Internacional

'Correspondente' juvenil, Shahed Al-Banna quer lançar livro com a sua História e saída da Faixa de Gaza

Dia de repatriados tem vacinação e promessa de assistência federal. Grupos viajam hoje para destinos finais, a maior parte em SP

Agência O Globo - 15/11/2023
'Correspondente' juvenil, Shahed Al-Banna quer lançar livro com a sua História e saída da Faixa de Gaza
Shahed al-Banna - Foto: Reprodução

A jovem Shahed al-Banna, de 18 anos, que chegou no fim da noite de segunda-feira a Brasília, se tornou uma das principais vozes do grupo de brasileiro que aguardavam a autorização para deixar a Faixa de Gaza. Pelas redes sociais, fez relatos frequentes da situação no enclave em meio ao conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Agora, a palestina com cidadania brasileira planeja escrever um livro para contar sua História.

Desastre humano: Sob cerco de Israel, principal hospital de Gaza enterra 179 corpos, incluindo bebês, em valas comuns

Prematuros: Bebês recém-nascidos são retirados de incubadoras após corte de energia no maior hospital de Gaza

Com um colar do mapa da Palestina no pescoço e um broche do Brasil pendurado na camisa, Shahed concedeu entrevista a jornalistas em um alojamento na Base Aérea de Brasília um dia após chegar ao Brasil. O grupo de 32 repatriados foi recebido por autoridades brasileiras, entre elas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela conta estar mais tranquila, “sem bombas”.

— Estou pensando em escrever um diário ou livro assim, algo do tipo, para contar minha História — relata.

Shahed estava há um ano e meio em Gaza antes de o conflito começar. Ela morava no Brasil com a mãe, que teve câncer e morreu logo quando voltaram com a família para a Palestina.

Terrorismo ou crime de guerra: Entenda por que fala de Lula sobre ações de Israel em Gaza é alvo de críticas

Para a jovem, a retirada de seus entes queridos da zona de conflito entre Israel e Hamas é sua maior prioridade.

— O mais importante é conseguir retirar o resto dos brasileiros que ainda estão Faixa de Gaza. O resto da minha família também, os familiares de todos que estão lá ainda, para a gente poder ficar mais calmo, se sentir mais feliz e conseguir compartilhar a felicidade com quem a gente ama — diz Shahed, que traja um keffiyeh nos ombros, lenço xadrez preto e branco, símbolo associado à causa palestina.

Ainda assustada com a lembrança dos bombardeios, Shahed se incomoda com o barulho dos aviões que sobrevoam a Base Aérea de Brasília.

— Parece com o barulho do F-16 (jato militar usado em bombardeios). Eu odeio.

Em relação a uma possível volta para a Faixa de Gaza, ela diz que não existem motivos para retornar ao local.

— Voltar para onde? Não tenho mais casa, né? Está tudo destruído agora, não tem mais para onde ir, destruíram os sonhos das crianças — desabafou.

Parte do grupo ficará em abrigo

Sem família no Brasil, Shahed viajará com sua irmã para um abrigo em São Paulo na manhã de hoje, onde pelo menos 14 repatriados sem local para se hospedar ficarão alojados.

O medo dos aviões também afeta as crianças, disse Nilton Pereira Jr., diretor do Departamento de Atenção Hospitalar e Domiciliar e de Urgência do Ministério da Saúde:

— Todo avião que passa próximo gera um estresse nas crianças.

Invasão terrestre: Exército de Israel diz que tomou o controle de instituições do Hamas em Gaza

Para aliviar o som constante na Base Aérea, foi montada uma brinquedoteca. Pereira afirmou todos que precisaram passaram por exames receberam alta.

— Nós precisamos fazer o acompanhamento psicossocial dessas pessoas nos próximos 15 dias a 30 dias. Na sequência, faremos a articulação com os municípios onde eles estarão.

O grupo ficará no alojamento da Aeronáutica até hoje, quando os repatriados irão para seu destino final no Brasil. A maior parte, 26, vai para São Paulo, sendo 12 deles ao encontro de parentes.

Guga Chacra: Em guerra Hezbollah-Israel, Brasil precisará repatriar milhares do Líbano

Ontem o grupo de repatriados abrigados no alojamento da Base Aérea de Brasília recebeu vacinas, cuidados médicos, apoio psicológico e documentação necessária para estada no Brasil.

O grupo recebeu as vacinas do calendário padrão do Ministério da Saúde. Além disso, também foram produzidas as documentações necessárias para que a regularização migratória seja realizada e todos os repatriados possam ter acesso aos programas assistenciais do governo federal.

— Hoje (ontem) foram emitidos 10 CPFs para que as pessoas possam ser inseridas nos programas de assistência do governo federal — disse o Secretário Nacional de Justiça, Augusto de Arruda Botelho.

Sete crianças que chegaram com amidalite e desnutrição e uma gestante passaram pelo hospital da Força Aérea Brasileira e foram liberadas ainda na madrugada.

Entre o grupo que veio de Gaza está Hasan Habee. Durante o dia começaram a circular nas redes sociais postagens radicais dele em 2015 contra Israel. Hasan falaria com a imprensa ontem, mas acabou ficando fora da conversa. Numa das postagens, ele escreve: “Não queremos violência, mas acho que esse é o momento certo para explodir ônibus em Israel”. Ao “Jornal Nacional”, ele disse que não se lembra do texto, mas que, se postou, foi em momento de raiva e que é contra a violência. Disse que é a favor da Faixa de Gaza e da solução de dois Estados.

O governo disse que vai continuar trabalhando para localizar outros brasileiros que estejam em Gaza e queiram retornar.