Internacional
Veja: Israel divulga mais vídeos de hospitais em Gaza; cresce pressão para que prove alegação de comando do Hamas
Batalha de narrativa se intensifica enquanto militares israelenses correm contra o tempo para comprovar que subsolo de instalações hospitalares são usada como base pelo grupo terrorista
Em meio a uma batalha de narrativa que tem ocupado militares israelenses tanto quanto o conflito bélico na Faixa de Gaza, as Forças Armadas do país divulgaram um novo vídeo do interior do Hospital al-Shifa, o maior do enclave palestino, que o Estado judeu diz encobrir centros de comando do Hamas. Apesar de mostrar armas encontradas pelos soldados junto a equipamentos médicos, em um indício favorável às manifestações israelenses sobre o uso das instalações civis pelo grupo terrorista, as imagens não comprovam as alegações mais graves feitas por Israel — embora fontes militares tenham afirmado que imagens relacionadas a reféns foram encontradas em computadores apreendidos durante a operação.
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O vídeo, aparentemente sem cortes, mostra Jonathan Conricus, um dos porta-vozes militares israelenses mais ativos desde o começo do conflito, adentrando um prédio identificado pelas Forças Armadas como uma central de exames de imagem do al-Shifa. O militar caminha por cerca de seis minutos por salas anteriormente revistadas por soldados israelenses e mostra equipamentos bélicos encontrados nos locais, incluindo fuzis AK-47, de fabricação russa, e granadas.
— Essas armas não têm nenhum motivo de estar dentro de um hospital. O único motivo para estarem aqui é porque o Hamas as colocou aqui e porque eles usam este local, assim como muitos outros hospitais, ambulâncias e instalações sensíveis na Faixa de Gaza para seus propósitos militares — afirma o porta-voz em determinado momento do vídeo, ao mostrar armas que teriam sido recolhidas em um armário em um corredor do al-Shifa.
A medida que a campanha militar terrestre se aproximava dos hospitais de Gaza, sobretudo nos últimos dias, as forças israelenses intensificaram a produção de vídeos para comprovar a tese de que as instalações civis, protegidas pelo direito internacional humanitário, seriam alvos legítimos de sua ofensiva militar, por serem usados pelo Hamas como base para suas operações terroristas. Israel argumenta que uma rede de túneis estaria ligado a essas infraestruturas críticas, escondendo militantes palestinos, centros de comando, bases de lançamento de foguetes e até mesmo os reféns capturados no atentado terrorista de 7 de outubro.
Em 27 de outubro, antes da invasão terrestre, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, chegou a compartilhar um vídeo com uma reprodução gráfica do que seria a infraestrutura subterrânea abaixo do complexo hospitalar al-Shifa. A produção audiovisual, que retrata visualmente as informações colhidas pela inteligência israelense, mostra salas de comando, depósito de armas e uma complexa rede de túneis interligando cada instalação. Fontes americanas e europeias dizem ter informações próprias de inteligência no mesmo sentido.
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Na prática, porém, os vídeos divulgados pelos militares no terreno não comprovaram as alegações mais graves até o momento. Apesar das armas reveladas por Conricus no vídeo divulgado na noite de quarta-feira, nenhum túnel com a complexidade alegada por Israel foi apresentado. As Forças Armadas dizem que cada piso do hospital está sendo registrado em vídeo. Nenhum centro de comando foi desmantelado. Nenhum refém foi libertado.
O Exército disse que continuava ativo nas buscas por evidências para apresentar ao público nesta quinta-feira. Horas depois, uma autoridade militar afirmou que "imagens relacionadas com reféns" capturados foram encontradas em computadores apreendidos durante a operação militar no al-Shifa. Ainda de acordo com a mesma fonte, as imagens foram encontradas em equipamentos "que pertencem ao Hamas".
Em uma gravação anterior, em que outro porta-voz do Exército, Daniel Hagari, aparece em frente às câmeras, um porão do hospital infantil al-Rantisi foi apontado como possível cativeiro de reféns. Nas imagens, o oficial aponta para um papel na parede, que diz ser uma espécie de registro dos terroristas que frequentavam o local. Posteriormente, comprovou-se que a folha não continha nenhum nome próprio, e que as palavras em árabe eram dias da semana.
O Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, afirmou que a suposta evidência de atividade terrorista apontada por Israel não seria nada além de um calendário de horários para organizar a atividade no hospital.
As autoridades palestinas, no entanto, não explicaram o porquê de o calendário começar na data 7 de outubro, dia do ataque terrorista contra Israel, ou a razão de haver um título no topo, escrito "Operação Dilúvio de al-Aqsa", como o Hamas se refere ao atentado. Apesar das contestações, o ministério não negou que as imagens foram filmadas no hospital.
Controle de narrativa
O esforço israelense para manter a legitimidade de suas ações militares vem em um momento no qual o apoio ao país perde força mesmo entre aliados de primeira ordem, como os EUA, que condenaram as ações direcionadas aos hospitais de Gaza. A ONU se declarou 'horrorizada' com a operação israelense dentro do Hospital al-Shifa, na quarta-feira, mesmo dia em que o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução pedindo a libertação de reféns e 'pausas humanitárias'.
Antes mesmo da resolução aprovada, o impacto da pressão internacional já fazia parte do cálculo estratégico israelense. O ministro das Relações Exteriores, Eli Cohen, afirmou na segunda-feira que o país ainda dispõe de "duas ou três semanas" até que a pressão atinja um nível considerável, mas que sua pasta estaria trabalhando para "ampliar a janela de legitimidade" das atividades militares.
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As pressões, contudo, aumentam a cada momento. O Ministério da Saúde de Gaza afirmou, nesta quinta-feira, que um bombardeio israelense destruiu um departamento inteiro do Hospital al-Shifa, e danificou outros dois. As autoridades palestinas apontam que centenas de pacientes, profissionais de saúde e deslocados pelo conflito se abrigam no local. Um dos alvos teria sido o próprio serviço de radiologia, de acordo com o Hamas, onde o vídeo de Conricus foi gravado. Outras áreas afetadas seriam os setores de tratamento de queimados e de pacientes em hemodiálise.
Com a operação no hospital, analistas já apontam o desgaste para Israel como algo inevitável. O Exército tem tentado combater essa frente de pressão com publicações mostrando ações do governo para minimizar os impactos do conflito aos civis — uma narrativa também enfraquecida.
Em um texto publicado no The New York Times, na segunda-feira, o vencedor do prêmio Pullitzer de 2021, David Leonhardt, afirmou que provavelmente seria impossível eliminar o Hamas e conter os danos aos civis.
"A batalha pelo Hospital Al-Shifa, em Gaza, realça uma tensão que muitas vezes não é mencionada no debate sobre a guerra entre Israel e o Hamas: pode não haver forma de Israel minimizar as baixas civis e eliminar o Hamas", escreveu.
A publicação norte-americana revelou, ainda na segunda-feira, ter reunido evidências de que ao menos três projéteis que atingiram o Hospital al-Shifa na última semana parecem ter sido munições israelenses, de acordo com fotos de fragmentos de armas coletados e verificados pelo The New York Times e analisados por especialistas.
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