Internacional

Mediadores de Israel deixam Catar após fracasso de negociações para novo acordo

Tratativas ocorrem em meio ao segundo dia de combates no enclave palestino, após trégua ter sido suspensa na sexta-feira; centenas de palestinos já morreram

Agência O Globo - 02/12/2023
Mediadores de Israel deixam Catar após fracasso de negociações para novo acordo
israel - Foto: Reprodução

Israel informou neste sábado que retirou os seus negociadores do Catar, um dos mediadores do acordo suspenso entre o Estado judeu e o Hamas, depois de um impasse nas negociações. Em meio ao segundo dia de combates, uma equipe do Instituto para a Inteligência e Operações Especiais, o Mossad, havia sido enviada à Doha para conversar com autoridades sobre uma nova trégua e um novo grupo de reféns a serem libertados, informou a agência Reuters, mas as conversas chegaram a "um beco sem saída", informou o jornal Times of Israel.

“Após um impasse nas negociações e sob a direção do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, David Barnea, chefe do Mossad, ordenou que sua equipe em Doha retornasse a Israel”, disse o gabinete do chefe do governo israelense em um comunicado.

O novo acordo seria baseado em parâmetros diferentes do anterior, suspenso na sexta-feira. Segundo a Reuters, a ideia era uma nova categoria de reféns para além de mulheres e crianças, como postulava o último, além de novas diretrizes para a trégua. Até a última quinta-feira, foram libertados 110 reféns — israelenses e estrangeiros — e 240 prisioneiros palestinos. O Exército de Israel afirmou na sexta-feira que pelo menos cinco reféns morreram ainda em cativeiro, com estimativas de que haveria ainda entre 137 e 159 pessoas sequestradas em Gaza.

O Mossad alegou no comunicado, citado pelo Times of Israel, que o Hamas "não cumpriu suas obrigações sob o acordo que incluía a libertação de todas as mulheres e crianças que estavam na lista fornecida ao Hamas que havia autorizado isso". O mesmo motivo já havia sido declarado pelo porta-voz do governo israelense, Eylon Levy, na sexta-feira, ao afirmar que a suspensão da trégua foi tomada pelo Hamas ao "não libertar todas as mulheres sequestradas". De acordo com uma fonte do grupo à Reuters, o impasse teria ocorrido sobre as mulheres soldados. O acordo visava apenas civis, e militares (independente do gênero) deveriam ser negociados em outras tratativas.

A acusação foi rebatida pelo grupo, que declarou em nota ter proposto entregar os corpos de um bebê, seu irmão e sua mãe, mortos, segundo o movimento, nos bombardeios israelenses. A morte desses três membros da família Bibas não foi confirmada pelas autoridades israelenses. O Hamas afirma que também ofereceu libertar o pai das crianças, mas que Israel, "que já havia tomado a decisão de retomar a agressão, não respondeu".

Fim do cessar-fogo

Os combates foram retomados na Faixa de Gaza na sexta-feira imediatamente após o término do cessar-fogo, que durou uma semana entre Israel e o Hamas. O porta-voz das Forças Armadas de Israel, Jonathan Conricus, afirmou que agora estão "atacando alvos militares do Hamas em toda a Faixa de Gaza". Foram mais de 400 "alvos terroristas" desde o fim do acordo, segundo as forças israelenses.

Por sua vez, o braço armado do Hamas, as Brigadas Ezzedeen al-Qassam, recebeu "a ordem para retomar o combate" e "defender a Faixa de Gaza", disse uma fonte próxima ao grupo que pediu para não ser identificada porque não estava autorizada a falar com jornalistas.

A suspensão da trégua foi condenada por autoridades internacionais e grupos humanitários. O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que lamenta "profundamente" o reinício das hostilidades, em mensagem na rede social X (antigo Twitter).

Pelo menos 240 pessoas foram mortas desde o fim da pausa e outras 650 ficaram feridas em “centenas de bombardeios aéreos, de artilharia e navais, em toda a Faixa de Gaza”, afirmou o Hamas num comunicado. De acordo com o grupo, Israel "mirou especialmente Khan Yunis” no sul do território, “onde dezenas de casas foram destruídas com seus habitantes dentro”. De acordo com as forças israelenses, seus caças atingiram “mais de 50 alvos em um amplo ataque na área de Khan Younis”. A região servia de abrigo para milhares de pessoas deslocadas desde o início da guerra, sob ordens do Exército de Israel. Fogo de artilharia e bombardeios aéreos também foram realizados contra o “norte da Faixa de Gaza”, segundo o comunicado.

Tensão na fronteira

Os temores por um conflito regional aumentaram depois que o Ministério sírio da Defesa denunciou bombardeios israelenses perto de Damasco, 24 horas após a suspensão da trégua.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) afirmou que ao menos quatro combatentes pró-Irã morreram e outros cinco ficaram feridos nestes ataques. O Exército israelense não fez comentários.

"Dois combatentes sírios que trabalham com o Hezbollah e dois combatentes estrangeiros pró-Irã foram mortos em bombardeios israelenses contra instalações do Hezbollah perto de Sayyidah Zaynab", no sul de Damasco, disse Rami Abdel Rahman, diretor da OSHR, uma organização com uma ampla rede de informantes na Síria.

A Guarda Revolucionária do Irã também acusou Israel de matar dois de seus combatentes, identificados como Mohammed Ali Ataei Shoorcheh e Panah Taghizadeh, que estariam na Síria para uma consultoria.

Antes disso, o Hezbollah, aliado do Hamas, informou a morte de dois de seu membros em bombardeios israelenses no sul do Líbano, onde também morreu um civil.

A guerra começou em 7 de outubro, quando terrorista do Hamas invadiram o sul de Israel, matando 1.200 pessoas, a maioria civis, e sequestrando cerca de 240, segundo as autoridades israelenses. Em resposta, Israel prometeu aniquilar o Hamas e iniciou uma campanha de ataques aéreos e terrestres em Gaza que, segundo o governo do Hamas, deixou mais de 15.000 mortos, a maioria civis.

O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, que realizou sua terceira viagem ao país desde o início do conflito, declarou que os Estados Unidos continuarão "intensamente focado" em libertar os reféns mantidos em Gaza. (Com AFP)