Internacional

Assassinato de jornalista, perseguição de mulheres, proibição de igrejas: conheça o ditador árabe com quem Lula irá se encontrar

Aos 37 anos, Mohammed bin Salman é alvo de inúmeras denúncias, incluindo o assassinato de um jornalista dissidente, intolerância religiosa e de impor um apartheid contra mulheres e homossexuais

Agência O Globo - 28/11/2023
Assassinato de jornalista, perseguição de mulheres, proibição de igrejas: conheça o ditador árabe com quem Lula irá se encontrar

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou nesta terça-feira em Riad, capital da Arábia Saudita, onde será recebido pela realeza do país, incluindo o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman. Aos 37 anos, ele é alvo de inúmeras denúncias, entre elas o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, em 2018, intolerância religiosa e de impor um apartheid contra mulheres e homossexuais.

A visita a Riad visa aproximar o Brasil do mundo árabe e antecede a ida de Lula aos Emirados Árabes Unidos, onde participará em Dubai da conferência mundial sobre o clima (COP28) a partir de quinta-feira-feira. Mas esta não é a primeira vez que os sauditas ganham espaço na mídia brasileira: no início deste ano veio à tona a doação de joias, relógios e outros presentes caros dados pelo regime de bin Salman ao ex-presidente Jair Bolsonaro, à sua mulher Michelle e a membros de sua equipe.

Salman é o primeiro na linha de sucessão do trono e foi nomeado primeiro-ministro, cargo tradicionalmente exercido pelo rei, que sofre da doença de Alzheimer, em setembro do ano passado. Anteriormente, ele atuou como vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa.

Relembre as denúncias envolvendo o príncipe herdeiro da Arábia Saudita:

Assassinato de jornalista

Um relatório da Inteligência dos Estados Unidos sobre o assassinato Jamal Khashoggi, divulgado em 2021, concluiu que Mohamed bin Salman aprovou uma operação para “capturara ou matar o jornalista”. Jamal desapareceu no dia 2 de outubro de 2018, depois que entrou no consulado saudita em Istambul. A Arábia Saudita indicou que ele foi morto “durante uma luta”.

Khashoggi vem de uma família conhecida no país e morava nos EUA, desde 2017, por uma questão de segurança. Ele escrevia colunas para o The Washington Post e havia lançado projetos para consolidar a oposição ao regime saudita, com propaganda e pressão por reformas. O jornalista foi estrangulado por um esquadrão de 15 assassinos sauditas e teve o corpo desmembrado e descartado.

“O príncipe herdeiro via Khashoggi como uma ameaça ao país e apoiava de modo geral o uso de medidas violentas, se necessário, para silenciá-lo”, aponta o documento.

Bombardeios no Iêmen

Em 2018, um grupo de defesa dos direitos humanos iemenita processou o autocrata por cumplicidade em tortura e tratamento desumano no país. A queixa afirma que o príncipe e então ministro da Defesa da Arábia Saudita foi responsável pelos vários ataques aéreos que atingiram e mataram civis.

"Ele ordenou os primeiros ataques no território iemenita em 25 de março de 2015", disseram os advogados do grupo, Joseph Breham e Hakim Chergui. "A existência de bombardeios indiscriminados pelas forças armadas da coalizão que afetam as populações civis no Iêmen pode ser qualificada como atos de tortura".

O governo da Arábia Saudita liderado por Mohamed bin Salman também é constantemente acusado de apoiar grupos jihadistas, mas permanece como aliado do Ocidente.

Perseguição religiosa e contra minorias

A monarquia absolutista da Arábia Saudita tem uma população quase inteiramente islâmica. O país não possui liberdade religiosa e a conversão ao cristianismo é proibida por lei. Caracterizado como crime de “apsotasia”, o cidadão pode ser punido com pena de morte. Os cristãos são proibidos de se expressar livremente até mesmo dentro das casas, que são inspecionadas pela polícia da fé. Sinais de culto podem causar a expulsão do país.

A rígida sociedade saudita também oprime as mulheres, que são monitoradas de perto. Durante o patrulhamento e perseguição contra cristãos, elas encontram-se mais vulneráveis, uma vez que, culturalmente, precisariam manter uma boa reputação da família. Um mau comportamento pode prejudicar a honra e é considerado um pecado mortal.

Mulheres sauditas não têm permissão para deixar suas casas sem companhia familiar masculina e correm risco de sofrer abuso físico e sexual. Esse comportamento está relacionado à posição subordinada feminina na sociedade saudita e sua condição desprotegida quando estão sozinhas.

A perseguição contra pessoas da comunidade LGBTQIA + no país é outro ponto denunciado. A lei estabelece pena de morte para os atos sexuais consensuais entre pessoas do mesmo sexo.

Impedimento de encontros familiares

Em depoimentos ao canal de notícias norte-americano NBC News, 14 funcionários da inteligência dos EUA alegaram que o príncipe herdeiro havia proibido a própria mãe de encontrar o pai, que é rei do país e sofre de Alzheimer, por medo que ela atrapalhasse a sua consolidação no poder.

Mohamed impediu sua mãe, a princesa Fahda bint Falah Al Hathleen, de entrar em contato com o rei Salman por mais de dois anos e pode até tê-la mantido em prisão domiciliar em um palácio real, informou a NBC News.

Joias para a família Bolsonaro

O governo do ex-presidente Jair Bolsonaro tentou entrar no Brasil ilegalmente com joias avaliadas em aproximadamente R$ 16,5 milhões em outubro de 2021. As pedras preciosas seriam um presente da Arábia Saudita à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

O episódio, revelado pelo jornal Estado de S. Paulo em março deste ano envolveu várias tentativas subsequentes de liberar os itens da alfândega no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, onde o material acabou apreendido por não ter sido devidamente declarado.

Um conjunto com colar, anel, relógio e um par de brincos de diamante estava na mochila de um militar, assessor do então ministro Bento Albuquerque. O titular das Minas e Energia voltava, na ocasião, de uma viagem pelo Oriente Médio. Ainda de acordo com o jornal, ao saber que as joias haviam sido apreendidas, Albuquerque retornou à área da alfândega e tentou, ele próprio, retirar os itens, informando que se trataria de um presente pessoal para Michelle.

A cena foi registrada pelas câmeras de segurança do local. A legislação brasileira impõe, contudo, que é obrigatório declarar qualquer bem avaliado em mais de mil dólares (pouco mais de R$ 5 mil) na chegada ao país.