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COP28: EUA anunciam plano para cortar emissão de milhões de toneladas de metano em 15 anos

Anúncio feito pela vice-presidente Kamala Harris aborda investimentos em países em desenvolvimento e convoca países à partcipação: 'devemos liderar com coragem e convicção'

Agência O Globo - 02/12/2023
COP28: EUA anunciam plano para cortar emissão de milhões de toneladas de metano em 15 anos

A vice-presidente americana, Kamala Harris, prometeu neste sábado, durante a COP28, que os EUA investirão bilhões de dólares a mais para ajudar as nações em desenvolvimento a lutar e a adaptar-se às alterações climáticas. A declaração ocorreu após outro anúncio das autoridades americanas, no mesmo dia: pela primeira vez, o governo federal exigiria que os produtores de petróleo e gás detectassem e reparassem vazamentos de metano.

A medida é a mais ousada para reduzir as emissões de combustíveis fósseis que a administração do presidente Biden deve revelar na cúpula. Apesar de não ter mencionado qual seria a nova regulação, Harris disse que quase US$ 1 trilhão foi aprovado pelo governo para ser investido em esforços climáticos e energia limpa. Em sua fala, a vice-presidente pressionou também os líderes mundiais a irem ainda mais longe:

— Devemos ter ambição para enfrentar este momento, acelerar nossos investimentos e liderar com coragem e convicção — afirmou.

Embora tenham saudado o anúncio do metano, muitos ativistas presentes na cúpula criticaram o governo por não ter ido mais longe para acabar com a queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás. Os EUA registraram um aumento na produção doméstica de petróleo no ano passado, ao mesmo tempo que novos poços de perfuração foram aprovados pelo governo, o que atraiu críticas de grupos ambientalistas.

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“Para manter o aquecimento global dentro dos limites acordados internacionalmente, precisamos de uma eliminação progressiva justa, rápida e financiada dos combustíveis fósseis”, disse Lorne Stockman, diretor de investigação do grupo ambientalista Oil Change International, em um comunicado divulgado após o anúncio. “Até agora, nenhuma das ações sobre metano anunciadas pelos EUA, o maior produtor mundial de petróleo e gás, atende aos padrões.”

Alguns grupos também salientaram a fragilidade da promessa de Harris sobre o envio de US$ 3 bilhões para o Fundo Verde para o Clima, que beneficia os países mais pobres. No passado, os republicanos bloquearam o dinheiro do país para projetos sobre alterações climáticas no exterior, enquanto a administração Biden, para substituí-lo, recorreu a fundos discricionários dentro do Departamento de Estado.

As autoridades da Casa Branca não disseram quando ou como o presidente pedirá aos parlamentares para financiar a promessa. O Congresso está limitado pelo teto de gastos — negociado pelo democrata com os republicanos, durante uma briga sobre o limite de endividamento do país, neste ano. Em compromissos climáticos anteriores, o líder americano falhou em convencer os congressistas sobre a pauta.

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Após a fala de Harris, um anúncio do Departamento do Tesouro disse que o valor para o investimento para ajudar os países estava “sujeito à disponibilidade de fundos”. A regulamentação do metano, anunciada pela primeira vez na cúpula pelo administrador da Agência de Proteção Ambiental, Michael S. Regan, foi apresentada com mais certeza: é uma ação administrativa que não requer a aprovação do Congresso e está programada para entrar em vigor no próximo ano.

‘Notícia histórica’

O metano é um gás de efeito estufa liberado na atmosfera a partir de oleodutos, locais de perfuração e instalações de armazenamento, que acelera perigosamente o ritmo do aquecimento global. É o segundo mais comum quando se fala em aquecimento do planeta, atrás apenas do dióxido de carbono, resultante da queima de combustíveis fósseis. Permanece na atmosfera cerca de uma década depois de ter sido liberado, mas é cerca de 80 vezes mais poderoso a curto prazo na retenção de calor do que o dióxido de carbono, que permanece no ar por séculos.

Apesar disso, o metano não é amplamente debatido — embora tenha tido progressos tímidos ao longo desta semana nas negociações globais. Os cientistas apontam que ele é responsável por mais de um quarto do aquecimento que o planeta tem sofrido desde a era pré-industrial. Sua redução, explicam, é essencial para cumprir a meta global de limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC — estabelecida no Acordo de Paris — e para ganhar tempo para o planeta enquanto os países lutam com o problema mais controverso da redução das emissões de dióxido de carbono.

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O novo regulamento evitaria 58 milhões de toneladas de emissões de metano até 2038, disseram as autoridades. Isto equivale a aproximadamente todo o dióxido de carbono emitido pelas centrais eléctricas americanas alimentadas a carvão em um único ano. Regan considerou-a uma das políticas mais importantes que os Estados Unidos terão promulgado para abrandar o ritmo das alterações climáticas durante a próxima década e meia.

— Encontrei pessoalmente com gerações de familiares que foram afetados por esta poluição durante muito tempo — disse Regan em uma entrevista coletiva, em Dubai. — Esta é uma notícia histórica para o nosso clima.