou Fiona Wilson, dona da fazenda, à AFP, acrescentando: — As pessoas vêm em busca de bem-estar. Estar na companhia de animais alivia a ansiedade, é quase como uma terapia.

Uma delas é Morag, com uma juba caramelo e muita simpatia. Ao final de uma das sessões de carinho, ela levanta a cabeça em sinal de satisfação, o que provoca sorriso nos visitantes. Quem deseja participar da experiência reserva uma vaga com meses de antecedência, porque os ingressos costumam esgotar rápido. O valor sai a £50 (R$ 266,25) por pessoa. Nos celeiros, os animais cochilam e gostam de ter seus queixos acariciados e o pelo escovado.

Steven Clews levou a esposa Emma, que adora vacas, até a fazenda para participar da experiência. A mulher ficou encantada.

— Elas são muito fáceis de cuidar — diz Emma, observando: — Não achei que fosse achar isso tão relaxante.

No fim, de forma inesperada, Steven também foi arrebatado:

— Gosto de todos os animais, mas principalmente dos mais fofinhos. Então, poder acariciar uma vaca grande é muito bom — afirmou Clews.

Ao final da sessão, os visitantes são levados para fora do celeiro, onde Morag aguarda por uma dose de carinho — e os humanos, por mais alguns minutos na sua "sessão de terapia".

Alívio para as contas

A ideia começou em fevereiro como uma maneira de garantir uma renda extra, após os donos da fazenda serem atingidos pela queda brutal nos preços do leite e, mais recentemente, alta da inflação. No espaço de poucas décadas, dezenas de milhares de fazendeiros deixaram o setor. De acordo com um relatório da Biblioteca da Câmara dos Deputados, em 1950 havia 196 mil fazendas de gado leiteiro no Reino Unido. Em 1995, restavam apenas 35,7 mil.

A crise se acentuou com a eclosão da Guerra na Ucrânia, em fevereiro do ano passado. Além da queda do preço do leite, os produtores presenciaram a elevação dos custos de energia, combustível, ração e fertilizantes, levando ao desaparecimento de muitas fazendas. Na casa dos 35 mil na década de 1990, o número de produtores de leite no Reino Unido despencou para 7,5 mil em outubro deste ano, de acordo com o Conselho de Desenvolvimento de Agricultura e Horticultura.

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No caso da Fazenda Dumble, a crise econômica foi acompanhada de desastres naturais: foram seis enchentes em sete anos, o que deixou o local debaixo d’água por meses seguidos. Wilson e seus parceiros, incluindo seu marido e seu irmão, chegaram a trabalhar 14h por dia durante todo o ano — e ainda assim perdiam dinheiro.

— Não era possível viver assim. Não havia futuro. Não estávamos indo a lugar nenhum — disse Wilson à agência francesa.

Foi então que, em janeiro de 2022, eles decidiram diversificar suas atividades. Venderam todo o rebanho, com exceção de cinco vacas que, para Wilson, “eram realmente amigas”, com seu temperamento “plácido e amigável”.

— Então, pensamos que talvez pudéssemos tentar fazer algumas sessões de afago com as vacas, apenas para ganhar um pouco de dinheiro e também para que as pessoas pudessem conhecer e se interessar pelo que fazemos aqui — explicou, afirmando que foram meses de preparação dos animais antes do primeiro cliente.

E as vacas, que são agora parte da equipe de trabalho da fazenda, parecem felizes com a nova atividade, observou a mulher:

— Elas são curiosas. Se interessam pelas pessoas que vêm vê-las.