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Israel realiza operação dentro do hospital al-Shifa, em Gaza, afirmam militares

Forças Armadas do país dizem que soldados entraram em 'parte determinada' do complexo, e dizem ter 'feito esforços' para retirar civis do local

Agência O Globo - 15/11/2023
Israel realiza operação dentro do  hospital al-Shifa, em Gaza, afirmam militares
israel - Foto: Reprodução

As Forças Armadas de Israel confirmaram na noite desta terça-feira ter iniciado uma operação terrestre em uma área do hospital al-Shifa, o maior da Faixa de Gaza e que está no centro de uma troca de acusações entre israelenses e o grupo Hamas, acusado de usar o local como uma base operacional para ataques armados.

"Neste momento, as forças das FDI [Forças de Defesa de Israel, nome usado no país para as Forças Armadas] estão operando contra a organização terrorista Hamas em uma determinada parte do hospital Shifa. A operação é baseada em informações de inteligência e necessidade operacional", diz a publicação, feita no X (antigo Twitter). "A ação não teve como objetivo prejudicar os pacientes, a equipe médica e os cidadãos internados no hospital. A operação foi precedida por um esforço para evacuar o hospital dos doentes e desabrigados e até foi aberta uma passagem especial. A direção do hospital foi informada com antecedência sobre a entrada no complexo."

Minutos antes do anúncio israelense, representantes do Ministério da Saúde de Gaza disseram terem sido avisados de que o local seria invadido pelas forças terrestres.

— [Eles] não especificaram se entrariam no complexo. Mas disseram que, em alguns minutos, atacariam o local. Não sabemos como será o ataque ou qual mecanismo será usado, e também não sabemos as intenções do ataque — disse à Al Jazeera Ashraf al-Qidra, porta-voz do ministério. Ele também disse que havia entrado em contato com a Cruz Vermelha Internacional após o alerta.

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Não há detalhes sobre a extensão da incursão terrestre, tampouco se há combates dentro do complexo hospitalar, onde estão milhares de pacientes, profissionais da saúde e civis que buscaram ali refúgio dos bombardeios contra a Cidade de Gaza. No comunicado, os militares israelenses disseram que "está prevista a transferência de incubadoras, equipamentos médicos e alimentos para bebês para o hospital". Segundo Ahmed Mokhallalati, um médico do hospital que conversou com a Al Jazeera, há 650 pacientes, sendo que 100 em condição grave, além de 700 profissionais e mais de dois mil civis abrigados ali.

Desde o início do conflito, o hospital al-Shifa é tema de intensos debates por conta das acusações feitas por Israel de que o local também seria uma "base militar" do Hamas, utilizando a proteção garantida a instalações médicas pelas leis internacionais que regem conflitos armados, uma acusação corroborada pelos Estados Unidos. Contudo, os bombardeios contra os arredores e a situação humanitária cada vez mais crítica, com profissionais trabalhando sem medicamentos e até cirurgias sendo realizadas no chão, provocaram críticas vindas de governos de todo o mundo e de organismos internacionais.

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Na segunda-feira, contudo, Israel elevou o tom das declarações sobre o uso do hospital pelo Hamas, e na terça, um porta-voz militar disse que o local poderia "perder a proteção sob a lei internacional", uma declaração imediatamente contestada por especialistas em Direito Internacional.

— Nas últimas semanas, frisamos várias v ezes que, por conta do uso dos hospitais pelo Hamas para fins militares, eles perderiam sua proteção especial sob as leis internacionais — disse o porta-voz, Daniel Hagari, em uma coletiva de imprensa. — Seremos forçados a operar de maneira focada e cuidadosa contra a infraestrutura do Hamas nos hospitais. Pedimos aos combatentes do Hamas que estão escondidos nos hospitais que se rendam, para que não ponham a vida daqueles que estão nos hospitais em perigo.

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Também nesta terça-feira, antes das declarações de Hagari, a ONG Human Rights Watch divulgou relatório afirmando que "os repetidos e aparentemente ilegais ataques de Israel contra instalações militares, profissionais e veículos estão destruindo o sistema de saúde de Gaza, e deveriam ser investigados como crimes de guerra". O texto pede ainda que Israel suspenda os ataques contra hospitais, e defende que a Comissão Internacional Independente de Investigação no Território Palestino Ocupado, além do Tribunal Penal Internacional, analisem as denúncias.