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Influencer evangélico acusado de estuprar fiéis comemora soltura: 'a justiça foi feita'

Victor Bonato, de 27 anos, foi detido preventivamente após três fiéis do movimento Galpão o denunciarem por estupro e violação sexual mediante fraude

Agência O Globo - 17/11/2023
Influencer evangélico acusado de estuprar fiéis comemora soltura: 'a justiça foi feita'
Victor Bonato - Foto: Reprodução

O influenciador religioso Victor de Paula Gonçalves, de 27 anos, conhecido como Victor Bonato nas redes, comemorou a saída da prisão após 56 dias. O suspeito foi detido preventivamente após três fiéis do movimento Galpão o denunciarem por estupro e violação sexual mediante fraude. Em seu perfil, Victor escreveu: "a justiça foi feita".

O Juízo da 2ª Vara Criminal da Comarca Barueri, em São Paulo, concedeu liberdade para o influenciador após classificar os depoimentos das denunciantes como confusas, visto que em alguns trechos elas relatam que houve relação consensual, conforme divulgado pelas advogadas de Bonato, Graciele Queiroz e Samara Batista.

Todas as supostas vítimas eram fiéis, seguidoras do Galpão, espécie de igreja ou seita religiosa comandada por Bonato e pelo menos mais um sócio na área nobre de Alphaville. Os detalhes dos depoimentos dados pelas três mulheres – de 19, 20 e 24 anos – são muito parecidos e, se comprovados, indicam um padrão praticado pelo influencer. Os relatos são sensíveis. Em sua decisão, o juiz Fabio Calheiros do Nascimento inclusive ressalta o fato de as três terem características físicas semelhantes.

Agressões e terror psicológico

A primeira mulher a relatar o que teria vivido com Victor Bonato foi uma estudante de 19 anos. Ela contou à polícia que o influenciador sempre passou a impressão de ser um homem religioso e bem-intencionado, mas que a relação com ele começou a mudar a partir de junho, quando eles assistiam a um filme e ele passou a mão pelo corpo dela. Era apenas um primeiro indício do que poderia estar por vir. O relato é sensível e envolve violências física, sexual e psicológica. Tudo teria acontecido num intervalo de cinco dias.

Depois desse primeiro incidente, ela conta que Victor começou a procurá-la e, por mensagens, dizia estar interessado nela. Insistia para marcarem um encontro. Àquela altura, segundo ela, por ainda "acreditar que ele era um homem correto", acabou combinando de encontrá-lo em sua casa. Nesse dia, diz ter vivido o primeiro momento de violência. Eles se beijaram, deitados num colchão, e Víctor colocou a mão dela à força em seu pênis. Ela, então, ordenou que ele parasse. Os beijos continuaram e ele, em seguida, insistiu para que ela tirasse a blusa e ficasse apenas de sutiã. Ela também negou várias vezes, até acabar cedendo à vontade dele. Por fim, o influencer teria insistido para que eles transassem. Ela negou mais uma vez e disse que "não faria nada com ele".

Segundo a denunciante, após a negativa, Victor a imobilizou, segurando seus punhos e jogou o corpo por cima dela, impedindo que ela se movimentasse. Disse que pediu para que ele parasse e a reação dele teria sido de afirmar que "já que ela não queria ter relações com ele, descreveria todos os atos sexuais que gostaria de praticar com ela".

Sexo oral forçado

O segundo relato é de uma jovem de 20 anos, também estudante. As denúncias são muito parecidas e envolvem supostos abusos e muita insistência por parte do acusado. Ela contou aos policiais que, no dia 27 de julho, foi até a casa de Victor, quando o influencer teria começado a passar mão pelo seu corpo. Ela ficou irritada com a situação e diz ter ido embora.

Dois dias depois, acabou voltando à casa de Victor e, consensualmente, trocou beijos com ele. A situação mudou quando ele, assim como havia feito antes com a primeira denunciante, resolveu pegar a mão dela e colocar à força em seu pênis. Em seu depoimento, a jovem diz que toda vez que tirava a mão ele ia e colocava de novo, por várias vezes, mesmo enquanto ela pedia para que ele parasse. Depois, por cerca de 30 minutos ela conta que ele teria insistido para que ela fizesse sexo oral nele, até que ela se cansou daquela situação e foi embora.

Empresária diz ter sido esganada e violentada

A terceira denúncia foi feita por uma mulher de 24 anos, empresária. O relato, mais uma vez, é muito parecido com o das outras supostas vítimas. A mulher disse na delegacia que Victor, na casa dele, também passou a mão pelo seu corpo sem que ela permitisse e acrescentou que ele utilizava de vários argumentos e da sua influência como um líder religioso para tentar fazer com que ela tivesse relações sexuais com ele, até que acabou consentindo.

Ela narra que no dia 22 de julho ia embora de um restaurante com Victor e uma amiga – também denunciante no processo –, e os três foram para a casa dela. Chegando lá, ele esperou o momento em que os dois ficaram a sós e tirou a própria roupa para esperá-la e surpreende-la. Ela disse que o influenciador insistiu para que eles transassem e que, neste momento, acabou segurando-a pela cabeça, forçando que ela fizesse sexo oral nele sem o seu consentimento.

Confissão e pedido de desculpas

Antes de ser preso, Victor postou um vídeo nas redes sociais no qual diz ter "cometido pecados" e caído em "imoralidade e iniquidade". "Fui contrário a tudo que eu prego e desagradei o coração de Deus. Falhei com Deus, com minha família e em todos que confiam em mim", afirma na gravação que ainda diz estar envergonhado e arrependido pelo que fez.

E segue "Eu magoei pessoas, feri pessoas e trouxe vergonha para um ministério lindo que é o Galpão. Estou vindo publicamente me confessar porque decidi deixar isso pra trás e eu quero construir certo, na luz, a partir de agora. Vim confessar pra que fique claro que errei e falhei, não o Galpão”. Na sequência, sem dar detalhes, refere-se "às meninas". "Quero pedir perdão às meninas com quem eu falhei, que eu defraudei e magoei, com quem eu não tive atitude de homem”.

A advogada de Victor, Samara Batista Santos, afirmou por meio de nota que "é importante ressaltar que meu cliente nega veementemente as alegações contra ele, embora ainda não tenha sido realizado o interrogatório, em sede policial, com a sua versão", diz o documento.