Internacional
Reservas de urânio enriquecido estão 22 vezes acima do limite, diz agência nuclear da ONU
Relatório consultado pela AFP confirma que país expandiu ritmo de enriquecimento de material nuclear após o virtual fim do acordo firmado em 2015
Um relatório da Agência Nuclear de Energia Atômica (AIEA), consultado pela AFP nesta quarta-feira, aponta que o Irã armazenou um volume de urânio enriquecido cerca de 22 vezes maior do que o limite estabelecido por um acordo internacional firmado em 2015 mas que, hoje, é um texto virtualmente moribundo.
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Segundo o informe, o Irã tinha, no dia 28 de outubro, 4.486,8 kg de urânio enriquecido estocados dentro do país, contra 3.795,5 kg em meados de agosto. Pelo acordo de 2015, o limite permitido era de 202,8 kg. Em um outro relatório, obtido pela agência Reuters, também nesta quarta-feira, a agência ligada à ONU aponta que o volume de urânio enriquecido a 60% de pureza chegou a 128,3 kg em outubro, 6,7 kg a mais do que o relatado em setembro — esse volume está incluído no total de material nuclear enriquecido registrado pela AIEA.
Além da quantidade total de material nuclear, a agência da ONU vem mostrando preocupação com os avanços do país no grau de enriquecimento. No começo do ano, a AIEA apontou que partículas de urânio chegaram a ser enriquecidas a 83,7% de pureza na instalação de Fordo, grau próximo ao apontado como necessário para uso militar, de mais de 90%. Segundo definição da agência, são necessários no mínimo 42 kg de urânio enriquecido a 90% para uma bomba atômica.
Firmado em 2015 por Irã, EUA, Rússia, China, Alemanha, França, Reino Unido, além da União Europeia, o chamado Plano de Ação Conjunta Global foi considerado, na época, um importante marco no combate à proliferação nuclear. Pela proposta, o Irã concordava se submeter a limites sobre o grau de enriquecimento de urânio — de 3.67%, apenas na unidade de Natanz — e sobre o volume de material nuclear armazenado no país, de 202 kg. O excedente seria enviado para fora do país.
Em troca, os signatários concordavam em suspender as sanções relacionadas ao programa nuclear iraniano, e que, combinadas com outras medidas ligadas ao programa de armas e violações dos direitos humanos, impunham sérios problemas à economia local. O país também seria reintegrado aos mecanismos usuais de comércio exterior, permitindo uma integração plena à economia global. No primeiro ano de acordo, o PIB iraniano deu um salto de 8,8%, segundo o Banco Mundial.
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Contudo, a chegada de Donald Trump à Casa Branca significou o fim do acordo, com a retirada dos EUA do plano e a aplicação de sanções ainda mais duras, uma política conhecida como "pressão máxima", e que, apesar das promessas de campanha, foi mantida pelo democrata Joe Biden. O Irã, por sua vez, deixou aos poucos de cumprir suas obrigações, e a chegada do conservador Ebrahim Raisi à Presidência confirmou uma mudança de rota completa, com o plano hoje virtualmente abandonado por todos seus signatários.
Hoje, a AIEA ainda tenta evitar o pior cenário, que seria um Irã nuclear em um Oriente Médio cada vez mais instável, e busca obter acordos para garantir um nível mínimo de inspeções em instalações nucleares, incluindo com o acesso de inspetores e a instalação de câmeras, mas os avanços ocorrem a conta-gotas. No documento obtido pela AFP, a agência se queixa do veto recente imposto a alguns de seus representantes no Irã a unidades nucleares, medida chamada de "injustificada" e "sem precedentes". Teerã respondeu que está apenas "exercendo seus direitos".
Oficialmente, o Irã afirma que seu programa nuclear tem fins puramente pacíficos, e o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do país, com frequência cita uma "fatwa" (decreto religioso islâmico) que veta explicitamente o uso de armas de destruição em massa, incluindo as nucleares.
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