Internacional
Eleição de Milei na Argentina pode virar dor de cabeça para Lula? Entenda
Candidato já chamou presidente brasileiro de 'corrupto' e prometeu não fazer negócios com ele, mas realidade econômica pode forçar postura pragmática
A vitória de Javier Milei na eleição deste domingo, na Argentina, pode se tornar uma dor de cabeça para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Embora integrantes da equipe de Milei já tenham assegurado ao governo brasileiro, mais de uma vez, que as relações bilaterais continuarão sendo importantes, o candidato ultraliberal é considerado uma incógnita: os projetos econômicos e os negócios serão mantidos, mas há um cenário de imprevisibilidade sobre seu comportamento na presidência do país vizinho.
Segundo resumiu um interlocutor ligado ao Itamaraty, hoje não há mais como imaginar que o “agressivo” Milei candidato, que tem um discurso hostil ao presidente Lula, passará a ter um perfil mais amigável ao assumir a presidência. O motivo é que a história recente deixou lições, com a eleição do republicano Donald Trump, nos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro, no Brasil. Trump e Bolsonaro não mudaram depois de eleitos.
— Javier Milei poderá se tornar uma dor de cabeça para Lula caso vença as eleições, porque fez várias críticas ao presidente brasileiro ao longo da campanha eleitoral. Nos últimos dias, chamou Lula de “corrupto” e “comunista”. Em outras ocasiões, Milei acusou Lula de ser um líder “totalitário” e de perseguir a oposição, dizendo que não fará negócios com o presidente brasileiro — ressalta Flavia Loss, doutora em Relações Internacionais e professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
O candidato do partido A Liberdade Avança criticou o Mercosul e disse que romperia os laços com o bloco. Também questionou a recente entrada da Argentina no Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
— Devemos ter em conta que, uma vez na presidência, ele terá que se adequar às instituições e a realidade da Argentina. O Mercosul representa importante fatia do comércio exterior do país; a China, duramente criticada por Milei, é o seu maior parceiro comercial, seguida pelo Brasil; e os Brics pode ser uma importante fonte de empréstimos e financiamento para um país cujas reservas de dólares estão esgotadas. Além disso, Milei não contará com maioria no Congresso para implementar todas as medidas que deseja — afirma Loss.
Em sua opinião, a aproximação de Milei e Patricia Bullrich, candidata da coligação Juntos Pela Mudança (que representa a direita tradicional), após o primeiro turno das eleições, demonstrou que Milei sabe se adaptar às circunstâncias e moderar o radicalismo em nome de ganhos políticos.
Para Alexandre Peres, doutor em Direito Internacional e professor da Escola de Magistratura da Justiça Militar da União, caso Milei vença o peronista e atual ministro da Economia argentino, Sergio Massa, neste domingo, o governo brasileiro pode enfrentar a curto e médio prazos. Ele destaca o fato da Argentina figurar como uma grande parceira, não apenas no Mercosul, mas também na construção da estabilidade regional.
— Milei já disse abertamente que não deve procurar qualquer tipo de aproximação com o presidente Lula e seu governo, apesar de deixar claro que as relações econômicas e comerciais são realizadas por entes privados e que não se envolverá nestas questões — completa.
Se Milei é indecifrável neste momento, sua candidada a vice, Victoria Villarruel, merece um monitoramento à parte pelo governo brasileiro. Filha de militares e com um projeto político bem definido, Villarruel causou polêmica, nesta semana, quando declarou a uma emissora de televisão argentina que "só uma tirania salvaria o país", ao criticar Sergio Massa.
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