Internacional
Pragmatismo frio levou Massa à disputa do 2º turno na Argentina
Kirchnerista dissidente, mas dependente de Cristina para chegar ao poder, atual ministro da Economia não inspira confiança mesmo de aliados

Em 2015, quando foi pela primeira vez candidato à Presidência da Argentina — e ficou em terceiro lugar, com cerca de 20% dos votos —, o peronista Sergio Massa assegurou, em entrevista a um canal de TV local, que nunca mais se aliaria ao kirchnerismo. O apresentador Jorge Rial perguntou duas vezes, e Massa, que fora membro do Gabinete de Cristina Kirchner (2007-2015) e funcionário do governo de seu marido e antecessor, Néstor Kirchner (2003-2007), garantiu que a resposta era um não taxativo.
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Massa rompeu com o kirchnerismo em 2013 e liderou uma campanha para evitar o que ele, na época, chamou de “tentativa de ter uma Cristina eterna”. Sua cruzada era para acabar com o kirchnerismo, agora seu aliado central nas presidenciais de 2023, na sua segunda tentativa de conquistar o poder. A relação entre Massa e o movimento fundado pelos Kirchner diz tanto sobre o candidato quanto sobre o kirchnerismo que, desde que o ex-presidente morreu de um ataque cardíaco fulminante, é liderado por sua sucessora. Ambos são peronistas, e o peronismo é, essencialmente, pragmatismo na veia.
Sombra da vice
Cristina não aparece na campanha de Massa, mas atua nos bastidores. A mesma que, em áudios vazados em 2017 que foram parte de uma investigação judicial sobre grampeamento de celulares, disse a um de seus colaboradores que Massa era um “filho da puta”.
Nas mesmas gravações, a atual vice-presidente — que, segundo fontes peronistas, aceitou a candidatura presidencial de Massa a contragosto — diz acreditar que o candidato presidencial da aliança entre peronistas e kirchneristas União pela Pátria tem vínculos com o narcotráfico.
O também ministro da Economia, que acumula 147% de inflação nos últimos 12 meses, tem uma relação de amor e ódio com o kirchnerismo. Mas ele é, acima de tudo, um obcecado pelo poder. E, em nome dessa obsessão, selou um pacto com Cristina em 2019, integrou o governo de Alberto Fernández e traçou um plano para ser seu sucessor.
Até agora, o plano foi bem-sucedido. O candidato, que iniciou sua carreira política num partido de direita, a extinta União do Centro Democrático (UCEDE), tornou-se conhecido como prefeito do município de Tigre, na Grande Buenos Aires, e com seus 20% obtidos em 2015 virou um dirigente de peso dentro do peronismo, sempre tendo como meta ser presidente. O fracasso com seu partido Frente Renovador o obrigou a renegociar uma aliança com o kirchnerismo, do qual tenta mostrar-se independente, mas não é.
No próximo mandato, Cristina controlará a maior parte da bancada de peronistas e kirchneristas na Câmara e no Senado, e terá, acima de tudo, o comando da província de Buenos Aires, a mais importante do país, já que o governador Axel Kicillof, seu discípulo político, foi reeleito.
Animal político
Massa é um animal político e admite apenas que Cristina será “a líder do espaço mais expressivo” dentro do peronismo. Sem se identificar, um de seus colaboradores explica o pensamento do candidato: “Massa sabe que não pode se descolar de Cristina agora, porque precisa de seus votos. Quando se trata de poder, faz o que tiver de ser feito. Depois ele pensa em como continuar.”
O estilo do candidato assusta peronistas e adversários. Assusta, também, empresários à frente de grandes grupos econômicos com operações no país. Um desses empresários admitiu que “Massa é considerado por muitos um mentiroso, cínico, uma pessoa capaz de qualquer coisa. Para muitos, pior do que foi Kirchner”. Na diretoria da multinacional onde trabalha há mais de 40 anos, a grande maioria pretendia votar pelo direitista radical Javier Milei.
Massa não inspira confiança, porque é um dirigente capaz de trair até mesmo o presidente de seu governo. Foi o que fez nesta eleição, antes de anunciar sua candidatura. Massa observou como Fernández promoveu a pré-candidatura de Daniel Scioli, atual embaixador da Argentina no Brasil, e Cristina impulsionou outros nomes.
Quando faltavam poucos dias para o prazo para a inscrição das pré-candidaturas para as primárias de agosto, Massa, que vinha dizendo que não sabia se seria candidato, segundo fontes peronistas, fez sua grande jogada: disse que se não fosse o único candidato do governo, renunciaria ao comando do ministério.
E foi mais longe. Depois de convencer Fernández a desistir da pré-candidatura de Scioli, ambos disseram a Cristina que renunciariam a seus cargos se a vice não aceitasse sua candidatura. Cristina, segundo uma fonte peronista, ficou sem alternativa e cedeu.
Ao se tornar candidato do governo com base em ameaças, como confirmaram fontes que acompanharam todo o processo, o modus operandi de Massa é conhecido — e preocupa aliados e rivais.
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