Internacional

Presidente da COP28 nega querer usar cúpula para negociar venda de petróleo e gás após denúncias de organizações

Documentos revelados mostram que os anfitriões planejavam usar a cúpula para discutir acordos de petróleo com ao menos 15 governos estrangeiros

Agência O Globo - 29/11/2023
Presidente da COP28 nega querer usar cúpula para negociar venda de petróleo e gás após denúncias de organizações
Petróleo - Foto: Internet

Na véspera do início da COP28 em Dubai, o presidente da conferência climática da ONU, o sultão Ahmed al-Jaber, dos Emirados Árabes Unidos, rejeitou nesta quarta-feira querer usar a atual posição para promoção do próprio país no exterior. Segundo documentos revelados nesta semana, os anfitriões planejavam usar a cúpula para discutir acordos de petróleo e gás com ao menos 15 governos estrangeiros.

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Altamente criticado durante meses por ONGs e parlamentares ocidentais pelo duplo papel como chefe da COP28 e da companhia petrolífera Adnoc, o sultão defende uma linha que descreve como realista. Diz ainda que quer ser uma ponte entre o Golfo e os países que exigem a saída rápida do petróleo.

— Essas acusações são falsas, incorretas, imprecisas — afirmou Sultan al-Jaber em Dubai, em resposta aos jornalistas durante um evento na sede da COP28, a um dia da abertura do evento. — É uma tentativa de prejudicar o trabalho da Presidência da COP28 (...). Vocês acham que os Emirados Árabes Unidos ou eu precisamos da COP ou da presidência da COP para estabelecer acordos ou relações comerciais?

Mas inúmeros documentos revelados na segunda-feira pelo grupo de investigação Center for Climate Reporting e pela rede britânica BBC lançaram dúvidas sobre essas intenções.

Os documentos, transmitidos por uma pessoa sob anonimato, são relatórios destinados ao sultão al-Jaber em que aparecem questões a serem abordadas com representantes de governos estrangeiros em reuniões que tratavam da COP28.

Esses relatórios continham menções às duas empresas que dirige, a Adnoc e a empresa de energias renováveis Masdar, e foram utilizados em reuniões com cerca de 30 países.

Nos relatórios, foi mencionada a presença da Adnoc e da Masdar no país em questão e o seu potencial comercial, como no caso de um projeto de fornecimento de diesel e querosene da Adnoc no Quênia ou de um projeto petroquímico da Adnoc no Brasil.

— Nunca, nunca vi essas formulações, nunca as usei — disse o sultão. — Às vezes me dizem que tenho que falar com os Estados e as empresas de petróleo e gás para pressioná-los, e às vezes me dizem que não posso fazê-lo.

Tempestade na COP

A presidência da COP28 não questionou a autenticidade dos documentos, que são um grave golpe para a imagem de al-Jaber.

Durante duas semanas, negociadores de quase 200 países debaterão, em público e em particular, em Dubai, se devem mencionar explicitamente o petróleo e o gás nas decisões oficiais, algo que nenhuma conferência conseguiu até agora.

O sultão al-Jaber foi pego "com as mãos na massa", disse a ex-chefe da ONU para o Clima, Christiana Figueres, no X (ex-Twitter), comparando estas revelações com o escândalo do diesel que atingiu a Volkswagen em 2015.

Vários senadores dos Estados Unidos, liderados pelo democrata Sheldon Whitehouse, que há meses denunciam a influência dos lobistas na COP, consideraram que estas revelações questionam "a integridade de toda a conferência".

O climatologista americano Michael Mann pediu a renúncia imediata de al-Jaber. Sugeriu ainda um boicote à COP28.

As ONGs, muito envolvidas na conferência, não chegaram tão longe e, após meses de trabalho, aguardam decisões históricas sobre assistência financeira aos países vulneráveis.

A diretora da Climate Action Network, Tasneem Essop, que representa centenas de organizações, apenas lembrou por enquanto a "profunda responsabilidade" dos países organizadores da COP e a sua obrigação de "integridade, não contaminada por parcialidade ou vantagem nacional ou pessoal".