Internacional
Relação econômica com Argentina faz Brasil e empresários seguirem de perto eleições deste domingo
A Argentina é o terceiro maior destino de exportações brasileiras, enquanto o Brasil é o principal comprador de produtos argentinos
O segundo turno das eleições presidenciais na Argentina ocorre neste domingo, e a longa parceria comercial com o Brasil faz com que o pleito seja acompanhado de perto por empresários e especialistas na relação bilateral. Com uma mudança perceptível no tipo e quantidade de produtos escoados de um país para outro, em razão da crise cambial do governo de Buenos Aires, o peronista Sérgio Massa e o candidato de ultradireita Javier Milei terão desafios para fortalecer e aperfeiçoar os laços entre as duas nações.
Ruptura: Eleição de Milei na Argentina pode virar dor de cabeça para Lula?
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A Argentina é o terceiro maior destino de exportações brasileiras, enquanto o Brasil é o principal comprador de produtos argentinos. Com baixas reservas de dólar e em um momento de crise, os argentinos adotaram postura mais protecionista, o que prejudicou a exportação de produtos manufaturados brasileiros. Até mesmo um dos itens que tinha boa receptividade no mercado do país vizinho, o calçado, foi prejudicado por decisões políticas.
Contexto: Quem vencer na Argentina enfrentará grave crise econômica e social
Neste ano, em meio ao desequilíbrio da economia argentina e alterações na regulação, a soja passou a ser o produto mais exportado pelo Brasil, algo inédito na relação dos dois país. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, de janeiro a outubro, o Brasil exportou US$ 1,98 bilhão em soja, ante US$ 181 milhões no mesmo período de 2022.
O salto até fez crescer o volume das exportações totais do Brasil à Argentina — uma alta de 13,1% —, mas há o custo da baixa no setor manufaturados. Em 2022, cerca de 96% dos produtos embarcados eram manufaturados. Hoje, a participação é de 91%. Atrás da soja, aparece o setor de peças para automóveis, com US$ 1,47 bilhão em exportações.
Lula e China no último debate
No último debate antes das eleições, os dois candidatos à Presidência deram atenção ao tema da relação com Brasil. Massa, que atualmente é ministro da Economia, acusou o opositor antissistema de querer romper o diálogo com o país e com a China.
Massa argumentou que a medida terminaria em menos empregos para os argentinos e que "a política exterior não se pode ser regida por caprichos". Milei rebateu dizendo o adversário mentia, pontuando que o presidente "Alberto Fernández também não falava com [o ex-presidente Jair] Bolsonaro" e que o Mercosul está em uma rua sem saída.
Welber Barral, consultor e ex-secretário de comércio exterior que está há seis meses na Argentina, explica que, apesar de no discurso de campanha o candidato de ultradireita dizer que romperá as relações comerciais com "países comunistas", como descreve China e Brasil, as afirmações devem ser encaradas como bravatas. E que, na prática, no segundo turno Milei já passou a adotar um posicionamento mais ao centro do espectro político.
— É uma campanha muito longa. Ele já moderou um pouco mais o discurso. Ao mesmo tempo, a Diana Mondino, que é candidata a chanceler, já falou que não é bem assim, que no nível comercial as empresas vão ter relação com o Brasil. Então, apesar de imprevisível, é claro que um eventual governo Milei não romperia com o Brasil e China, que são os principais parceiros comerciais da Argentina — disse ao GLOBO.
Vitória de Milei 'preocupa'
Em entrevista à agência Reuters concedida no mês de outubro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que uma eventual eleição de Milei, com propostas que englobam um rompimento com o Brasil, "preocupa".
— É natural que eu esteja [preocupado]. Uma pessoa que tem como uma bandeira romper com o Brasil, uma relação construída ao longo de séculos, preocupa. É natural isso. Preocuparia qualquer um... Porque em geral nas relações internacionais você não ideologiza a relação — disse Haddad.
Como terceiro maior parceiro comercial, o Brasil destinada à Argentina 5,3% do total de suas exportações.
Outra proposta do candidato de ultradireita é a de dolarização da economia argentina para enfrentar a delicada situação econômica na qual o país se encontra, com uma inflação de mais de 140%.
Entenda: Milei quer dolarizar a economia argentina. O que isso significa e o que muda para o Brasil?
Especialistas não acreditam em uma implementação dessa proposta, e classificam a ideia como "bravata" de campanha. Welber Barral observa que até o próprio candidato tem falado que o processo de dolarização não ocorreria de um dia para o outro.
— Na verdade, vários economistas argentinos têm dito que não é tão simples assim, que o processo da dolarização demandaria do país ter reservas que não existem hoje. Então, seria uma transição muito longa e evidentemente colocaria a Argentina na situação do Equador, um país que não tem autonomia sobre sua política monetária, dependeria fundamentalmente dos EUA — aponta o especialista.
Economista-chefe do IIF, entidade global que representa os bancos, o economista alemão Robin Brooks disse, na rede social "X", antigo Twitter, que a Argentina, que poderia ser uma "potência agrícola como o Brasil", não precisa de "solução milagrosa", como a dolarização.
"A Argentina deveria ser uma potência agrícola como o Brasil, mas, em vez disso, não está em lugar nenhum do mapa. A causa disso é a crônica má condução econômica. Somente reformas lentas e graduais (e dolorosas) vão consertar isso, não a dolarização. A Argentina precisa de realismo, não de uma cura milagrosa", escreveu o ex-economista do FMI no último dia 17.
Em janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governo argentino chegaram a debater a possibilidade de criação de uma moeda exclusiva para a troca de produtos entre os dos países. O plano, porém, não saiu do papel e enfrenta obstáculos técnicos e políticos.
Outros fatores internos da Argentina, além da crise cambial, também causam preocupação para o Brasil. O país vizinho acumula uma inflação de cerca de 120% nos últimos 12 meses e pouco mais de 40% da população chegaram à linha da pobreza.
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