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Com o focinho e as patas, cães abandonados viram artistas em associação de caridade britânica

Telas abstratas de animais podem valer até R$ 1.972 e são feitas em atividade terapêutica para os animais

Agência O Globo - 28/11/2023
Com o focinho e as patas, cães abandonados viram artistas em associação de caridade britânica

Diante do aumento do abandono de cães e gatos, um centro de acolhimento de animais de Bristol, na Inglaterra, usou a criatividade para arrecadar fundos para suas atividades. A novidade é que em dezembro a instituição vai fazer um leilão de quadros pintados pelos próprios mascotes.

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No estúdio do Animal Rescue Centre (ARC), em Bristol, oeste da Inglaterra, as cadelas 'Rosie' e 'Alba' trabalham duro em suas telas. Mas não são necessários pincéis; apenas os focinhos e as patinhas dão conta do trabalho. Os amantes da pintura não devem ser muito rigorosos quanto às regras clássicas de composição.

Trata-se de um novo gênero de arte abstrata, que pode parecer infantil ou desordenada, mas sua missão é muito mais importante que as opiniões dos críticos.

O ARC, que é membro da Sociedade Protetora dos Animais do Reino Unido (RSPCA), mas recebe financiamentos privados, precisou inovar para arrecadar fundos. A equipe programou para o início de dezembro uma "Gala dos cães de rua" on-line, durante a qual leiloará obras de artes dos animais.

A maioria das telas custa cerca de £ 50 (R$ 308), mas os preços podem chegar a £ 320 (R$ 1.972) por um quadro de 'Major', um husky branco.

Segundo Bee Lawson, especialista em comportamento animal do ARC, a pintura é uma atividade terapêutica eficaz para cães abandonados, que muitas vezes ficam traumatizados após serem abandonados por seus donos e viverem sozinhos e sem comida nas ruas.

"Cheirar, lamber e mastigar (sobre as telas) são benéficos porque são comportamentos naturalmente calmantes para os cães ", explica.

Para atraí-los às telas, os cuidadores do ARC usam manteiga de amendoim e queijo, que os incentivam a cheirar, lamber e serem criativos.

"Colocamos uma tela em branco, acrescentamos tinta atóxicas e depois colocamos suas comidas favoritas", explica Jodie Bennett, uma das diretoras do centro. "Os cães se aproximam, lambem e brincam" com a comida. Alguns caminham sobre a tela, enquanto outros usam o corpo para pintar.

Artista em formação

Segundo Jodie Bennett, Major, o husky branco, demonstrou ser um dos artistas mais populares do centro. Suas obras "Excited I" e "Excited II" despertaram um grande interesse dos críticos e investidores do campo das artes, assegura. As pinturas dele são "ousadas e refletem sua personalidade", afirma Jodie Bennett. "É um grande artista em formação", diz.

Uma obra em amarelo, laranja e vermelho chamada 'Burning Man' foi criada por uma gata chamada 'Cammie', que apareceu de improviso durante uma das sessões de pintura.

"Usou cores intensas, suas favoritas, porque é apaixonada", afirma Jodie Bennett, observando estar "muito orgulhosa" dos animais. "Colocaria estas obras em minhas paredes com muita alegria", diz.

"Com treinamento e esforço", pode ser que exponham um dia no Tate Gallery, o famoso museu de Londres, sonha a diretora.

Abandono de animais

O número de animais abandonados tem aumentado consideravelmente no Reino Unido, impulsionado em parte pela alta inflação e o aumento das taxas de juros. Também em meio a essa situação, a RSPCA disse estar "desesperadamente preocupada" com o aumento dos abandonos com a proximidade do inverno.

Entre o início do ano e final de outubro, a RSPCA registrou 17.838 animais abandonados na Inglaterra e no País de Gales. Se a tendência continuar, o número pode chegar a mais de 21 mil em 2023, enquanto em 2020 eram cerca de 16 mil.